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  • Foto do escritor: João Pais
    João Pais
  • 5 de mai.
  • 13 min de leitura
Ammaia: a cidade romana com mais de dois mil anos

Existem em Portugal muitos vestígios da presença romana no nosso território. Alguns bem preservados, outros nem por isso e, ainda, alguns por desvendar. No nosso país, permanecem por escavar as ruínas de uma importante cidade romana com mais de dois mil anos. É uma cidade que se encontra soterrada e que (ainda) é pouco conhecida. Esta antiga cidade romana está localizada no Alentejo, bem perto da bonita vila de Marvão, no vale da Aramenha. A cidade romana de Ammaia foi fundada no século I d.C. e terá sido um grande centro cosmopolita, uma cidade satélite de Augusta Emerita (actual Mérida), capital da Lusitânia.



Durante o período da romanização da Península Ibérica, os Romanos também se estabeleceram no que é hoje o território de Portugal. Estiveram um pouco por todo o lado e, para além do importante progresso e modernização da altura, deixaram-nos muitas marcas da sua presença: pontes, estradas, aquedutos, teatros, templos, minas, barragens e ruínas de cidades. Algumas dessas construções encontram-se ainda imponentes, quase indiferentes à passagem de dois mil anos. Existem muitos vestígios espalhados um pouco por todo o território nacional que testemunham a importante influência do Império Romano e, outros, que ainda não conhecemos completamente.


Ammaia: a cidade romana com mais de 2000 anos
Rúinas Romanas de Ammaia

Os Romanos fundaram e desenvolveram muitas cidades e povoados. Uns foram evoluindo, crescendo e mantendo-se até aos nossos dias, outros desapareceram. Foi a caso da cidade romana de Ammaia que esteve “desaparecida” durante muitos séculos.

Ammaia foi uma importante cidade romana fundada no século I, durante o principado de Augusto e, habitada, provavelmente, até meados do século VI, como o testemunham os achados arqueológicos ali encontrados. Ammaia foi uma cidade pujante, cheia de vida, e devidamente planificada, que no seu período áureo teve mais de dois mil habitantes.

As Ruínas da Cidade Romana de Ammaia são o mais importante vestígio daquela época na região do Alto Alentejo. Ammaia é ainda uma cidade por escavar que, daqui a uns anos, será tão ou mais conhecida que as ruínas de Conímbriga.


Como chegar às Ruínas Romanas de Ammaia

A cidade romana de Ammaia é mais um destino que (ainda) não faz parte das principais rotas turísticas do nosso país, que eu adoro conhecer e faço questão de partilhar, aqui, convosco.

As ruínas da cidade romana de Ammaia localizam-se em pleno Alentejo, bem no coração do Parque Natural de São Mamede, na localidade de São Salvador da Aramenha, a meio caminho entre as maravilhosas vilas de Castelo de Vide e Marvão.

Por isso mesmo, qualquer que seja o seu ponto de origem, deve rumar a um destes dois destinos imperdíveis do nosso Alentejo. Marvão fica a cerca de sete quilómetros das Ruínas Romanas de Ammaia (pela N359-6, N359 e pela M521) com passagem pela localidade de Portagem (que tem uma bela praia fluvial para os dias de Verão… e onde deve visitar a torre medieval e a ponte quinhentista sobre o rio Sever que aproveitou o que restava de uma antiga ponte romana do século I). Castelo de Vide (que muito para ver) fica a cerca de oito quilómetros das Ruínas Romanas de Ammaia (pela N246-1, N359 e pela M521) com passagem por uma das vias mais belas do nosso país, a Alameda dos Freixos com cerca de um quilómetro de extensão por entre enormes Freixos (ver aqui).

Outra alternativa, é ter como referência a cidade de Portalegre que dista cerca de 15 quilómetros das Ruínas Romanas de Ammaia. Depois, é seguir pela N359 e pela M521.


A história de Ammaia

São muitos os registos arqueológicos que comprovam a ocupação humana do Alto Alentejo desde a pré-história. Mas a região onde se situam as ruínas da cidade romana de Ammaia só terá conhecido importantes transformações a partir do final do II milénio ou meados do I milénio antes de Cristo com a chegada à Península Ibérica dos povos Indo-europeus. Será mais ou menos dessa altura a chegada dos Lusitanos, que se estabeleceram entre o Douro e o Tejo, e dos Cónios que ocuparam parte do Alentejo e o Algarve.

Sensivelmente entre 500 e 250 a.C., dá-se a chegada de povos mais desenvolvidos como os Fenícios, os Gregos e os Cartagineses, que se estabelecem ao longo da costa sul da Península Ibérica e os anteriores povoados primitivos da Idade do Ferro foram substituídos por outros mais evoluídos, de maiores dimensões e fortificados.



Com as Invasões Romanas e a consequente derrota dos Cartagineses, a presença romana estabeleceu-se na Península Ibérica e, ao longo de dois séculos, os Romanos apoderam-se deste território. No que diz respeito à região de Ammaia, calcula-se que a ocupação romana tenha começado entre os anos 178 e 138 antes de Cristo.

Com os Romanos dá-se uma grande transformação na organização do território com a fundação de cidades romanas a partir do ano 27 a.C., criando-se assim a província da Lusitânia (uma área equivalente ao actual território português a sul do rio Douro, a Estremadura espanhola e parte da província de Salamanca) com capital em Emerita Augusta (actual Mérida). Ao longo deste período desenvolveram-se outros centros importantes como Pax Julia (Beja), Olissipo (Lisboa), Norba Caesarina (Cáceres) e Ebora Liberalitas Julia (Évora).

Com o domínio do Império Romano, a cidade de Ammaia foi construída de raiz, durante o século I, junto à Serra de São Mamede, e aproveitando a nova rede viária da Lusitânia, que ligava a capital Emerita Augusta e a costa atlântica. A localização da cidade, junto ao rio Sever era o ponto de passagem das rotas comerciais que ligavam cidades como Scallabis (Santarém), Ebora Liberalitas Julia (Évora), Olissipo (Lisboa) e Miróbriga (Santiago do Cacém) à capital da Lusitânia, Emerita Augusta (Mérida).

No início da nossa Era, Ammaia já era uma enorme cidade, florescendo a partir da fértil produção agrícola daquela zona. À semelhança de outras cidades romanas, Ammaia funcionava como centro urbano político-administrativo, era considerada uma urbe organizada que geria de forma eficaz o território circundante, e que explorava todos os seus recursos naturais. Este novo enquadramento foi potenciado com a sua elevação a Civitas, por volta do ano 44 ou 45 e pelo estatuto municipal (municipium) ainda no decorrer do século I.

Ammaia alcançou o seu esplendor nos trezentos anos seguintes com a urbe a crescer e a desenvolver-se. A cidade romana de Ammaia era o lugar central de um vasto território a sul do Tejo, que floresceu ao longo do século IV. Em termos arquitetónicos, a par de áreas residenciais a cidade possuía estruturas laborais e de manufactura, bem como instalações para banhos. A cidade era ricamente ornamentada com mármores, mosaicos e diversas estátuas. Para além da agricultura e da criação de gado (bovino, ovino e suíno), a exploração dos recursos minerais, principalmente ferro e chumbo, constituía outra actividade importante, sendo abundantes os vestígios da extração mineira no território de Ammaia. Também os minerais mais valiosos foram explorados, como o ouro (mais perto do Tejo) e o cristal de rocha, importante para o fabrico de vidro e de jóias.

A partir do século V, com o declínio do império romano e a invasão de povos germânicos (Suevos, Vândalos, Alanos), ditaram o progressivo abandono dos centros urbanos da Lusitânia. Ammaia parece ter perdido a sua importância e foi sendo gradualmente abandonada.


Ammaia
Ruínas Romanas de Ammaia

Calcula-se que, algures entre o século V e o século IX, a cidade de Ammaia tenha sofrido uma qualquer catástrofe, levando a que a cidade tivesse ficado subitamente soterrada, tendo contribuído para o seu abandono e consequente ruína.

A comprovar esta hipótese poderá estar o facto (curioso) de toda a zona envolvente à cidade e de muitos dos objectos que foram encontrados durante as escavações se encontrarem cobertos por uma cama de lama. Existe mesmo quem defenda a teoria de um eventual galgamento de uma barragem que servia de abastecimento de água à cidade. Os Romanos pensavam muito bem as cidades antes da sua construção e, tradicionalmente, não existia cidade romana que não tivesse muita água. Para eles pensarem um lugar para viver, implicava pensarem na água em primeiro lugar. O local escolhido para Ammaia parece comprovar esta teoria, já que este sempre foi uma zona de muita água; para além do rio Sever, existem, nas redondezas, muitas nascentes e pequenos ribeiros que poderiam fornecer água à cidade. A montante da cidade passa a ribeira de Alvarrões onde, hipoteticamente, se situaria a represa que os romanos teriam feito para abastecer a cidade. Calcula-se que entre os séculos V e IX a cidade de Ammaia, já em decadência, sofreu os efeitos de um galgamento dessa represa que viria a soterrar a cidade.

Ammaia ao ficar soterrada durante todos estes séculos, originou a que uma boa parte da cidade tenha ficado preservada e a sua estrutura se tenha mantido conservada, o que muito tem contribuído para o seu estudo e para tudo aquilo que se sabe hoje sobre a cidade romana de Ammaia.


Ammaia
Ruínas Romanas de Ammaia

No último quartel do século IX, os árabes conquistaram a região e a antiga cidade romana parece ter sido ocupada pelo chefe Muladi Ibn Maruán que se intitulou “Senhor da Fortaleza de Ammaia”. Por isso, presume-se que naquela época a cidade romana já se encontrava totalmente abandonada. No entanto, Ibn Maruán rapidamente terá abandonado Ammaia em favor da localização de Marvão.

A partir desta altura desaparecem as referências à cidade como urbe habitada, tendo as suas pedras, principalmente a partir do século XVI, servido para construir outros lugares e monumentos. O que continuou a acontecer até finais do século XIX.

Na literatura antiga Ammaia é referida por Plínio (escritor, historiador e gramático do século I), por autores árabes e por diversos escritores e historiadores.


As escavações e o Museu Cidade de Ammaia

Museu Cidade de Ammaia
Museu Cidade de Ammaia

As ruínas da cidade romana de Ammaia são o mais importante testemunho da presença romana no Alto Alentejo, sendo a única cidade romana conhecida nesta região.

Apesar destas ruínas serem conhecidas desde o século XVI, as primeiras escavações só decorreram no finais do século XIX e início do século XX. Até esta data, pensava-se que as ruínas pertenciam à cidade romana de Medóbriga (hoje, pensa-se que esta antiga cidade romana se situe nas imediações da vila de Meda, na Guarda) e que os vestígios de Ammaia se encontravam sob a cidade de Portalegre. Durante muito tempo julgou-se que Ammaia teria existido no local onde se desenvolveu Portalegre devido a uma inscrição romana encontrada numa das paredes da Ermida do Espírito Santo, onde se fazia referência ao município de Ammaia. Mas, hoje, sabe-se que a partir do século XVI muitas pedras saíram das ruínas de Ammaia para serem usadas na construção dos principais edifícios (igrejas e palácios) de Portalegre, nas muralhas de Marvão e de Castelo de Vide, bem como em diversas construções em Porto Espada, Portagem, São Salvador e na Escusa.

Lentamente, a cidade de Ammaia ia desaparecendo. No início do século XX, da grande cidade romana do século I, visível à superfície, apenas restavam alguns muros de pedra.


Ruínas Romanas de Ammaia
Ruínas Romanas de Ammaia

As ruínas de São Salvador da Aramenha só viriam a ser identificadas como a antiga cidade romana de Ammaia em 1935. As ruínas de Ammaia estiveram abandonadas até 1994, altura em que o local foi classificado como monumento nacional e recebeu protecção legal. Desde 1995, têm decorrido trabalhos arqueológicos organizados pela Fundação Cidade de Ammaia (criada com o objectivo de estudar e preservar este importante legado arqueológico) em parceria com as universidades de Coimbra e de Évora.

Hoje, os arqueólogos conhecem o desenho e a arquitectura da cidade de Ammaia devido a uma tecnologia inovadora (Radio-Past) que permitiu radiografar toda a área. Os arqueólogos colocaram a descoberto cerca de três mil metros quadrados, mas estima-se que a área original desta cidade seja superior a 20 hectares.

Actualmente, já começa a ser visível e de relativa compreensão para o visitante comum o espaço da cidade. Além do Museu, existem alguns sítios arqueológicos perfeitamente demarcados: a Porta Sul, as Termas e os Banhos Públicos, o Fórum, alguns muros e colunas de pórticos e ainda o Anfiteatro (descoberto mais recentemente).


O Museu Cidade de Ammaia, pretende mostrar a vida quotidiana da população que viveu na antiga cidade romana, bem como afirmar a cidade de Ammaia como um dos principais vestígios da presença do Império Romano na Península Ibérica.

No edifício do Museu encontra-se exposta uma parte do imenso espólio recolhido nos trabalhos de escavação arqueológica realizados na área da Cidade de Ammaia,

ao longo das últimas décadas. Foram recolhidos uma grande diversidade de materiais, destacando-se alguns elementos da cultura romana como pedras com inscrições em Latim, estátuas, peças de cerâmica, moedas, fragmentos de braceletes, pedras de anéis, a reconstrução de uma mó, alguns objectos usados na tecelagem e peças em vidro. Uma vasta colecção de elementos que surpreendem não só pela sua beleza como também pelo seu excelente estado de conservação.

A visita ao Museu leva-nos numa viagem através das várias salas onde estão em exposição as diversas peças encontradas durante as escavações. O Museu possui uma das mais importantes colecções de vidros romanos da Península Ibérica. Vidros de grande beleza e de grande qualidade (Ammaia, muito provavelmente, terá sido um importante centro produtor de vidro). Calcula-se que na cidade de Ammaia exisissem muitas estátuas, mas em Portugal apenas ficou uma (está na Casa Museu José Régio, em Portalegre). Segundo investigador espanhol D. José de Viu (1852), mais de vinte estátuas de mármore, recolhidas em Aramenha, terão sido vendidas para Inglaterra.

Numa outra sala podemos assistir a um pequeno vídeo onde se faz a recriação do que seria a cidade no seu auge, quando aqui viviam cerca de 2000 pessoas. Este vídeo é uma reconstrução em 3D, que nos mostra uma cidade de Ammaia digitalmente renascida com base nas evidências arqueológicas .

No vídeo, os edifícios agora soterrados aparecem recriados e a ladear ruas movimentadas e onde se pode “visitar” o Fórum e o complexo termal.

Visitar o Museu Cidade de Ammaia é fazer uma viagem no tempo que nos permite conhecer o passado desta importante cidade romana com mais de dois mil anos.


No exterior do Museu, podemos visitar o espaço das ruínas de Ammaia. Seguimos por um trilho traçado em cima da antiga cidade romana que se encontra soterrada. A zona que ainda não foi escavada encontra-se coberta de terras, vegetação e algumas oliveiras. Apenas conseguimos ver o que resta de alguns espaços públicos. Calcula-se que apenas dois por cento da cidade seja conhecida.

A Porta Sul seria a entrada principal da cidade. Esta entrada era constituída por duas imponentes torres circulares, com seis metros de diâmetro, um arco ou porta e uma imponente praça lajeada. O arco colocado entre as torres, também conhecido por “Arco da Aramenha”, foi transferido para Castelo de Vide, em 1710, onde permaneceu em uso até 1891, altura em que terá sido destruído para alargar a entrada onde se situava.

As Termas e os Banhos Públicos eram um complexo termal com diversas estruturas associadas. Nas proximidades do Fórum, a zona das Termas foi uma das primeiras estruturas identificadas no perímetro de Ammaia, mas a sua localização, nas imediações de uma estrada (N359), motivou a destruição de uma parte significativa deste complexo. Aqui registam-se vários vestígios estruturais pertencentes a um complexo termal, como um pequeno tanque revestido a mármore e, mais recentemente, foi encontrada parte de uma piscina maior, que poderia ser coberta ou ao ar livre.

Ao longo do tempo a passagem de diversas infra-estruturas pelo espaço da antiga cidade romana têm provocado algumas destruições, e é preciso atravessar a N359 para chegarmos ao Fórum e ao Anfiteatro.

O Fórum era o principal centro da vida política, económica, social e religiosa da cidade. Era aqui que se centravam os poderes administrativo, religioso e judicial e onde a população vinha prestar culto às divindades. Com uma localização central, o Fórum de Ammaia está implantado numa encosta que domina a área sul da cidade. Na extremidade sudeste, identificam-se estruturas que podem corresponder a vestígios da basílica e da cúria e na extremidade oposta ergue-se o pódio de um templo em posição elevada.

O Anfiteatro, descoberto mais recentemente (em 2019) entre um campo de oliveiras numa encosta, apresenta uma estrutura circular onde foram encontrados vestígios do apoio das bancadas e uma grande quantidade de colunas e de bases que suportavam essas colunas. Era um anfiteatro simples, sem a complexidade de outras estruturas idênticas mais conhecidas. Este era um espaço para espectáculos de gladiadores, combates com feras, lutas e simulações de caçadas.

O Museu e as Ruínas da Cidade Romana de Ammaia podem ser visitados todos os dias entre as 9h00 e as 17h30, fechando para almoço (12h30-14h00), com excepção nos dias 24, 25 e 31 Dezembro e 1 de Janeiro em que o espaço se encontra encerrado. O ingresso custa 5,00€ (estudantes e maiores de 65 anos: 3,00€; jovens até aos 12 anos e residentes no concelho de Marvão têm entrada gratuita). Existem ainda visitas guiadas para grupos com mais de 10 pessoas mediante marcação prévia (6,00€).


Ruínas Romanas de Ammaia
Ruínas Romanas de Ammaia, toda uma cidade (ainda) por descobrir

Ammaia foi uma importante cidade romana e as suas ruínas são umas das mais importantes do nosso país, pois encontram-se muito bem preservadas. As Ruínas da Cidade Romana de Ammaia são uma valiosa herança de outros tempos, o mais importante vestígio da presença romana que se pode encontrar no Alentejo. Um local incrível, cheio de história, mas com muito ainda por desvendar. Ao todo, calcula-se que sejam cerca de 25 hectares que escondem uma enorme cidade soterrada que, só com muito tempo, paciência e um trabalho delicado nos poderão revelar os segredos de Ammaia.

Maquete da Cidade Romana de Ammaia
Maquete da Cidade Romana de Ammaia

Ali ao lado…

Embora haja muito que ver num raio de poucos quilómetros das Ruínas Romanas de Ammaia, a começar pelo Parque Natural da Serra de São Mamede, que esconde bonitas paisagens, não podia deixar de destacar as vilas de Marvão e de Castelo de Vide.

Marvão
Marvão

Marvão é uma das mais belas vilas portuguesas e uma das mais bonitas do Alentejo. Visitar Marvão e percorrer as suas ruas no interior da muralha, é como se fizéssemos uma viagem no tempo. A vila não é muito grande e foi crescendo encosta abaixo. Percorrer as suas ruas estreitas permite-nos conhecer as suas casas típicas e simples, mas cheias de detalhes. Deixe-se deambular pelas ruas desta bonita vila fortificada onde existem muitos recantos para descobrir: o pelourinho manuelino, os arcos góticos, as portas, as janelas manuelinas, as varandas de ferro forjado, as muralhas que nos servem de miradouro para o vasto horizonte. Visite o castelo onde pode conhecer a magnífica cisterna (uma das maiores em Portugal, com capacidade de acumular água e que podia abastecer a localidade durante seis meses, em caso de cerco) e subir à torre de menagem de onde se tem uma vista impressionante. Viste ainda a igreja de Santa Maria, o mais antigo templo da vila que foi recuperado para instalação do Museu Municipal, a igreja de São Tiago, a capela do Calvário e a igreja do Espírito Santo. Vai ver que Marvão é uma vila inesquecível. Linha de Terra já esteve em Marvão e pode ler tudo sobre a vila aqui.


Castelo de Vide
Castelo de Vide

Castelo de Vide é uma das vilas mais bonitas e encantadoras de Portugal. É um daqueles locais onde chegamos e já nos sentimos como se fossemos dali. Chegamos e sentimo-nos em casa. Castelo de Vide respira natureza e harmonia.

Percorrer as suas ruas é uma lição de história e uma viagem no tempo, que nos leva desde tempos imemoriáveis até à Revolução de Abril. O seu casario branco, as suas ruas estreitas e íngremes repletas de pormenores, o seu castelo, a judiaria, a fonte da vila, as casas apalaçadas, as igrejas, as fontes, e até a água, tudo aqui tem uma história. Castelo de Vide tem muito para ver. A vila está repleta de pontos de interesse: para além do castelo e da Judiaria, dê uma volta pelas das suas ruas estreitas; procure a Fonte da Vila e as outras fontes, pois aqui há bastantes; admire as casas apalaçadas; descanse na sombra dos seus jardins; e descubra as suas igrejas e capelas, consta que serão mais de duas dezenas… Vai ver que Castelo de Vide é uma vila encantadora onde vai querer voltar. Linha de Terra já esteve em Castelo de Vide (várias vezes) e pode ler tudo sobre esta magnífica vila aqui.



  • Foto do escritor: João Pais
    João Pais
  • 17 de abr.
  • 3 min de leitura

Cascata de Fagilde

Desta vez trago uma Cascata pouco conhecida, mas de grande beleza e, ao contrário da maioria das quedas de água do nosso país, esta é de fácil acesso e bem perto do centro da povoação da Caniçada, em Vieira do Minho. Uma beleza digna de uma pintura e de um pequeno desvio para ficar a conhecer este bocadinho do éden.



Cascata de Fagilde
Cascata de Fagilde, em Caniçada (Vieira do Minho)

A Cascata de Fagilde localiza-se na pequena localidade de Caniçada (Vieira do Minho), na margem esquerda do rio Cávado e bem perto da bonita albufeira da barragem da Caniçada (um empreendimento imponente, inaugurado em 1955, com 76 metros de altura e um comprimento de 246 metros).

Igreja de São Mamede, Cascata de Fagilde
Igreja de São Mamede, Caniçada

Não tinha grandes indicações sobre a localização da Cascata de Fagilde, a não ser o que tinha visto, em casa, no Google Maps: tinha que procurar a igreja paroquial (igreja de São Mamede, do século XIX), que ficava relativamente perto. Estacionei o carro na rua que dá acesso à igreja e fui à procura da Cascata de Fagilde. Passei pelo Pelourinho (que tem uma história curiosa) e, um pouco mais à frente, pela Junta de Freguesia.

Pelourinho de Caniçada, Cascata de Fagilde
Pelourinho de Caniçada

O Pelourinho de Caniçada, também conhecido como Pelourinho de Ribeira do Soaz, é de datado do século XVI e encontrava-se disperso por vários terrenos, tendo sido reconstruido já este século. Conta-se, que em 1672, os condes de Unhão mandaram colocar no Pelourinho as armas dos Silvas onde se destacava um leão. A população local julgando que o leão se referia às armas de Castela revoltou-se e destruíram o leão e, em seu lugar, esculpiram as armas reais.


A freguesia de Caniçada pertenceu, até 1836, ao extinto concelho de Ribeira do Soaz que tinha a sua sede, precisamente em Caniçada (com foral concedido por D. Manuel I, em 1515). Na altura, o concelho englobava as freguesias de Caniçada, Cova, Louredo, Soengas, Ventosa e Vilar da Veiga.

Confesso que ia com bastante curiosidade sobre esta Cascata que fica bem perto do centro da povoação. No entanto, fiquei bastante surpreendido quando perguntei a uma senhora, que pareceu-me estar a fazer a limpeza da Junta da Freguesia, por onde deveria seguir para chegar à cascata e ela me respondeu que trabalhava ali há alguns anos e que nunca tinha ouvido falar em nenhuma cascata…

Bifurcação, Cascata de Fagilde
Bifurcação onde deverá seguir pela esquerda

Passando em frente a Junta de Freguesia, não há muito que enganar. É seguir a rua entre muros e casas de granito, passando pelo cruzeiro, até a rua fazer uma curva à direita onde entramos num denso e bucólico arvoredo com muita sombra. Há que seguir em frente até uma bifurcação à esquerda, com a indicação de Fagilde e com o sinal de rua sem saída. Para quem não gostar de caminhar, poderá optar por deixar aqui o carro, o espaço não é muito, mas pode ser uma opção. Agora, vem a

Vista para o rio Cávado, Cascata de Fagilde
Vista para o rio Cávado

parte mais difícil: é preciso subir esta rua à esquerda. Suba tudo até lá cima e vá desfrutando da bonita paisagem sobre o Cávado (são só 250 metros…). Lá em cima, vai encontrar duas casas. Siga a rua pela frente das casas e passado as duas habitações… a rua acaba! Continue em frente pelo caminho de terra. Mais uns passos e vai começar a ouvir o som da água. São mais 150 metros para encontrar um pequeno éden repleto de frescura e beleza. Uma joia escondida. Um refugio perfeito e tranquilo no meio da Natureza, onde o som da água cria um ambiente propício à contemplação e ao relaxamento. Aqui vai encontrar um recanto repleto de vegetação exuberante e uma bela queda de água, muita sombra, flores e algumas pedras para se sentar a contemplar a venustidade do local. Como escreveu o Padre Alves Vieira, no seu livro “Vieira do Minho” (1923): “E que dizer da queda de Fagilde, em Caniçada? Feliz e abençoada terra, onde até os simples ribeiros têm quadros do mais relevante interesse”. Efectivamente, este é um recanto maravilhoso. Só é pena que não dê para tomar banho. Vai encontrar alguns avisos de que está em propriedade privada, mas julgo que o proprietário não se importa que visitemos a Cascata. Respeite o local, não faça barulho e não deixe lixo.


Cascata de Fagilde
Cascata de Fagilde

Apenas como curiosidade, refira-se que a freguesia da Caniçada, antes da reorganização administrativa de 2012/2013, que uniu diversas localidades, era uma das poucas freguesias portuguesas cujo território se encontrava descontínuo. A freguesia estava dividida em duas partes, separadas pela antiga freguesia de Soengas. Actualmente, as duas foram agregadas, tendo sido criada a União das Freguesias de Caniçada e Soengas.


Coordenadas GPS:

N 41º39.28308’ W 8º10.94574’

41.654718 -8.182429


  • Foto do escritor: João Pais
    João Pais
  • 12 de mar.
  • 22 min de leitura

Atualizado: 12 de mar.

Évora Monte: Castelo
Évora Monte

Apesar de não ser muito divulgada, Évora Monte é uma das localidades mais bonitas e mais interessantes do nosso Alentejo. Aqui podemos recordar a nossa história e “sonhar” com cidades desaparecidas. Com o seu castelo único em Portugal, Évora Monte tem uma vasto património cultural e paisagístico, foi símbolo de poder da Casa de Bragança e foi aqui que foi “traçado” o futuro de Portugal.



Em mais uma deslocação ao nosso maravilhoso Alentejo, que eu tanto gosto, tive oportunidade de visitar e ficar a conhecer a bonita vila medieval de Évora Monte. Mais uma bela localidade que não faz parte das principais rotas turísticas do nosso país, que eu faço questão de conhecer e de partilhar, aqui, com os meus leitores.

Évora Monte
Évora Monte

Situada no concelho de Estremoz, a parte medieval, e a mais antiga, de Évora Monte é uma pitoresca vila instalada numa pequena elevação. A vila medieval é conhecida pelo seu imponente castelo de características únicas no nosso país, mas Évora Monte esconde outras maravilhas e outros factos que importa descobrir e conhecer.

Localizada a cerca de 16 quilómetros de Estremoz e a 30 de Évora, esta pequena pérola do Alentejo merece uma visita e uma volta atenta pelo seu núcleo medieval, onde podemos relembrar um episódio importante da nossa história, conhecer um património único e bastante rico e, ainda, especular sobre a localização de uma antiga cidade pré-romana.

“Perca-se” por Évora Monte – garanto que é uma força de expressão, pois não é possível perder-se nesta vila medieval – e percorra o seu centro histórico. Percorra a sua rua empedrada e descubra um rico património e uma vila cheia de história(s). No ponto mais alto da vila, vai encontrar um castelo único que domina toda a vila e a magnífica planície alentejana.

À semelhança de outras vilas alentejanas, como Marvão (ver aqui) e Monsaraz (ver aqui), em Évora Monte o tempo parou no interior das muralhas que parecem abraçar e proteger do progresso a pequena vila medieval. E felizmente que assim é.

Venha daí e vamos conhecer uma das mais belas vilas alentejanas.


Évora Monte: Rua da Convenção
Évora Monte: Rua da Convenção

Como chegar a Évora Monte

A forma mais prática de chegar a Évora Monte é de carro ou moto, através da autoestrada A6 ou da N18. Évora Monte fica a cerca de 16 quilómetros de Estremoz (sede de concelho) e a 28 da cidade de Évora. A N18 une as três localidades e atravessa Évora Monte. Évora Monte dista cerca de 150 quilómetros de Lisboa, ou seja, menos de duas horas de carro.

Para chegar à parte medieval basta seguir a estrada em direção à Igreja de São Pedro de Fora, passar pelo Baloiço de Évora Monte e, um pouco mais acima, pela Ermida de São Sebastião. Por esta estrada, que não é muito larga, chega-se à entrada da muralha (Porta do Sol), onde onde fica a “Moldura Coração de Évora Monte” e um pequeno estacionamento em terra batida onde deve deixar o carro. Apesar de ser possível entrar com o carro no interior da muralha, evite fazê-lo, não só para preservar o interior da muralha, mas porque esta parte medieval deverá ser percorrida a pé.


A origem de Évora Monte

O povoamento da região onde hoje se situa Évora Monte remonta aos tempos pré-históricos. Sabe-se que a região foi habitada por tribos celtas, ainda antes de Cristo e, alguns séculos antes dos Lusitanos. Depois deu-se a romanização da Península Ibérica, e é sabido que os Romanos andaram por aqui. Com o declínio do Império Romano, a região foi dominada pelos Visigodos e, mais tarde, a ocupação muçulmana (século VIII) toma conta do território. Até ao século XII a região era dominada por muçulmanos, altura em que Geraldo Sem Pavor, um “guerreiro voluntário” a combater por D. Afonso Henriques, tomou Évora Monte (e Évora) aos mouros.


O topónimo Évora Monte

Crê-se que, antigamente, a localidade se chamaria Évora, mas para se conseguir diferenciar o seu nome do da cidade de Évora, foi-lhe acrescentando o “Monte”, por esta se localizar numa elevação. E, assim, seria distinguida da cidade de Évora como sendo Évora do Monte.

Alguns autores atribuem a origem do topónimo do latim Ebora, que por sua vez derivaria do céltico.

Existe alguma confusão em relação à grafia do nome da povoação. A nomenclatura que se encontra registada na Câmara Municipal de Estremoz e no Instituto Nacional de Estatística, é Évora Monte. No entanto, são frequentes os grafismos Évoramonte ou Évora-Monte (este último menos usado). Évora Monte tem o nome alternativo de Santa Maria.

A um natural ou habitante de Évora Monte diz-se evoramontense.


Évora Monte
Évora Monte: o seu povoamento remonta à Pré-história

A história de Évora Monte 

O povoamento de Évora Monte remonta aos tempos pré-históricos, mas os seus momentos mais marcantes aconteceram a partir do século XII, com a sua conquista aos mouros.

Desde sempre, pela sua localização, Évora Monte teve grande importância geográfica e militar. Calcula-se que aqui terá havido uma fortificação de provável construção em 1800 a.C.. Essa fortificação terá sido, posteriormente, adaptada e alterada segundo técnicas castrenses. Já no século VIII os mouros, vindos do norte de África, conquistam a fortaleza aqui existente. Com a reconquista cristã, no século XII, a fortaleza é conquistada pelas forças de Geraldo Geraldes, conhecido como Geraldo Sem Pavor, ao serviço de D. Afonso Henriques.

Em 1248, Évora Monte recebe o primeiro Foral, concedido por D. Afonso III, que viria a ser confirmado em 1271 com a elevação a concelho. No século XIV, por ordem de D. Dinis, dá-se início à construção do castelo com torre de menagem no ponto mais alto da vila e da respectiva cerca. No século XV a vila de Évora Monte e o seu castelo são doados à Casa de Bragança. Em 1516, D. Manuel I concede Foral Novo a Évora Monte.

Em 1531 um terramoto deixa a vila em mau estado, destruindo a torre de menagem do castelo, parte das muralhas, a igreja matriz e alguns edifícios civis. Os anos seguintes são de reconstrução do castelo e da vila. Em 1642, a pedido dos habitantes de Évora Monte, é construído o Celeiro Comum, com licença de D. João IV. O terramoto de 1755 volta a provocar danos na vila com a queda de algumas pedras do paço em consequência do avançado estado de degradação da estrutura.

No século XIX, com as Invasões Francesas, Évora Monte é integrado no território de Estremoz. Em 1834 dá-se a ocupação de Évora Monte pelo Duque de Saldanha, na época das Guerras Liberais, no contexto do cerco às tropas de D. Miguel que se encontravam em Évora sitiadas pelas forças liberais estabelecidas em Estremoz e Montemor-o-Novo, o que levou à assinatura da Convenção de Évora Monte.

Em 1836 Évora Monte perde o estatuto de concelho, passando a pertencer a Vimieiro. Dez anos depois, com a extinção do concelho de Vimieiro, volta-se a reestabelecer o concelho de Évora Monte, que seria novamente extinto em 1855, passando a pertencer a Estremoz.

Ao longo dos séculos Évora Monte foi crescendo para fora das muralhas do castelo, tornando-se uma pequena vila rural. A agricultura e a produção de cereais tiveram um papel importante na economia local, havendo celeiros comuns para armazenamento e distribuição dos cereais e de outros bens agrícolas.


A Convenção de Évora Monte

A Convenção de Évora Monte (28 de Maio de 1834) marca o fim da sangrenta guerra civil que opôs liberais (D. Pedro IV) e absolutistas (D. Miguel) entre 1828 e 1834. Os dois irmãos lutavam pela sucessão ao trono de Portugal após a morte de D. João VI. Foi na casa do então presidente da Câmara que os generais liberais e absolutistas estabeleceram os acordos da rendição de D. Miguel.

Depois do desastroso cerco do Porto e da derrota de Asseiceira, o exército de D. Miguel refugiou-se no Alentejo. Ciente de que a resistência não seria possível, D. Miguel reuniu um conselho de guerra em Évora, onde ficou decidido pedir um armistício. D. Pedro, porém apenas estava disposto a aceitar a rendição incondicional. Acordou-se que o Duque de Saldanha, o Duque da Terceira e o general Azevedo Lemos (este último pelos miguelistas) se reuniriam numa casa da povoação de Évora Monte, na presença de John Grant, secretário da Legação Britânica em Lisboa, onde foram estabelecidos os termos da rendição. Entre outras disposições, ficou estipulado o exílio de D. Miguel no prazo de quinze dias, a proibição de regressar à Península Ibérica ou a domínios portugueses, bem como a atribuição a D. Miguel de uma pensão anual, com a obrigação de restituir as joias e outros pertences da coroa ou particulares. Aos militares miguelistas foi concedida uma amnistia política, o regresso livre dos às respectivas casas, a posse de todas as fazendas e bens pessoais e a garantia de que os militares miguelistas manteriam os postos que possuíam.

D. Miguel, já em Itália onde ficou exilado, renegou a Convenção de Évora Monte, divulgando um manifesto em que prometia regressar a Portugal e reconquistar o trono. Em consequência deste acto, foi-lhe retirada a pensão anual que lhe tinha sido atribuída.


Lendas de Évora Monte

Existem várias lendas relacionadas com Évora Monte. Constam-se histórias de amor que acabam mal, a Lenda da Moura, de portais para outro mundo, a Lenda do Pego do Sino, ou do túnel secreto que liga a fortaleza à Ermida de São Sebastião. Mas a mais conhecida será a da “Lenda da Moura”, uma trágica história de amor entre dois mouros. Um nobre mouro estava para casar com a sua prometida donzela, no dia em que Évora Monte foi conquistada. O nobre foi para a batalha e nunca regressou, tendo causado um grande desgosto à sua noiva, que morreu de coração partido. No dia seguinte, no sítio hoje conhecido por Alpedriches, o corpo do nobre mouro apareceu sobre uma rocha em forma de leito. Os dois foram sepultados juntos. A rocha onde foi encontrado o nobre mouro chama-se desde então, a Cama do Mouro. Conta-se que na noite de São João, pela meia-noite, a moura aparece no Poço do Clérigo penteando as suas tranças e entoando uma triste canção de amor.

Outra das lendas bem conhecidas em Évora Monte, é a Lenda do Pego do Sino.

O Pego do Sino fica situado na ribeira de Têra, a cerca de cinco quilómetros da vila, numa zona em que as margens formam elevados penhascos e apertadas gargantas que, em alguns locais, quase se tocam. O Pego do Sino é um local emblemático que, pelas suas características, deu origem a uma lenda.

Reza a lenda que na noite de São João, exactamente à meia-noite, a escuridão da noite é misteriosamente interrompida por mil luzes a brilharem sobre os elevados penhascos, a fazer lembrar uma procissão. Ao mesmo tempo que as luzes “se acendem” ouve-se o choro de uma criança, o cantar de um galo, o mugido de uma vaca, o balir de um borrego e um sino a tocar. Por aqui conta-se que já houve quem avistasse, marcadas na rocha, as pegadas de uma criança, do galo, da vaca e do borrego. No entanto, desconhece-se o local onde as pegadas estão gravadas.


O mistério de Dipo

Existem muitos (e importantes) tesouros escondidos em Portugal e a cidade de Dipo é um deles. Dipo é uma cidade que poucos conhecem, mas que foi um importante centro no passado. Dipo foi um dos maiores povoados pré-romanos do Alentejo e apesar de existirem algumas dúvidas sobre a sua localização, acredita-se que Évora Monte pode esconder a misteriosa cidade.

Muito antes da romanização da Península Ibérica, e alguns séculos antes dos Lusitanos, outros povos habitaram o território hoje correspondente a Portugal. Um desses povos foram os Sefes, uma tribo celta que, juntamente com outras, migraram para a Península Ibérica. Os Sefes também eram conhecidos por Ofis (que significa “povo das serpentes”). Aliás, os gregos chamavam Ofiússa ao território oeste da Península Ibérica.

Das muitas tribos celtas que passaram pela Península Ibérica, os Sefes terão sido dos povos mais desenvolvidos culturalmente. Os Sefes terão fundado a cidade de Dipo, a sua capital que, segundo estudos, se supõe que poderia estar localizada onde hoje se encontra Évora Monte. Dipo seria uma das principais cidades de todo o território que hoje conhecemos como Alentejo e aquilo que está referenciado pelos cronistas da época é que a localização de Dipo seria entre as cidades de romanas de Ebora (Évora) e Emérita Augusta (Mérida).

Tendo em conta o que se sabe sobre os hábitos e cultura dos Sefes e dos povos celtas, a localização de Dipo poderá ser o lugar da actual Évora Monte, por ser um local elevado, fácil de defender e de onde se avista uma grande parte do território.

A presença dos Sefes no Alentejo e em Espanha está devidamente documentada, faltando apenas encontrar a localização da sua capital, Dipo.

Embora tivessem sido um povo dominante durante vários séculos, quando os romanos conquistaram a Península Ibérica, os Sefes já não estariam no seu apogeu e já teriam perdido o poderio militar e cultural. Os romanos terão tentado conquistar Dipo por várias vezes, tendo encontrado uma forte resistência por parte dos Sefes. A cidade acabaria por cair perante os romanos a sua memória perdeu-se no tempo, especialmente depois dos romanos terem apostado na dinamização de Évora que se viria a torna a cidade mais importante do Alentejo.

Ao longo dos últimos anos têm sido feitas várias escavações em Évora Monte e os achados arqueológicos parecem confirmar a existência de edificações que remontam ao século III antes de Cristo, podendo vir a confirmar-se que era aqui a localização de Dipo.


O que visitar em Évora Monte

Apesar de ser uma vila pequena, Évora Monte tem bastante que ver. Para além da muralha que rodeia o núcleo medieval e do vistoso castelo – que certamente chamará a sua atenção –, há muito para ver nesta pequena vila. Aqui, para além das pequenas casas típicas alentejanas, caiadas de branco com as suas coloridas faixas, podemos ver alguns edifícios históricos e religiosos, mas não deixe de estar atento aos pequenos pormenores. Aqui vai poder observar alguns portais góticos e ornamentos, pequenas casinhas pintadas no chão da rua principal e admirar o magnífico artesanato… há muito para observar e conhecer em Évora Monte.


Castelo de Évora Monte
A forma única do Castelo de Évora Monte com os seus torreões circulares

Castelo de Évora Monte

O Castelo de Évora Monte está edificado na vertente oeste da serra d'Ossa, a 474 metros de altitude, com alcance sobre uma vasta linha de horizonte e visível a grande distância.

Pela sua arquitectura, o castelo de Évora Monte é único em Portugal e, creio mesmo, que o seja também na Península Ibérica. O Castelo, com quatro enormes torreões circulares, conjuga uma estrutura defensiva com um paço em estilo renascentista de inspiração italiana. Mas este castelo nem sempre foi assim. Vamos à sua história.

O Castelo de Évora Monte foi construído no século XIV por mando de D. Dinis, que queria um castelo com uma torre de menagem e uma cerca com objectivo de defesa e de aumento do seu povoado. Mas, ao que tudo indica, desde 1800 a.C. que terá existido neste local uma estrutura defensiva, correspondente ao povoado de Ebura. Essa estrutura terá sofrido alterações ao longo dos tempos, segundo técnicas castrenses e, no século VIII terá sido conquistada pelos Mouros. No século XII Geraldo Sem Pavor reconquista a fortaleza aos Mouros e, no século XIII, D. Afonso III manda recuperar as suas defesas. No século XIV, D. Dinis ordena que se construa aqui um castelo com cerca. O Castelo teria uma torre de menagem quadrada e uma cerca com quatro portas que ainda hoje existem. A muralha construída à volta do povoado medieval tem quatro portas: a Porta do Freixo (a sul), junto à igreja matriz, com um arco gótico e dois torreões cilíndricos; a Porta do Sol (a porta principal), na outra extremidade da fortaleza, também com dois torreões cilíndricos; a Porta de São Sebastião, lateral e que dá acesso à Ermida de São Sebastião; e a Porta de São Brás, também lateral.

Ainda no século XIV, D. João I doa a vila e o Castelo de Évora Monte a D. Nuno Álvares Pereira como recompensa pelo seu apoio na batalha de Aljubarrota. No século XV, D. Nuno Álvares Pereira faz a doação da vila e do Castelo de Évora Monte ao seu neto D. Fernando, futuro Duque de Bragança. Em 1483, em consequência da execução do Duque D. Fernando II, acusado de traição, o Castelo passa para os bens da coroa. Com a subida ao trono de D. Manuel ocorre a devolução dos bens pertencentes à Casa de Bragança, entre os quais Évora Monte.

Évora Monte: Castelo
Castelo de Évora Monte

Em 1531, um terramoto provoca a destruição das muralhas e da torre de menagem do Castelo de Évora Monte. D. Jaime, manda recuperar o castelo, construir o paço no lugar da antiga torre de menagem, bem como os torreões cilíndricos de inspiração italiana e segundo os modernos padrões da arquitectura militar da época (preparados para o uso de armas de fogo - canhões). Este trabalho de reconstrução é atribuído aos irmãos Arruda, conhecidos pelas suas intervenções noutras edificações (Torre de Belém, Convento de Cristo ou no Aqueduto de Évora, por exemplo).

Devido ao seu estado de degradação, o terramoto de 1755 provoca alguns danos no paço. E, já nos finais do século XIX dá-se o desabamento de um dos torreões da muralha.

O castelo e a cerca da vila foram considerados como Monumento Nacional em 1910.

O aspecto do Castelo de Évora Monte tal como o vemos agora é o resultado de vários anos de trabalhos de consolidação e restauro durante o século XX: primeiro no final da década de 1930, prosseguindo durante a década de 1940; e, mais tarde, durante o período compreendido entre os anos de 1971 e 1987 – o que, na altura, causou alguma celeuma devido aos materiais usados serem diferentes dos originais, nomeadamente o uso de cimento.

No seu interior, o Castelo de Évora Monte divide-se em três pisos, com tectos em abóbada decorados com elementos manuelinos e assentes em quatro grossos pilares de cantaria. Apesar de ser uma estrutura defensiva e bélica, o castelo de Évora Monte nunca esteve envolvido em qualquer conflito. Na realidade parece ter sido preparado para receber canhões mas esses espaços são apenas janelas e, pelo que se julga, seria quase impossível caberem ali peças de artilharia. O efeito seria mais dissuasor e de afirmação da Casa de Bragança, já que o Castelo apenas serviu para os reis e nobres da Casa de Bragança virem, esporadicamente, à caça já que o Paço nem teria grande mobiliário.

Outro pormenor de afirmação da Casa de Bragança são os nós decorativos (da época manuelina) no exterior do Castelo. Em cada piso, o Castelo apresenta um relevo que parece uma corda que abraça todo o edifício e que termina com um laço. O laço era o símbolo da Casa de Bragança, a segunda casa mais poderosa do reino. A Casa de Bragança que tinha como lema “Depois de vós, nós” (Depois do Rei, nós) adopta o nó como ornamentação do Castelo como ostentação e poderio.

No terraço do Castelo temos uma maravilhosa panorâmica de 360 graus com vista para a vila, para a serra e para o castelo de Estremoz.


Évora Monte: Porta Sul
Évora Monte: Porta Sul

Muralhas de Évora Monte

O núcleo histórico de Évora Monte encontra-se no interior de uma muralha medieval, do século XIV, construída em alvenaria de pedra integrando quatro torres semicirculares, cinco torreões artilheiros circulares, ameias de corpo largo e adarve que une todas as portas e torres. O perímetro da muralha contorna toda a vila, seguindo a configuração do morro onde está implementada.

Évora Monte: Porta do Sol
Évora Monte: Porta do Sol

A muralha ainda conserva as suas portas originais, do século XIV: a Porta do Freixo, a Porta de São Brás, a Porta do Sol ou da Vila e a Porta de São Sebastião. Esta última é uma obra do século XV, sendo a que se encontra mais próxima do paço e terá sido alargada para permitir a passagem de animais de carga e apetrechos de guerra. A muralha apresenta ainda um postigo, localizado no troço a Porta de São Sebastião e a Porta do Sol. Tratava-se de uma passagem secundária, utilizada para permitir o acesso de pessoas à vila sem ser preciso abrir a porta principal. O postigo encontra-se num local em que a espessura da muralha atinge os dois metros, sendo o local de mais difícil acesso e que seria, por isso, obstruído em períodos de guerra.

As quatro torres medievais semicirculares serviam de reforço defensivo às duas entradas. Os torreões cilíndricos artilheiros, assentes numa base quadrangular, possuem ameias largas no topo e canhoneiras de tijolo.


Pelourinho de Évora Monte

Do Pelourinho que se julga do século XVI, altura em que D. Manuel I concedeu Foral Novo a Évora Monte, apenas resta a sua base em mármore branco de Estremoz. O Pelourinho de Évora Monte estava situado em frente aos antigos Paços do Concelho, e pouco se sabe sobre este Pelourinho, apenas se calcula que terá sido partido, à semelhança de muitos outros, no decorrer do século XIX, após a instauração definitiva do Constitucionalismo.


Paços do Concelho de Évora Monte

O actual edifício dos Paços do Concelho de Évora Monte é uma construção do século XVIII, já que o anterior edifício ficou muito mal tratado com o terramoto de 1755. O edifício apresenta dois pisos e, adossado, encontra-se uma torre sineira quadrada, também conhecida como Torre do Relógio. Funcionou como Casa da Câmara e como cadeia. No edifício são visíveis as características da arquitectura tradicional alentejana, a nível das cores aplicadas ­- o ocre e o branco - e da chaminé rectangular de grandes dimensões. O edifício ostenta o brasão de armas do Reino de Portugal, reaproveitado dos primitivos Paços do Concelho.


Casa da Convenção de Évora Monte

A Casa da Convenção de Évora Monte é um edifício vulgar, de arquitectura tradicional, semelhante a outros da localidade. Terá sido aqui que se reuniram os comandantes dos exércitos liberal (liderados por D. Pedro) e miguelista (chefiados por D. Miguel) para negociar a paz. A Convenção de Évora Monte (1834) pôs termo à Guerra Civil (1832-34) entre Abolutistas e Liberais, e que levou D. Miguel ao exílio em Itália.


Celeiro Comum de Évora Monte

Évora Monte: Celeiro Comum, loja de artesanato
Algum do artesanato à porta do antigo Celeiro Comum

O Celeiro Comum foi fundado em 1642, por D. João IV, a pedido dos evoramontenses, para proteger os lavradores, sobretudo os que cultivavam cereais (trigo, centeio e cevada) contra males que prejudicassem as suas colheitas, emprestando os cereais. Esta instituição foi extinta em 1915.

O antigo Celeiro Comum situa-se na rua principal de Évora Monte, sendo actualmente uma loja de artesanato e de venda de produtos locais. Na ombreira da porta ainda se pode ler a inscrição “Celeiros do Comu”.


Cisterna Pública

A Cisterna Pública data do século XVI e foi construída intramuros porque, na altura, não havia nenhuma fonte de água potável no interior da fortaleza. A Cisterna (com 20 metros de comprimento, oito de largura e seis de altura) fica situada na rua da Misericórdia, perto da igreja paroquial, e está cerca de três metros abaixo do nível da rua. A Cisterna Pública possui uma abóbada suportada por seis arcos, dois bocais exteriores e acesso por uma rampa de granito. A água aqui armazenada provém das águas pluviais e não de nascente.


Chafariz de Santo Estêvão

O Chafariz de Santo Estêvão foi mandado construir no século XV e fica fora das muralhas da fortaleza, a uma distância considerável. O Chafariz sofreu bastantes danos com o terramoto de 1755, e terá secado por completo. Este é, provavelmente, o Chafariz mais antigo do concelho de Estremoz.


Évora Monte: Igreja da Misericórdia
Évora Monte: Igreja da Misericórdia

Igreja da Misericórdia de Évora Monte

Évora Monte: Interior da Igreja da Misericórdia
Interior da Igreja da Misericórdia

A Igreja da Misericórdia é um templo pequeno que aparenta grande simplicidade, mas de grande beleza no seu interior. A Igreja da Misericórdia de Évora Monte foi construída no século XVI e fica no interior da cerca do castelo, adossada à muralha. Do lado direito da Igreja fica a Casa do Despacho e os edifícios do antigo hospital. O interior da Igreja da Misericórdia é riquíssimo e de grande beleza, surpreendendo o visitante com uma série de painéis de azulejos do século XVIII. A única nave da igreja apresenta uma abóbada e encontra-se, também ela, completamente revestida a azulejos azuis e brancos com imagens representando temáticas das obras de misericórdia, da vida da Virgem Maria, do casamento de Ester e a decapitação de Holofernes. A Igreja conserva um púlpito circular em mármore de Estremoz e o arco triunfal, também ele, completamente revestido por azulejos. A pequena capela-mor, também ela revestida de painéis de azulejos, apresenta um retábulo em talha dourada barroca.


Évora Monte: Igreja de Santa Maria
Évora Monte: Igreja de Santa Maria

Igreja de Santa Maria / Igreja de Nossa Senhora da Conceição

Junto à porta sul da cerca do Castelo – a Porta do Freixo –, fica a Igreja de Santa Maria, também conhecida por Igreja de Nossa Senhora da Conceição.

Este é um templo bastante antigo, com origens no século XIII ou XIV, aparecendo mencionada no “Catálogo de todas as igrejas existentes no reino…”, em 1320. A Igreja, que aproveita uma pequena elevação rochosa, apresenta três naves separadas por colunas de granito, um pequeno alpendre (que podemos observar em muitas igrejas e capelas das zonas rurais do sul do país) e uma sineira. A Igreja ficou muito danificada pelo terramoto de 1531 e foi reconstruída nos anos seguintes, a capela-mor ainda preserva alguns elementos da primitiva construção.

No seu interior apresenta pinturas murais dos séculos XVI e XVII representando figuras da igreja e retábulos com talha dourada. A sua capela-mor com tecto em abóbada também com pinturas murais (do século XVIII) e um vistoso altar-mor de talha dourada.


Igreja de São Pedro de Fora

Esta igreja ganhou este nome por se situar fora das muralhas, sensivelmente a meio caminho entre a parte nova da vila e a muralha medieval. A Igreja de Sáo Pedro é um templo do século XIV, entretanto, modificada e reconstruida algumas vezes, nomeadamente após o terramoto de 1531 que deixou o edifício em muito mau estado. A sua fachada barroca é do século XVI, no entanto, possui elementos judaicos e ainda conserva na capela-mor alguns elementos da edificação primitiva. O seu interior está dividido em três naves separadas por pilares e arcos góticos em granito. O templo possui bonitos retábulos: o retábulo-mor (século XVI), do Santíssimo Nome de Jesus (século VII), de Nossa Senhora do Rosário (século XVII) e de Santo António (século XVIII).


Évora Monte: Ermida de Santa Margarida
Évora Monte: Ermida de Santa Margarida

As Ermidas

Ao redor da muralha, não muito distantes da vila de Évora Monte, há uma série de ermidas. As mais próximas são a Ermida de São Sebastião (do século XVI e perto da porta de São Sebastião) e Ermida de Santa Margarida (perto da Porta do Sol). Um pouco mais distantes ficam as ermidas de Santo Estevão e de São Marcos (ambas perto da Capela de Santa Rita de Cássia), Santa Vitória, São Brás, São Lourenço, e de Nossa Senhora do Ó.


Évora Monte: Miradouro do Coração
Évora Monte: Miradouro do Coração

Miradouros

Existem alguns miradouros de grande beleza paisagística que deve aproveitar. Desde logo deve subir ao terraço do Castelo de Évora Monte com uma vista panorâmica sobre a vila e a característica paisagem alentejana com o seu montado. O Miradouro do Coração, fora da muralha, junto ao estacionamento, na Porta do Sol, onde encontra um banco em forma de coração onde também pode observar a paisagem alentejana. O Baloiço de Évora Monte, atracção bastante popular, onde também pode desfrutar de uma magnífica paisagem.



Évora Monte é um dos segredos mais bem guardados do nosso Alentejo e é mais um destino Linha de Terra, longe das principais rotas turísticas. Visitar Évora Monte é fazer uma viagem no tempo. A vila medieval mantém-se preservada como se tivesse parado no tempo. Visitar Évora Monte é fazer uma incursão no interior alentejano, é conhecer a sua alma e relembrar um pouco da história de Portugal. Do alto do seu castelo – único no país – avista-se a beleza da paisagem alentejana até onde os olhos conseguem alcançar, praticamente até à linha do horizonte, a Linha de Terra.



Ali perto…

Não faltam excelentes localidades a poucos quilómetros de Évora Monte que merecem uma visita. Na impossibilidade de os mencionar a todos, deixo aqui alguns que não me desiludiram e que recomendo numa visita (mais ou menos prolongada) por este destino maravilhoso que é o Alentejo.


Estremoz

Estremoz, a cidade branca, é uma urbe calma e pacata que merece uma visita atenta e demorada, apenas a 16 quilómetros de Évora Monte. Estremoz tem um património histórico e cultural riquíssimo bem notório pelos imensos monumentos e espaços museológicos espalhados pela cidade.

A cidade divide-se em duas partes: a mais antiga com ruelas estreitas e o seu casario medieval junto ao castelo e, fora das muralhas, a zona mais moderna e de serviços à volta do grande largo do Rossio Marquês de Pombal (que segundo os locais é a maior praça do país…).

A região de Estremoz tem ocupação humana desde o período Paleolítico. A localidade foi ocupada por romanos e muçulmanos. No século XIII, D. Afonso III concede foral a Estremoz, criando-se assim o seu concelho. Aqui residiram vários monarcas portugueses, com destaque para D. Dinis e para a Rainha Santa Isabel.

A “cidade branca”, assim conhecida devido ao seu casario e às jazidas de mármore banco (onde é produzido mais de 80% de todo o mármore branco de Portugal e segundo maior exportador de mármore do mundo), também é terra dos emblemáticos Bonecos de Estremoz, figurativo alentejano feito de barro e pintado de cores garridas, Património Cultural Imaterial da Humanidade UNESCO.

Numa visita por Estremoz não pode deixar de visitar o seu castelo medieval (século XII) com uma torre totalmente construída em mármore branco, denominada “Torre das Três Coroas”, por ter sido edificada ao longo dos reinados de D. Afonso III, D. Dinis e D. Afonso IV. Visite ainda a igreja de Santiago, a igreja de Nossa Senhora da Conceição dos Congregados, a igreja de São Francisco, a igreja de Santa Maria (matriz de Estremoz), as Torres da Couraça, o Pelourinho de Estremoz e admire os vários palacetes e demais arquitectura da cidade.

Se o tempo disponível permitir, passe ainda pelo Teatro Bernardim Ribeiro (um dos mais bonitos do país), pela Galeria Municipal Dom Dinis, pelo Museu Berardo (com a maior e mais importante colecção privada de azulejos de Portugal), pelo Centro Ciência Viva de Estremoz, o Núcleo Museológico da Alfaia Agrícola e pelo Museu Municipal onde, para além da reconstituição de uma casa típica alentejana do século XIX, pode ver as colecções dos Bonecos de Estremoz.


Vila Viçosa

Vila Viçosa é uma pérola “perdida” no Alentejo, é mais uma maravilhosa localidade fora das grandes rotas turísticas do nosso país. Esta pequena e bela cidade alentejana para além do seu centro bastante pitoresco, tem um vasto património histórico e arquitectónico para descobrir. Se Estremoz está ligada ao mármore branco, Vila Viçosa é conhecida pelo abundância de mármore rosa, com de mais de 160 pedreiras. Vila Viçosa fica a cerca de 35 quilómetros de Évora Monte.

Vila Viçosa respira realeza por todas as artérias da cidade. Perca-se pelas suas ruas e comece logo pelo Paço Ducal de Vila Viçosa (século XVI), um imponente palácio no coração da cidade que se tornou uma das residências favoritas da corte real portuguesa. Logo ao lado tem o Real Convento das Chagas de Cristo (também do século XVI) com a sua pousada. Na outra extremidade do terreiro fica a igreja do Convento dos Agostinhos ou o Panteão dos Duques de Bragança (século XIII). Passeie-se pelas ruas da cidade e pela praça da República onde fica a majestosa igreja de São Bartolomeu (também conhecida por igreja de São João Evangelista ou ainda igreja do Colégio dos Jesuítas), com uma magnífica fachada revestida com os mármores rosa da região.

Siga para o Castelo de Vila Viçosa, mandado construir por D. Dinis no século XIII e para o Santuário de Nossa Senhora da Conceição (padroeira de Portugal), passando pelo Pelourinho de Vila Viçosa. Aqui ainda pode visitar a Fortaleza de Vila Viçosa (século XVII) que alberga o Museu de Arqueologia e o Museu da Caça.

Vila Viçosa também é terra de vários templos interessantes, visite a Igreja da Lapa, a Capela de São João Baptista da Carrasqueira, Igreja e Convento dos Capuchos, Igreja de Nossa Senhora da Esperança e a Igreja da Misericórdia. Se tiver tempo faça uma vista aos Museus Municipais existentes como a Casa Bento de Jesus Caraça, a Coleção Visitável da Farmácia Monte, o Museu do Mármore, o Museu do Estanho, o Museu Agrícola, o Museu de Arte Sacra e a Casa de Florbela Espanca.

Pode e deve finalizar a visita a Vila Viçosa com uma visita guiada a uma pedreira de mármore.


Évora

A cidade de Évora é a capital do Alentejo e fica a cerca de 30 quilómetros de Évora Monte. É uma cidade grande, no entanto, tranquila e muito acolhedora. A cidade visita-se bem a pé, percorrendo as suas ruas estreitas do centro histórico, onde vamos descobrindo a sua história e os seus muitos monumentos. Apesar da região ter sido povoada desde há muitos milénios antes de Cristo, Évora teve o seu grande crescimento durante a época romana e, no século XV, foi escolhida pelos reis de Portugal para ali viverem ou passarem grandes temporadas (D. João II. D. Manuel e D. João III), facto que contribuiu para o seu grande desenvolvimento. A cidade de Évora é Património Mundial da UNESCO desde 1986.

Évora requer algum tempo para uma visita, (na minha opinião, um dia não chega…). Estacione o carro num dos vários estacionamentos à voltado Jardim Público e parta à descoberta. Percorra as suas ruas estreitas, visite a Praça do Giraldo (o coração da cidade) com muitas lojas nos seus edifícios com arcadas, cafés e esplanadas. É aqui que fica o posto de turismo. Aqui pode encontrar a igreja de Santo Antão e o (famoso) chafariz de mármore. Visite a igreja da Graça, a igreja dos Lóios, a igreja da Misericórdia, a Sé (a maior catedral medieval do país), o Templo Romano, as Termas Romanas, as muralhas medievais, a igreja de São Francisco e a capela dos Ossos. Deverá ainda visitar o Museu de Évora (antigo palácio dos arcebispos, que alberga esculturas romanas, artefactos visigóticos e medievais, e pinturas portuguesas e flamengas), a Fundação Eugénio de Almeida, o Palácio D. Manuel e a antiga Universidade, fundada no século XVI.

Se ainda tiver tempo, não deixe de visitar o Cromeleque dos Almendres (o maior da Península Ibérica) com milhares de anos e 95 monólitos. Fica a cerca de meia hora da cidade.


Serra d’Ossa

Pulmão verde de vários concelhos alentejanos, a Serra d’Ossa ergue-se majestosa na magnífica paisagem alentejana entre Estremoz, Borba, Vila Viçosa, Alandroal e Redondo, com 653 metros de altitude, e a cerca de 30 quilómetros de Évora Monte.

Na Serra d’Ossa, na imponente beleza da serra, ergue-se o antigo Convento de São Paulo (século XII), hoje convertido em hotel e existem diversas grutas com cerca de mil anos, do tempo dos monges ermitas. Para quem gosta de caminhadas e de passadiços, tem aqui os Passadiços da Serra d’Ossa que ligam a aldeia da Serra à Ermida da Nossa Senhora do Monte da Virgem, numa extensão de 1,7 quilómetros.


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