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Foto do escritorJoão Pais

Guadramil

Atualizado: 13 de abr. de 2021



Guadramil é uma pequena aldeia transmontana perdida (e parada no tempo) no concelho de Bragança. Aqui quase que somos “obrigados” a viajar no tempo, retroceder décadas, ou mesmo séculos, e ter uma ideia de como era viver em terras de Trás-os-Montes há muito tempo atrás.

Sei que tenho trazido até aqui, a este espaço, pequenas aldeias mais ou menos “perdidas no tempo” e no meio das magníficas serras deste país, umas mais do que outras. Não sei se é uma espécie de escape físico e mental, ou se será o fugir de meia vida vivida no corre-corre das grandes cidades. É uma atracção e um gosto pessoal por este tipo de espaços. É olhando para o passado, para estes retratos vivos do nosso passado, que se consegue perceber o presente e pensar o futuro. Guadramil está “muito acima” do que eu tinha visto até aqui. A aldeia parou completamente no tempo… há muito tempo com tudo o que tem de bom e de mau. O bom, é que temos oportunidade de viver e conhecer o passado dessas aldeias e das suas gentes in loco e como era naquele tempo; o mau, é que (quase) tudo parou “naquele tempo”, inclusivamente a manutenção desses espaços e das suas casas. A juntar a este desinvestimento na manutenção, temos que juntar o forte despovoamento.

A aldeia de Guadramil fica na estrada nacional 308 que a liga à pitoresca aldeia de Rio de Onor (de que falaremos no próximo texto), já não muito longe desta última localidade, em pleno Parque Natural de Montesinho. Guadramil praticamente estende-se ao longo de uma única rua que passa ao lado das águas límpidas do rio que recebe o nome da aldeia. A rua, estática, ficou parada no tempo, enquanto as águas do pequeno rio, em constante movimento, correm para outro destino.

Estacionar o carro e percorrer a aldeia a pé, é quase digno de uma cena de David Lynch. É quase surreal. Não há pessoas, não há cães, não há gatos, praticamente só nós e umas paredes de pedra. Parece que aqui a vida parou… E, na realidade, parou há muito tempo.

As casas apresentam-se vestidas de xisto, com os seus alpendres em madeira e nas suas toscas portas ainda podemos observar

as cravelhas (fechos de madeira). Há casas a cair e janelas partidas. Aqui e ali uma ou outra casa cuidada, com flores nas varandas e cortinados de renda nas janelas. Mas são poucas.




Nota-se que a aldeia tem pouca vida, não há qualquer sinal de modernidade, não há (muitos) materiais novos para recuperar as velhas casas, porque aqui já não vive muita gente. Guadramil não deve ter mais do que duas dezenas de habitantes (quase todos idosos). Aqui as ervas vão tomando conta das seculares construções e da berma da rua.

Percorro a pequena aldeia a pé, subo uma ladeira até à igreja de São Vicente (século XVI / XVII), imponente lá no alto. Mais à frente, avisto um lavadouro junto ao rio e algumas hortas. A aldeia está deserta.

Local de passagem para Rio de Onor, cujo caminho é indicado por uma pequena seta de madeira. Guadramil foi durante muitos anos uma aldeia comunitária, onde se partilhava o rebanho e algumas tarefas agrícolas. A aldeia ainda apresenta um lagar, um moinho e uma forja comunitária (que podem ser visitados). Antigamente, por estes lados, falava-se o guadramilês, uma derivação do latim. Hoje já não há quem leve as azeitonas para o lagar, não há quem moa no moinho, a forja já não tem uso e ninguém fala o guadramilês.

Guadramil é uma pequena aldeia que parou no tempo onde, hoje, parece que nem os carros de passagem para Rio de Onor aqui querem parar. A aldeia está condenada ao abandono se ninguém olhar para ela com atenção. E é uma pena!


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