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  • Foto do escritorJoão Pais

Trilho dos moinhos (PR1 de Paredes)

Atualizado: 30 de mai. de 2023


Este percurso inserido no território das Serras do Porto, leva-nos a conhecer as bonitas margens do rio Sousa e os seus moinhos, mas antes leva-nos a percorrer caminhos florestais por entre eucaliptos. Para além dos moinhos, vamos ainda passar pela Torre do Castelo de Aguiar do Sousa, importante construção militar na idade média.


Inserido em território do Parque das Serras do Porto, este PR1 de Paredes é um trilho circular com cerca de seis quilómetros e faz parte de um conjunto de trilhos que têm como ponto comum o lugar do Salto, inseridos no território do Parque das Serras do Porto.

O Parque das Serras do Porto é uma zona intermunicipal de paisagem protegida criada nos concelhos de Gondomar, Paredes e Valongo que visa a promoção ambiental, a valorização da natureza e da vida ao ar livre. Um espaço “criado” para se conhecer, proteger e conservar a Natureza, bem como valorizar a biodiversidade e os recursos geológicos da região. Este é um espaço que muito pode dar à região do Grande Porto, quer paisagisticamente, quer no que respeita à fauna e flora, mas que ainda tem muito para ser trabalhado.

Rio Sousa e a "Boca do Inferno"
Rio Sousa e a "Boca do Inferno"

O lugar do Salto, vulgarmente conhecido como Senhora do Salto por ali existir uma capela, é um local de grande beleza onde o rio Sousa atravessa uma maravilhosa e assustadora garganta – conhecida como “Boca do Inferno” – entre as serras de Pias e de Santa Iria.

O PR1 partilha a sua parte inicial com o PR2 e um bom trecho com o PR9. Este trilho leva-nos em busca de antigos moinhos nas margens do rio Sousa. E leva-nos a procurar muito...

Começamos o trilho com uma subida íngreme por detrás da capela da Senhora do Salto. Vamos subir a serra até atingirmos o nível do tabuleiro da ponte da CREP (A41), mamarracho que veio desfigurar a beleza e a magia deste vale. Subimos por um estradão de terra rodeado por (muitos) eucaliptos. São cerca de mil metros sempre a subir para depois continuarmos, caminho florestal fora, agora a poucos metros da auto-estrada, sempre com muitos eucaliptos. Depois começamos a descer até às primeiras habitações de Senande. Aqui, deixamos de ter tantos eucaliptos e passamos a ter alguns terrenos de cultivo. Terminado o caminho florestal, seguimos por uma estrada alcatroada que serve de acesso a estas habitações mais isoladas. De seguida vamos entrar num caminho rural, entre terrenos de cultivo, com erva bastante alta que não nos permite ver onde pomos os pés. A bicharada que se afaste para não ser calcada... Depois continuamos por novo caminho florestal que nos há-de conduzir à estrada (N319-2), um pouco antes da ponte sobre o rio Sousa. Fizemos 3100 metros sem qualquer ponto de interesse, praticamente sempre no meio de eucaliptos.

Ao lado da ponte sobre o Sousa existe um moinho
Ao lado da ponte sobre o Sousa existe um moinho

Vamos fazer um pequeno troço (cerca de 500 metros) pela estrada de acesso à Senhora do Salto que requerem alguma atenção. A via não é muito movimentada, no entanto é bastante estreita e apresenta curvas cegas. Convém estar atento aos carros e motos que circulam por aqui. Logo a seguir à ponte, apesar de não vir mencionado na informação sobre o percurso (julgo que é por ser propriedade privada), faça um pequeno desvio à direita, até à margem do Sousa, onde pode observar-se, do outro lado, uma mini-hídrica. Aqui vamos encontrar um pequeno local muito agradável (embora a necessitar de alguma manutenção) com um açude e um velho moinho, ao que parece, ainda em funcionamento. Faça umas fotos e retempere as forças.

Torre do Castelo de Aguiar do Sousa Regresse à estrada para, logo mais acima, fazer novo desvio para ver a Torre do Castelo de Aguiar do Sousa.

Aguiar de Sousa teve um papel muito importante na região, tendo sido um dos mais poderosos julgados Entre-Douro-e-Minho (século XIII), com um extenso território desde a cidade do Porto, até às proximidades de Penafiel. Aguiar do Sousa gozava ainda de considerável poderio e riqueza.

Torre do Castelo de Aguiar do Sousa
Torre do Castelo de Aguiar do Sousa

A Torre do Castelo de Aguiar de Sousa, ou o que resta dela, localiza-se numa elevação rochosa não muito alta, rodeada de floresta e de campos agrícolas, na margem direita do rio Sousa. Esta formação natural onde se situava o castelo está encaixada num meandro apertado do rio Sousa com vertentes quase verticais que lhe conferem condições naturais de defesa e de interesse estratégico.

O castelo terá sido construído no século X, do qual apenas restam vestígios da sua cerca e da torre de menagem (talvez dos finais do século XII). O antigo castelo fazia parte da rede de defesa do território, a que os reis Asturianos deram particular atenção, nos séculos IX e X. O castelo foi atacado pelo general muçulmano Almançor, em 995, aquando das suas incursões para Santiago de Compostela e terá sido abandonado nos finais do século XIII.

A Torre do Castelo de Aguiar do Sousa está classificada como Monumento de Interesse Público e foi integrada na Rota do Românico. Foi objecto de trabalhos de conservação e valorização (em 2013) e na área envolvente à Torre, foi encontrada uma necrópole da época medieval com sepulturas escavadas na rocha. Foram ainda encontrados vestígios arqueológicos das épocas romana e medieval.


Os moinhos

Moinhos de Aguiar do Sousa
Moinhos de Aguiar do Sousa

De regresso à estrada, vamos até um pouco mais acima para virar de novo à direita por um caminho de terra.

Seguimos agora por um caminho “paralelo” ao Sousa e em breve vamos começar a ouvir o som da forte corrente que o rio leva por esta altura. Infelizmente, não temos vista para o leito do rio devido à vegetação. Um pouco mais à frente, encontramos indicação que faltam 100 metros para os moinhos. Pela minha contagem, já fizemos mais de 4300 metros para chegar aos moinhos. Aqui vai encontrar dois velhos moinhos; um em ruínas e outro, recuperado e (aparentemente) a funcionar. Este é um local muito bonito onde o rio Sousa corre um pouco mais calmo, numa zona mais larga do rio, devido à construção de um dique. Este é um local bastante refrescante, onde apetece ficar o resto da tarde a contemplar a vista sobre o rio e sobre a paisagem envolvente. Existe, inclusivamente, uns troncos de árvores a servir de bancos.

Ao longo da margem do rio Sousa ainda é possível observar vários moinhos, tradicionalmente de construção em xisto e com coberturas em lousa. Normalmente têm dois pisos; o inferior por onde circula a água movimentando o sistema hidráulico e, no superior, onde estão as mós e onde se faz a moagem dos cereais. Alguns destes moinhos ainda se encontram em funcionamento. Seguimos caminho acima para, uns metros à frente, entrarmos numa cancela, com um aviso de que entrarmos numa zona vedada para recuperação de animais. É aqui que encontramos novo desvio para mais um moinho.

Moinho de Aguiar do Sousa
Moinho de Aguiar do Sousa

Aqui vamos encontrar um moinho recuperado (com um coberto) e um dique com uma grande altura. É um local lindo e de grande impacto visual, de onde se avista o início da estreita garganta que o Sousa atravessa. É a “Boca do Inferno”. Em tempos, durante o verão, quando as águas vão mais calmas, era possível alugar umas “gaivotas” logo a seguir à Senhora do Salto, atravessar este estreito e vir desfrutar desta magnífica maravilha natural. Penso que isso terá acabado. É altura de regressar ao caminho e continuar a subir até encontrarmos uma nova cancela. Saímos da zona de protecção animal sem avistar qualquer espécie. Subimos mais um pouco e chegamos ao miradouro com o busto do padre Joaquim Alves Correia, figura ilustre de Aguiar do Sousa. Junto ao miradouro, se estiver tempo seco, pode chegar à beira da escarpa e observar a garganta por onde corre o Sousa. Não se aproxime demasiado da beira, pois a altura é grande e uma escorregadela poderá ser fatal.

"Boca do Inferno", a garganta apertada por onde corre o rio Sousa
"Boca do Inferno", a garganta apertada por onde corre o rio Sousa

Busto do Pe. Joaquim Alves Correia
Busto do Pe. Joaquim Alves Correia

O padre Joaquim Alves Correia (1886-1951), era natural do lugar da Sarnada, Aguiar do Sousa. Para além de sacerdote, foi filósofo, jornalista e escritor. Foi missionário na Nigéria. Distinguiu-se como resistente anti-fascista, tendo sido um dos maiores nomes da oposição ao Estado Novo.

Reconhecido como um dos pais da democracia portuguesa, foi opositor ao regime fascista do Estado Novo. Era um defensor dos mais pobres, da liberdade religiosa, do direito ao trabalho e à participação activa na vida política e cultural. Foi contra os totalitarismos de direita e de esquerda.

Distinguiu-se pela sua mentalidade progressista e alertou para a emancipação e auto-determinação dos povos das antigas colónias portuguesas, o que não agradou ao regime de Salazar. Para fugir às perseguições do regime, exilou-se em Pittsburgh, nos Estados Unidos da América, onde foi professor na universidade e onde viria a falecer em 1951.

Em 1980, foi agraciado, a título póstumo, com o grau de Grande-Oficial da Ordem da Liberdade.

A pós o miradouro com vista para a capela da Senhora do Salto e para o rio Sousa, regressamos à estrada. Vamos fazer cerca de 300 metros no alcatrão, onde volta a ser necessário ter algum cuidado com os automóveis, pois as bermas estão "impedidas” por rails de protecção. Um pouco mais à frente seguimos por um caminho, à direita, que nos há-de levar de regresso ao lugar do Salto, junto à zona de estacionamento.

Senhora do Salto
Senhora do Salto

Apesar do final deste PR1 ser muito interessante e de grande beleza, mais de metade do seu trajecto é realizado no meio de eucaliptos, sem pontos de interesse em especial a não ser o de caminhar no meio da Natureza.

Considero um trilho pouco interessante, já que a zona dos moinhos é facilmente acessível através de uma pequena caminhada, se se deixar o carro junto à Torre do Castelo de Aguiar do Sousa, e o Salto ser acessível por carro.

Para tornar o percurso mais atractivo pode juntar este PR1 com o PR2 (fazendo cerca de 10 ou 11 quilómetros no total). Se assim o entender, sugiro que comece pelo PR2 no sentido dos ponteiros do relógio, ou seja, comece pela margem do rio Sousa em direcção a Alvre, para depois, no regresso, lá em cima junto à ponte da CREP (A41), seguir este PR1 em direcção a Senande e aos moinhos, evitando assim a subida íngreme por detrás da capela da senhora do salto.


Características do trilho

PR1 PRD - Trilho dos Moinhos

Pontos de interesse: Senhora do Salto, rio Sousa, Torre do Castelo de Aguiar do Sousa, moinhos, garganta do Sousa.

Trilho circular de aproximadamente 6.000 metros (eu fiz 6.200 metros).

Ponto de partida e de chegada: Lugar do Salto

Duração: cerca de 2h00

Altitude máxima: 44 metros

Altitude mínima: 174 metros

Grau de dificuldade: baixo (2 numa escala 1-5)

Este trilho pode-se fazer todo o ano.


Recomendações

Tenha sempre em atenção a sua forma física. Tente informar-se com antecedência do estado do terreno e estude o trilho. Confirme o estado do tempo para o local para onde vai. Não se esqueça que na serra o tempo pode mudar de repente. Use roupas e calçado adequado (de acordo com a estação do ano). Caminhe sempre nos trilhos marcados, não só por causa do meio ambiente, mas também para sua protecção. Respeite os animais, eles estão no habitat deles, nós é que somos o intruso. Em dias de sol quente, use protector solar e leve água consigo. Principalmente de Inverno, tome atenção às horas para não ter que caminhar no escuro (leve sempre uma lanterna). Sempre que possível, não vá sozinho, avise sempre um familiar ou um amigo para onde vai. Não deixe lixo e, se vir algum, tente levá-lo consigo sempre que possível. Não acampe sem ser em locais próprios. Não faça barulho, respeite a natureza, relaxe e desfrute, vai ver que não há melhor actividade física.

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