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Foto do escritorJoão Pais

Romeu: a beleza e a simplicidade do nordeste transmontano


A pequena aldeia de Romeu, no nordeste transmontano
A pequena aldeia de Romeu, no nordeste transmontano

O nordeste transmontano é uma das regiões mais bonitas de Portugal e está repleto de locais à espera de serem descobertos. E Linha de Terra adora vir para estes lados. Aqui ainda é possível encontrar pequenas aldeias (mais ou menos) preservadas que foram resistindo ao tempo, à modernização, ao despovoamento e que ainda preservam as suas tradições ancestrais. É a cerca de 20 minutos de Mirandela, em plena terra quente transmontana, que vamos encontrar a pequena aldeia de Romeu. Jerusalém de Romeu de seu nome completo, também apelidada de “aldeia das rosas”, devido às imensas roseiras que possui espalhadas por toda a aldeia. Romeu é uma pequena e encantadora aldeia no município de Mirandela, conhecida por muitos devido ao excelente restaurante Maria Rita, pouso regular de bons comensais e amantes da cozinha tradicional portuguesa e transmontana.

Restaurante Maria Rita, pouso regular de bons comensais
Restaurante Maria Rita, pouso regular de bons comensais

Romeu é uma pequena aldeia transmontana, com cerca de 50 habitantes, mas com uma história muito interessante e repleta de pontos de interesse. Pode-se chegar a esta pequena pérola da terra quente transmontana através da auto-estrada A4, mas recomendo que o façam a partir de Mirandela através da Nacional 15 que, paisagisticamente, torna a viagem muito mais agradável.

Esta pitoresca aldeia situa-se num vale verdejante entre vastos olivais e matas de sobreiros. Romeu ainda preserva as suas casas de arquitectura tradicional transmontana, casas de pedra, quase todas recuperadas, e que mantêm a sua traça original. A serenidade e o aspecto bucólico da aldeia ajudam a manter o ambiente rural que por aqui ainda se sente. A aldeia não é grande, mas tem meia-dúzia de pontos de interesse que nos levam a percorrer um pouco da história da aldeia.

A aldeia preserva as suas casas tradicionais de pedra
A aldeia preserva as suas casas tradicionais de pedra

Origem de Romeu

Pouco se sabe acerca da origem deste lugar e sobre o seu povoamento. Calcula-se que os terrenos hoje ocupados pela povoação terão pertencido a uma quinta medieval (talvez do século XIII) que, depois, terá dado origem ao povoado.

D. Sancho I, segundo rei de Portugal, doou a “Villa” de Mascarenhas ao fidalgo Estêvão Rodrigues (cavaleiro que terá acompanhado o monarca na tomada de Elvas e Torres Novas), onde se incluía o local de Romeu.

Terá sido aquele fidalgo a mandar povoar o lugar.

Mais tarde, este território terá sido doado à Ordem do Hospital de São João de Jerusalém (que mais tarde daria origem à Ordem de Malta) que aqui terá mantido uma dependência e cujos cavaleiros fundaram a ermida de Nossa Senhora de Jerusalém.


A família Menéres

A partir do século XIX a história da aldeia está intimamente ligada ao nome da família Menéres, uma família de verdadeiros benfeitores que aqui investiu e criou condições para o desenvolvimento da localidade e da sua população.

Clemente Menéres negociava vinhos e cortiças para o norte da Europa e para o Brasil. Natural de Vila da Feira, em 1874, Clemente Menéres, depois de ter viajado pela Europa, visita pela primeira vez Trás-os-Montes em busca de propriedades com sobreiros que lhe assegurassem a produção de cortiça. Ao chegar a Romeu ficou na estalagem da D. Maria Rita – a única que ali existia –, e pediu para lhe fazerem bacalhau. Bacalhau que foi servido e acompanhado de pão negro de centeio.

Comprou sobreiros e terrenos, instalou-se na aldeia onde criou a Quinta do Romeu, que depois originou a Sociedade Clemente Menéres, refaz as vinhas (então vitimadas pela praga da filoxera) e alarga os olivais existentes. Atento às necessidades da população local, construiu uma escola primária, assegurando o salário dos professores.

Uma das propriedades da família de Clemente Menéres
Uma das propriedades da família de Clemente Menéres

Em 1878, é aqui que cria a sua primeira fábrica de rolhas que, mais tarde, viria a crescer e a ser transferida para Mirandela. Anos depois, devido às dificuldades inerentes a uma cidade do interior do país, resolve mudar a fábrica para o Convento de Monchique, no Porto. Em 1897, manda reconstruir a ermida de Nossa Senhora de Jerusalém. Devido à sua influência junto dos poderes públicos do norte do país, consegue que o caminho de ferro passe por Romeu e, em 1905, a linha do Tua chega a Romeu.

A história de Romeu e o legado da família Menéres continuam intimamente ligados até à geração actual. O filho de Clemente Menéres, José, fundou a “Cooperativa Por Bem” para abastecer os habitantes de mercearia e produtos de primeira necessidade, criou a Casa do Povo, com consultório médico, farmácia e biblioteca, onde, mais tarde, se criaria um grupo de teatro e onde se começaram a passar filmes (numa máquina cinematógrafo, de 1912, que trabalhou no Cinema Pathé, na cidade do Porto e que hoje se encontra no Museu de Curiosidades). Depois de José falecer, o seu irmão, Manuel Menéres, recuperou as casas dos lugares vizinhos de Vale de Couço e de Vila Verdinho, criou uma creche, um jardim de infância e funda o Museu de Curiosidades. Quando Maria Rita faleceu, a estalagem fechou e ficou em ruínas até ser adquirida e restaurada, em 1966, por Manuel Menéres, transformando-a num restaurante. O mesmo que ainda existe hoje.

Ao fim de 150 anos o património de Clemente Menéres mantém-se na família, mantendo-se fiel à sua estratégia, às culturas tradicionais e com a convicção de que os naturais da região são quem melhor sabem tratar destas culturas.

O topónimo Romeu

O topónimo da aldeia poderá derivar da junção da designação da Ordem do Hospital de São João de Jerusalém, que aqui terá tido uma dependência na época medieval, com o significado de Romeu, que vem do latim romaeus, que designava um peregrino a Roma, um romeiro.



A beleza de Romeu

Ao chegarmos a Romeu, ainda na Nacional 15, destacam-se as grandes casas amarelas com letras azuis. Era aqui que funcionavam a Casa do Povo, o salão de festas e a escola primária manda construir por Clemente Menéres.

Viramos pela EM572, mesmo ao lado da Quinta do Romeu. Logo ao cimo, avista-se a antiga estação de caminhos de ferro. E, logo mais à frente, do lado esquerdo, o acesso à capela de Nossa Senhora de Jerusalém, por entre um vasto olival. Deixei a visita à capela para o final da minha passagem por Romeu.

Ermida de Nossa Senhora de Jerusalém
Ermida de Nossa Senhora de Jerusalém

São cerca de três minutos (de carro) até chegarmos ao centro da aldeia. Aqui vamos encontrar um bonito largo ajardinado (o largo da Paz) , à volta do qual se desenvolve o centro da pequena povoação. Romeu é uma pequena mas lindíssima aldeia transmontana e à volta do seu largo podemos observar que a aldeia ainda conserva as suas bonitas casas de arquitectura tradicional, em pedra e mantendo a sua traça original. Aqui podemos encontrar algumas casas bem antigas. O restaurante Maria Rita e a pequena capela destacam-se no centro da aldeia.

Passeie pelo largo da aldeia, observe as casas e aprecie a calma e a paz que aqui se vive. Aproveite o ar puro, respire fundo e sinta o aroma das rosas.

No centro do largo, encontra-se a pequena capela dedicada a Nossa Senhora do Rosário e, já um pouco afastada do centro da aldeia a igreja matriz, dedicada a Nossa Senhora da Anunciação.

Não deixe de visitar o Museu de Curiosidades com peças recolhidas pela família Menéres ao longo dos anos, onde se inclui um Ford T, e a Loja do Romeu onde pode adquirir o excelente azeite, vinho, mel ou compotas produtos de grande qualidade produzidos na Quinta do Romeu.

No regresso subi ao monte onde se situa a ermida de Nossa Senhora de Jerusalém. A ermida, que se situa numa pequena elevação rodeada por olivais é um excelente miradouro com vistas desafogadas. Por isso, vale a pena fazer o desvio para visitar a pequena capela e fazer uma pequena pausa, pois aqui as vistas são fantásticas.

Antiga passagem de nível de Romeu
Antiga passagem de nível de Romeu

O caminho de ferro

De regresso à EN15, é necessário virar à direita para ver a ponte do caminho de ferro, junto à antiga passagem de nível. A ponte sobre a ribeira da Açoreira fazia parte da Linha do Tua que ligava a cidade de Bragança a Foz Tua, na linha do Douro.

O projecto de construção desta linha iniciou-se em 1878 e foi desactivada em 1991. A Linha do Tua tinha 134 quilómetros de extensão e acompanhava o percurso do rio Tua desde a sua foz, no rio Douro, até Mirandela e, depois, seguia para Macedo de Cavaleiros e Bragança.

O caminho de ferro chegou a Romeu em 1905, graças à persistência de Clemente Menéres.


O que visitar em Romeu

Apesar de ser uma localidade pequena, a aldeia de Romeu está repleta de motivos de interesse, quer sejam as suas casas tradicionais de construção antiga, os seus monumentos religiosos ou o seu passado histórico e cultural são dignos de uma visita atenta e demorada.

Capela de Nossa Senhora do Rosário
Capela de Nossa Senhora do Rosário

Capela de Nossa Senhora do Rosário

Localizada no largo da Paz, no centro da aldeia, enquadrada por um jardim, a capela de Nossa Senhora do Rosário, é um templo construído em granito, em finais do século XVI (apresenta gravado na pedra o ano de 1596). Na sua fachada, inteiramente de pedra, podemos observar uma sineira coroada com uma cruz latina.

Em frente a capela, ergue-se um cruzeiro de aspecto tosco, mas já datado do século XX.


Fontanário da aldeia
Fontanário da aldeia

Tanque e fontanário da aldeia

Bem perto da capela de Nossa Senhora do Rosário, num pequeno largo envolto por árvores, fica o tanque comunitário e o fontanário da aldeia, uma obra de 1935, conforme se pode ler na placa afixada no espaldar do fontanário.

Igreja paroquial de Romeu, ou igreja de Nossa Senhora da Anunciação
Igreja paroquial de Romeu, ou igreja de Nossa Senhora da Anunciação

Igreja paroquial de Romeu

A igreja paroquial de Romeu, ou igreja de Nossa Senhora da Anunciação, encontra-se em local isolado, já nos limites da aldeia. A igreja de Nossa Senhora da Anunciação é uma construção simples e encontra-se rodeada por campos com oliveiras. O templo é datado do século XVI, construído em cantaria de granito e apresenta na sua fachada dupla sineira e cruz latina.

Museu de Curiosidades

Este é o local onde se faz uma fantástica viagem no tempo pelas memórias e objectos do passado. O museu apresenta uma interessante colecção de antiguidades e de inúmeros objectos recolhidos pela família Menéres ao longo dos anos. Aqui vamos encontrar quase tudo: objectos relacionados com a vida rural no final do século XIX e início do século XX, automóveis antigos (um Ford T, de 1909, e até um antigo carro de bombeiros), bicicletas, relógios, máquinas de costura, máquinas fotográficas, máquinas de projecção de cinema (que projectavam os filmes na Casa do Povo), grafonolas e uma das juke-boxes mais antigas do mundo. O Museu abre entre as 12 e as 17 horas e está fechado às segundas todo o dia e quartas de tarde.

Loja do Romeu

Este é o local ideal para trazer uma recordação da aldeia. Na Loja do Romeu vai encontrar produtos produzidos na Quinta do Romeu, como o excelente azeite, vinho, mel ou compotas. Aqui ainda pode encontrar peças de artesanato. A loja está aberta entre as 10 e as 18 horas. À quarta-feira, entre as 12 e as 16 horas. Encerra à segunda-feira.


Ermida de Nossa Senhora de Jerusalém mandada construir pelos cavaleiros da Ordem do Hospital
Ermida de Nossa Senhora de Jerusalém mandada construir pelos cavaleiros da Ordem do Hospital

Ermida Nossa Senhora de Jerusalém

Vistas da ermida de Nossa Senhora de Jerusalém
Vistas da ermida de Nossa Senhora de Jerusalém

Ao chegar ao centro da aldeia, do lado esquerdo, logo a seguir ao edifício da estação ferroviária, vamos passar por uma imagem de Nossa Senhora de Jerusalém esculpida numa pedra, ao lado de uma estrada estreita e em paralelos. Essa estrada leva-nos até uma elevação repleta de oliveiras. No topo, fica a ermida de Nossa Senhora de Jerusalém com um grande lago. Para além de sombra refrescante, aqui ainda vai encontrar um coreto e um cruzeiro.

A ermida de Nossa Senhora de Jerusalém é um pequeno templo do século XVI que, no seu interior, tem uma imagem de Nossa Senhora de Jerusalém no altar-mor e uma pintura representando a aparição de nossa senhora à pastora.

O local está associado a uma lenda que nos conta que a capela foi construída pela comunidade, a pedido de uma pastora a quem a Nossa Senhora apareceu. Para atestar a verdade desta solicitação, Nossa Senhora fez brotar água, escassa na altura, na fonte do cabeço, assim como todo o dinheiro necessário para a construção da ermida, a pastora encontraria num buraco ou numa lapa. Vale a pena fazer o desvio para visitar esta pequena ermida e fazer uma pausa retemperadora, pois aqui as vistas são fantásticas.


Estação ferroviária de Romeu

Logo acima da estrada municipal 572 que serve a aldeia, está a antiga estação ferroviária de Romeu. A estação, aparentemente abandonada, fazia parte da Linha do Tua e foi construída no início do século XX, quando o comboio aqui chegou.

As instalações eram compostas pelo edifício de passageiros e cais de embarque coberto, casa de habitação de pessoal e instalações sanitárias.

O edifício principal, em cantaria de granito rebocado, estava dividido entre áreas de serviço e sala de espera, no piso térreo, e habitação do chefe de estação, no segundo piso. A estação de Romeu tinha linha principal e secundária e agulhas para mudança de via. A montante da estação fica a ponte metálica.

A ponte do caminho de ferro de Romeu fazia parte da Linha do Tua
A ponte do caminho de ferro de Romeu fazia parte da Linha do Tua

Ponte ferroviária de Romeu

Na estrada nacional 15, junto a um estaleiro de obras e ao antigo posto de passagem de nível (em avançado estado de degradação), podemos observar a ponte ferroviária de Romeu. Esta ponte sobre a ribeira da Açoreira é(ra) a maior ponte da Linha do Tua (134 quilómetros). A ponte metálica, agora desactivada, é uma estrutura imponente e bela, assente em dois pilares de ferro e apoiada em dois pontões de pedra.

A ponte foi construída no início do século XX e vale a pena a “visita” pela sua espectacularidade. Como curiosidade, nos anos 70 do século passado, este local era bastante frequentado por fotógrafos de toda a Europa que aqui se deslocavam para fotografar os comboios a vapor.

Restaurante Maria Rita

Hoje integrado na Quinta do Romeu, o restaurante Maria Rita é uma “instituição” da gastronomia nacional, um sítio histórico que utiliza os produtos de excelência (biológicos) produzidos na quinta. Frequentado por amantes da boa cozinha, o Maria Rita foi distinguido internacionalmente e, por cá, foi eleito, em 2018, como uma das “7 Maravilhas à Mesa”.

O Maria Rita tem uma história que remonta ao século XIX. O seu nome remete para a antiga estalajadeira que, em 1874, deu abrigo a Clemente Menéres, quando este, vindo do Porto para comprar sobreiros, pediu para lhe arranjarem bacalhau que, na altura, veio acompanhado de pão negro de centeio.

Após a morte de Maria Rita, a família Menéres adquiriu o espaço, então em ruínas. Recuperou-o e reabriu o restaurante, em 1966, com o recheio de uma das suas casas, com a sua cozinheira e com as receitas da família.

A carta mantém-se inalterada desde essa época, sendo um dos seus pratos principais o Bacalhau à Romeu (prato que Clemente Menéres comeu, em 1874, quando aqui chegou).

O restaurante Maria Rita encerra à segunda-feira e ao domingo ao jantar.

Ali perto...

Cortiços

A cerca de cinco quilómetros de Romeu, mas já no concelho de Macedo de Cavaleiros, a aldeia de Cortiços tem alguns pontos de interesse. Cortiços foi vila e sede de concelho até meados do século XIX, e na aldeia podemos observar alguns solares e casas brasonadas que se destacam do restante casario. Há ainda a destacar a igreja paroquial, igreja de São Nicolau (século XVI), e a capela de Santo António (século XVII), bem como o Núcleo Museológico do Azeite.


Avantos

A seis quilómetros de Romeu fica Avantos, uma pequena localidade onde de entre o seu casario com algumas casas solarengas, e de construção tipicamente transmontana com as suas varandas em madeira, destaca-se a igreja paroquial, ou igreja de Santo André, um templo de provável construção no século XVI. A igreja tem um interior muito rico, apresentando o tecto com cobertura de madeira, integralmente preenchida com caixotões pintados e painéis nas paredes. A capela-mor também está ricamente decorada com talha dourada e caixotões pintados no tecto.

Mirandela

Mirandela é uma cidade a cerca de 14 quilómetros de Romeu. A cidade de Mirandela é banhada pelo rio Tua. À sua volta, encontram-se muitos montes e, por essa razão, em Mirandela verifica-se um microclima caracterizado por Verões abafados e quentes, sendo daí a origem do nome Terra Quente Transmontana.

A povoação é muito antiga, anterior aos Romanos, é uma cidade muito bonita e cheia de atracções, monumentos e zonas de lazer. Não faltam pontos de interesse onde passar um dia muito agradável. Mirandela também é conhecida pela sua gastronomia e pela Alheira.

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