Nunca tinha estado no centro de Portugal. Vou ser mais preciso: nunca tinha estado no centro geográfico do país. De passagem por perto de Vila de Rei, Linha de Terra resolveu fazer um pequeno desvio e foi realizar este desejo antigo.
O território que hoje conhecemos como Vila de Rei, de acordo com vestígios encontrados no território deste concelho, remontam a tempos bem longínquos. Os seus primeiros habitantes terão sido os Celtas e, mais tarde, os Romanos. No entanto, geologicamente, esta é uma zona muito mais antiga, pois existem fósseis e vestígios pré-históricos, sendo por isso provável que povos muito mais antigos por aqui tivessem passado.
Depois do Foral, atribuído por D. Dinis, em 1285, por aqui passaram a Ordem dos Templários e a Ordem de Cristo (século XIV), que povoaram, desenvolveram e defenderam esta região. Já no início do século XIX a região sofreu com as Invasões Francesas e, muito mais recentemente (1950), com a construção da barragem de Castelo do Bode, uma parte do concelho ficou submersa, tendo desaparecido oito povoações.
A primeira paragem seria no Centro Geodésico de Portugal, na serra da Melriça, bem perto do centro da vila de Vila de Rei. Para além da magnífica vista que dali se obtém, é o facto de estar no centro geográfico de Portugal que mais me entusiasma. Para mim, que faço caminhadas há vários anos, este marco tem um sentimento especial e era um desejo antigo visitar este local.
Com uma altitude de 592 metros, com tempo limpo, este local permite-nos ter uma vista magnífica sobre toda a região, destacando-se na linha do horizonte a serra da Lousã e a serra da Estrela, esta a quase 100 quilómetros de distância.
O centro geodésico de Portugal é marcado pelo Picoto da Melriça, um vértice em alvenaria com cerca de nove metros de altura, e quase dois séculos de idade, que foi uma das primeiras pirâmides
geodésicas do país, tendo estado na origem do sistema de coordenadas geográficas nacionais. É a partir deste ponto que se fazem as medições da cartografia nacional, reportando todas as restantes coordenadas a esta origem. Hoje, existem cerca de 8 000 vértices geodésicos espalhados pelo país, muitos dos quais construídos em locais quase inacessíveis.
Como nos explica um painel no Museu ali ao lado, «em 1788, Francisco António de Ciera foi encarregue pelo então ministro dos Negócios Estrageiros e da Guerra, D. Luís de Sousa Coutinho, para dirigir os trabalhos de Triangulação Geral do Reino, devendo-se a ele a escolha de Melriça em 1790. A pirâmide de Melriça que se encontra neste mesmo local, data de 1802, conforme o atesta a pedra existente na face leste, embora se saiba que, já desde 1793, existia aí uma sinalização mandada construir por Ciera. Devido às invasões Francesas, os trabalhos foram interrompidos em 1803». O vértice geodésico da Melriça é a origem do sistema de coordenadas geográficas adoptado em Portugal.
Ao lado do Picoto da Melriça encontra-se o Museu da Geodesia. Inaugurado em 2002, numa parceria entre o Instituto Geográfico Português e a Câmara Municipal de Vila de Rei, para além da homenagem aos geógrafos e cartógrafos portugueses, o Museu integra uma riquíssima e interessante colecção de instrumentos geodésicos bem como a sua evolução histórica. O pequeno Museu constitui um importante espaço de reflexão sobre o conhecimento científico e retracta um período importante da história científica e tecnológica portuguesa. O Museu está aberto todos os dias (excepto feriados) e é de entrada gratuita.
Após a visita ao Museu, como ainda tinha algum tempo livre, resolvi ir à procura do Penedo Furado, sobre o qual já havia lido alguma coisa, nomeadamente sobre o recente passadiço. Fiz uso do GPS e meti-me à estrada. Não estava muito longe.
Antes de lá chegar, ainda uma pequena paragem no miradouro com o mesmo nome para ver as vistas. O miradouro assenta num grande rochedo com uma enorme abertura que lhe dá o nome. Paisagens maravilhosas a perder de vista com a ribeira do Codes como pano de fundo.
Continuado, estrada abaixo, cheguei à Praia Fluvial do Penedo Furado. Um excelente espaço, muito harmonioso com muitas árvores. Um bocadinho do paraíso! Tempo para um mergulho…
A praia fluvial do Penedo Furado dispõe de um amplo parque de estacionamento, zona de piqueniques, bar, balneário, chuveiros e, durante o Verão, tem nadador salvador. A água cristalina não apresenta grande profundidade, pelo que é o local perfeito para ir com crianças (fica aqui um óptimo Hot Spot!...) Esta praia foi uma das finalistas do Concurso 7 Maravilhas - Praias de Portugal, em 2012, na categoria de praias de rio, sendo, por isso, um dos locais mais procurados e concorridos durante os meses de Verão. E, agora, durante todo o ano devido à construção dos Passadiços que nos levam até às quedas de água.
Recentemente, para permitir um melhor acesso entre a praia fluvial e a zona das quedas de água, a edilidade de Vila de Rei construiu os Passadiços do Penedo Furado. São 532 metros de Passadiços que nos conduzem da praia fluvial até às quedas de água.
Os Passadiços de madeira, a fazerem lembrar os Passadiços do Paiva, são muito harmoniosos e contemplam zonas de descanso com bancos e miradouros, terminado com uma ponte em madeira que nos leva até um pequeno trilho que nos conduz até à queda de água. O trilho é bastante acessível e o pequeno esforço vale bem a pena. São apenas alguns metros que nos levam a mais um magnífico espectáculo da natureza. Uma queda de água com alguns metros e uma excelente “piscina” para mais um banho…
Para os mais “aventureiros”, depois do banho, existe um trilho com umas escadas, serra acima, que nos conduzem até uma outra cascata.
A praia fluvial do Penedo Furado é “atravessada” por quatro percursos pedestres (dois PR’s e dois GR’s): o Trilho das Bufareiras, a Rota das Canhoeiras, a Grande Rotada Prata e do Ouro e a Grande Rota do Zêzere. O município de Vila de Rei está já a preparar uma extensão destes passadiços para que, no futuro, possam chegar aos restantes miradouros desta zona. O objectivo é criar um percurso circular abrangendo toda a área envolvente ao Penedo Furado.
Um local fantástico que nos seduz, cheio de recantos mágicos, numa envolvente natural de grande beleza e harmonia.
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