Ouguela: A fortaleza perdida na planície
- João Pais
- 13 de nov.
- 15 min de leitura

Ouguela é uma pequena localidade perdida num recanto do território nacional. É uma aldeia raiana muito próxima da linha de fronteira com Espanha que, por estas bandas, ainda se traça… Ouguela é um daqueles sítios onde não se passa a caminho de algum lado. Tem que se ir lá. E tem que ir mesmo!
Em pleno Alentejo, junto a Campo Maior, a aldeia histórica de Ouguela é um pequeno aglomerado de casas que se desenvolveu junto às muralhas da sua fortaleza. Durante séculos, Ouguela teve um papel importante na defesa do nosso território mas, hoje, é uma aldeia praticamente esquecida onde se sente uma profunda tranquilidade e onde se bebe a beleza do Alentejo raiano.

Ouguela, que já foi vila e sede de concelho, há muito que permanece adormecida no tempo. Entorpecida como os corpos dos viajantes, pouco habituados a este canícula alentejana que, mesmo fora de época, teima em entorpecer quem por aqui passa, como se não fosse suficiente a beleza e o sossego da planície.
Ouguela é uma aldeia histórica da raia, bem perto de Campo Maior. Aliás, não dista mais do que sete ou oito quilómetros dos limites desta vila alentejana. A localidade conta com um pequeno aglomerado de casas que se desenvolveu junto às muralhas da sua fortaleza. São algumas dezenas de casas, a grande maioria agrupadas em torno de quatro ruas estreitas.
Depois de ter tido um papel importante na nossa História e na defesa do nosso território, Ouguela é uma aldeia praticamente abandonada onde vivem pouco mais de meia centena de pessoas. A aldeia e o seu castelo (apesar das obras de restauro e requalificação) já viram melhores dias. Ouguela é um local isolado, silencioso, onde não se vê vivalma. Talvez nos tempos do contrabando tivesse mais vida. A aldeia fronteiriça sofre da desertificação característica das zonas do interior do país.
Mas é precisamente esta calma, este silêncio, apenas quebrado pelo cantar dos pássaros e a beleza da paisagem avistada das muralhas da fortaleza que nos fazem querer ficar mais um pouco. Talvez até ao por do sol.
Ouguela visita-se relativamente rápido com uma visita ao castelo e à sua igreja paroquial “encaixada” nas muralhas da fortaleza. Mas, tendo tempo, deve dar um salto à atalaia, à fonte de águas termais e à ermida de Nossa Senhora da Enxara, que ficam ali próximo. Traga água, traga lanche, porque aqui não vai encontrar qualquer estabelecimento.
Como chegar a Ouguela
A povoação de Ouguela e o seu Castelo situam-se numa pequena elevação no meio da vasta planície alentejana a norte da vila de Campo Maior, já a pouca distância da fronteira com o país vizinho.
O acesso a Ouguela deverá ser feito a partir da vila de Campo Maior, seguindo depois pela N373, em direcção a Espanha (Albuquerque). São cerca de sete ou oito quilómetros entre olivais e campos de cultivo. Outra alternativa (menos prática) é em Degolados sair da N371, no cruzamento dos semáforos, e seguir por uma estrada secundária de acesso a zonas de cultivo, montes e herdades (são cerca de 15 quilómetros).

A Origem de Ouguela
Calcula-se que a primitiva ocupação de Ouguela remonte à proto-história, onde aqui terá existido um castro pré-romano que, depois, terá sido ocupado pelos Romanos, como o comprovam os diversos vestígios existentes na região. A partir do século V, o povoado foi ocupado pelos Visigodos e, a partir do século VIII, pelos Muçulmanos, que aqui terão construído uma fortaleza. Em 1230 dá-se a conquista definitiva aos mouros pelas tropas de Castela e de Leão e, a partir de 1297, Ouguela passou a fazer parte da coroa portuguesa devido à assinatura do Tratado de Alcanizes.
O topónimo Ouguela
Na altura da ocupação romana o povoado onde hoje se situa Ouguela chamava-se “Budua” ou “Budunua” e, mais tarde com a ocupação visigótica passou a chamar-se “Niguela”, nome que viria a ser mantido pelos Muçulmanos. A actual denominação Ouguela poderá ter origem na palavra latina aquella, que queria dizer “aguazinha”.

A história de Ouguela
Com a Reconquista Cristã da Península Ibérica, Ouguela passou a fazer parte do reino de Leão e Castela, passando, posteriormente, a pertencer a Portugal a partir do Tratado de Alcanizes. Ouguela desempenhou um papel importante ao longo da história, tendo sido, durante séculos, uma das praças fortes que defendia o Alto Alentejo integrando a primeira linha de defesa da raia alentejana, juntamente com as fortificações de Elvas, Campo Maior, Olivença e Juromenha.
Ouguela foi definitivamente conquistada aos mouros em 1230 pelos castelhanos. Com a assinatura do Tratado de Alcanizes (1297), no reinado de D. Dinis, Ouguela, Campo Maior e Olivença passam a pertencer à coroa portuguesa. D. Dinis manda então reedificar o seu castelo que estava em muito mau estado e atribui Foral à vila em 1298 (renovado, depois, por D. Manuel, em 1512). Entre 1367 e 1385 dá-se a a ampliação da cerca muralhada e a edificação da primitiva igreja, que se situava no centro da praça.
Durante séculos, Ouguela foi uma das praças fortes que defendia o Alto Alentejo das invasões castelhanas tendo sido cercada por diversas ocasiões: durante a crise de 1383-85; mais tarde, em 1475, foi atacada pelos castelhanos, ataque que terminou num duelo entre João da Silva, camareiro-mor do príncipe D. João II e alcaide de Ouguela e João Fernandes Galindo, alcaide-mor de Albuquerque (localidade vizinha do outro lado da fronteira); durante a Guerra da Restauração (em 1642) e durante a Guerra da Sucessão de Espanha (em 1709). Ouguela chegou mesmo a ser ocupada pelos castelhanos, em 1662, ainda no decorrer da Guerra da Restauração e, em 1801, na Guerra das Laranjas.
Durante o século XVII dá-se o início da construção da fortaleza abaluartada, e já se encontravam construídas a casa da Câmara e as casas dos oficiais e das famílias dos militares. No século XVIII é construída a igreja de Nossa Senhora da Graça e as casas de governação da praça.
Já no século XIX, a área Oeste do castelo passa a funcionar como cemitério da povoação.
Ouguela foi vila e sede de concelho até 1836, passando depois, a integrar o território de Campo Maior.

Ouguela nunca foi um grande povoado, mas nos seus tempos áureos terá tido mais de 600 habitantes. Hoje, deve contar com pouco mais de meia centena. Com o fim das praças militares, Ouguela perdeu relevância e entrou em decadência. Em 1840 a praça forte de Ouguela foi desmilitarizada e daí para cá a localidade tem sido vítima do abandono e do esquecimento. Apesar do isolamento e do abandono, as muralhas do seu castelo teimam em permanecer de pé, elevando-se e permanecendo de sentinela na pacatez e na beleza da planície.
Em finais do século XIX, Ouguela esteve quase a desaparecer, tendo o seu desaparecimento sido evitado por um filantropo que se interessou pela localidade, aplicando os seus recursos financeiros e a sua influência a favor de Ouguela e dos seus habitantes. Chamava-se Carlos Ramiro Coutinho (mais tarde Visconde de Ouguela), era licenciado em Direito pela Universidade de Coimbra, reconhecido como um dos mais notáveis advogados de Lisboa, deputado e íntimo da família real e de relação próxima com o rei D. Luís.
Ouguela e a fronteira nacional
Ouguela passou a ser portuguesa durante o reinado de D. Dinis, em 1297, pelo Tratado de Alcanizes (celebrado entre D. Dinis e Fernando IV de Castela), que estabeleceu a primeira demarcação da linha de fronteira entre Portugal e Castela. O Tratado de Alcanizes foi um acordo de definição de fronteiras que pretendia resolver vários focos de conflito entre Portugal e Castela, evitando que pequenas disputas territoriais pudessem arrastar os dois países para um conflito maior.
O Tratado de Alcanizes enumerou um conjunto de localidades entre as duas nações que foram definitivamente entregues a um e a outro lado. Entre as localidades que passavam a pertencer a Portugal estavam Campo Maior, Ouguela e Olivença. Em contrapartida, Ayamonte, Herrera de Alcântara ou Valência de Alcântara ficaram pertenças a Castela.

A fronteira entre Portugal e Espanha tem mais de sete séculos e é a mais antiga e estável fronteira da Europa, mas sabemos que a estabilidade da fronteira então definida foi mais aparente do que real. O Tratado de Alcanizes, nas suas linhas gerias, foi respeitado ao longo de mais de 700 anos mas, ao longo da História, a linha de fronteira conheceu avanços e recuos. Houve, no entanto, exceções. Uma delas é a localidade de S. Félix dos Galegos, perto de Almeida, que voltou ao domínio castelhano pouco depois da assinatura do tratado e que hoje pertence a Salamanca. Mais tarde, entre 1705 e 1715, Albuquerque (em frente a Ouguela), que é hoje um território de Badajoz, esteve sob domínio português em consequência da Guerra de Sucessão de Espanha. Existe ainda o caso de Olivença, que foi ocupada por Espanha no princípio do século XIX e que permanece um assunto por resolver desde o Congresso de Viena, em 1815. Portugal nunca reconheceu formalmente a ocupação espanhola. Estas são algumas das excepções que ocorreram ao longo da fronteira entre Portugal e Espanha que, no entanto, nunca abalaram o valor do Tratado de Alcanizes nem a estabilidade da fronteira ao longo de mais de sete séculos de História.
Devido à “disputa” não assumida de Olivença por Portugal e Espanha, a linha de fronteira que separa os dois países ainda está interrompida entre o rio Caia, em Elvas, e a ribeira de Cuncos, em Mourão, onde ao longo de perto de cem quilómetros não foram colocados os marcos de fronteira. Inclusivamente, existe uma ponte sobre o Guadiana a ligar os dois países, a nova ponte de Ajuda, que não tem qualquer marco fronteiriço.
Até finais do século XVIII, devido à sua localização a norte do Caia e por estar numa região de vastas planícies, o castelo de Ouguela desempenhou uma importante função militar na defesa do país. Aqui, no castelo de Ouguela, começava a linha que defendia o corredor das terras banhadas pelos rios Xévora, Caia e Guadiana, e que integrava as praças militares de Campo Maior, Elvas, Juromenha e Olivença.
A importância do contrabando
Como qualquer localidade da raia, Ouguela viveu muito do contrabando: levava-se para Espanha o que lá não havia, e trazia-se para Portugal o que cá faltava. Era o modo de subsistência de muita gente.
Aqui, a linha de fronteira era isso mesmo, apenas uma linha imaginária. Para os contrabandistas de Ouguela, bem como de toda a raia, não existiam fronteiras – aqui devido à planura do território, ainda menos dificuldades se punham. Aproveitando a noite, percorriam os caminhos mais escuros por entre silvados e choupos, atravessavam rios e ribeiras onde a altura e a força da água o permitiam, tentando cortar caminho entre os dois países nesta vasta planície que se avista desde as muralhas do castelo. A cavalo ou a pé, os contrabandistas conheciam bem o terreno e os caminhos para conseguir fintar os guardas durante a calada da noite.

Os contrabandistas levavam e traziam as mercadorias (café, bananas, bacalhau) às costas durante a noite durante horas a fio, ou “passavam” pessoas que, por este ou por aquele motivo, pretendiam deixar o país – para procurar uma vida melhor, fugir à justiça ou mesmo fugir da guerra.
Com o “fim das fronteiras” e do controlo fronteiriço de pessoas e mercadorias, acaba-se o contrabando e a passagem de pessoas “a salto”. É o fim de uma era, mais ou menos próspera, para as povoações raianas. Vem a emigração e a debanda para o litoral, o anunciado declínio de Ouguela, com o fim das praças fortes fronteiriças, ficou ainda mais notório. E é isso que vemos hoje, quando visitamos Ouguela, uma localidade quase fantasma, onde quase não se vê ninguém.
Para além de ter ajudado muita gente, ter dado origem as muitas histórias (e a algumas lendas), é importante manter viva a memória desta actividade. A memória do contrabando é fundamental para a compreensão da história e da identidade de muitas localidades raianas.
Lendas de Ouguela
Também em Ouguela existem algumas lendas. Uma delas conhecida pela lenda do tamborzinho, terá tido origem no século XVIII. Conta-se que quando Ouguela esteve cercada durante uma guerra, e não sendo possível pedir socorro a Campo Maior, uma criança terá descido por uma figueira que existiu junto à muralha, transportando uma bandeira, uma mensagem escrita e o tamborzinho com que costumava brincar. Não tendo levantado suspeitas no campo espanhol, a criança ultrapassou as linhas inimigas e chegou a Campo Maior, entregando a mensagem.
Há uma outra lenda que se confunde com a realidade e conta-nos a ventura de uma heroína popular, Isabel Pereira, natural de Ouguela. Segundo a lenda, durante a Guerra da Restauração, Isabel Pereira terá ajudado com valentia no combate com os castelhanos. Conta-se que a mulher, no meio das trincheiras do campo de batalha, distribuiu pólvora e balas aos soldados portugueses. Ficando ferida, não parou e prosseguiu com a sua ajuda até ao fim da batalha, o que terminou com a vitória portuguesa.

O que visitar em Ouguela
A povoação de Ouguela implanta-se sobre uma pequena elevação na vasta planície alentejana, perto do local onde a ribeira de Abrilongo desagua no rio Xévora. O povoado, perto de Campo Maior, é pequeno mas tem alguns pontos de interesse, por isso merece uma visita. Hoje, a localidade conta com um pequeno aglomerado de casas brancas que se desenvolveu junto à fortaleza, mas ainda conserva algumas construções dos séculos XVII e XVIII no interior das muralhas. Para além do seu Castelo medieval e das posteriores fortificações abaluartadas, há que visitar a Casa do Governador, a cisterna, a igreja de Nossa Senhora da Graça e a ermida de Nossa Senhora da Enxara, ali bem perto.

Castelo de Ouguela
O Castelo de Ouguela ergue-se numa pequena elevação no meio da imensa planície alentejana, junto à linha de fronteira com Espanha. Muito provavelmente, o Castelo terá sido construído sobre um antigo castro ocupado pelos romanos. O Castelo de Ouguela teve um papel importante na defesa do território nacional, fazendo parte da primeira linha de defesa do Alto Alentejo, juntamente com as fortificações de Campo Maior, Elvas, Olivença e Juromenha.
O Castelo de Ouguela é de origem medieval mas terá sido muito transformado pelas obras setecentistas que lhe deram o aspecto actual.

O Castelo medieval apresenta-se protegido por uma fortaleza de planta poligonal irregular com muralhas, cubelos e torreões. Estas linhas defensivas foram construídas a mando de D. João IV, aquando da Restauração da Independência portuguesa, no século XVII. A toda a volta do Castelo existe um fosso e caminho de ronda. A entrada no Castelo faz-se por uma bela porta constituída por duas torres. A muralha é percorrida por adarve, com muretes de protecção de ambos os lados. No interior do recinto muralhado, destacam-se a torre de menagem e algumas construções, entre elas a Casa do Governador (um imponente edifício do século XVIII, entretanto recuperado e a funcionar como posto turístico). Adossadas às muralhas ainda se conservam algumas construções dos séculos XVII e XVII, provavelmente, os antigos quartéis e as habitações dos familiares dos militares. O Castelo de Ouguela possui uma imponente cisterna quadrangular com 12 metros de lado, que se encontra encerrada por um portão.
Vale a pena uma visita mais ou menos demorada ao Castelo de Ouguela, subir às suas muralhas e contemplar e apreciar o sossego e a bonita paisagem da planície alentejana. Da muralha, por cima da porta de armas avista-se, do lado espanhol, a fortificação de Albuquerque (Badajoz) que dista cerca de 15 quilómetros em linha recta.

Igreja de Ouguela
A igreja paroquial de Ouguela, igreja de Nossa Senhora da Graça, é um templo do século XVIII, de arquitectura barroca, bastante simples, de nave única e cobertura em abóbada. O templo encontra-se adossado ao Castelo, tendo a sua fachada principal ladeada por panos da muralha. A sala do trono apresenta cobertura em abóbada de berço e está integralmente revestida com belas pinturas murais setecentistas. Infelizmente, encontrava-se fechada aquando da minha visita.
Fonte de Nossa Senhora da Graça
Na encosta voltada a Norte, entre terrenos de cultivo e pastos, existe uma fonte de águas termais, com indicações para o tratamento de patologias do aparelho digestivo. A Fonte será do século XVII e apresentava um painel de azulejos do século XVIII, invocando Nossa Senhora da Graça. Recentemente a Fonte de Nossa Senhora da Graça sofreu obras de restauro.
Atalaia de São Pedro
O sistema defensivo de Ouguela era complementado por diversos postos avançados, pequenas torres de vigia que podiam alertar a fortaleza em caso de perigo iminente ou de tropas inimigas: as chamadas atalaias. Para além da Atalaia de São Pedro, havia a Atalaia do Gato (situada na chamada serra do Gato) com contacto visual com as Atalaias da Contenda, da Cabeça Gorda e com a praça de Ouguela. Hoje, todas elas desapareceram, restando a Atalaia de São Pedro.
A Atalaia de São Pedro é uma pequena torre de vigia, no meio de um olival e, possivelmente terá sido construída na segunda metade do século XVII. É uma construção quadrangular, ligeiramente afunilada em altura, com teto abobadado e uma pequena guarita.
Há quem defenda a tese de que esta construção militar nem sempre teve uma utilização defensiva. Com o fim da importância militar da praça forte de Ouguela, a Atalaia de São Pedro poderá ter sido adaptada para servir como local de culto, podendo ter sido a Ermida de São Pedro referida em alguns documentos.
A Atalaia de São Pedro, encontra-se a cerca de um quilómetro do Castelo de Ouguela e pode ser visitada seguindo a estrada de terra à direita, após o aglomerado de casas de Ouguela. Em alternativa, se tiver tempo, pode fazer o PR1 de Campo Maior (com início ao pé da escola primária), com cerca de seis quilómetros que o levará até à Atalaia.
Ermida de Nossa Senhoras da Enxara
A poucos quilómetros de Ouguela, junto ao rio Xévora, fica a Ermida de Nossa Senhora da Enxara. O templo primitivo terá sido construído no século XIV, mas o edifício foi muito alterado ao longo dos séculos com obras no século XVIII, que lhe conferiu um estilo Rococó e, posteriormente, já durante o século XX. A Ermida apresenta um interior simples com estuques pintados em azul claro e pormenores dourados.
Este é um local de forte devoção e peregrinação, principalmente durante o período pascal. Os peregrinos chegam, normalmente, na sexta-feira Santa e acampam dois ou três dias, regressando apenas na segunda-feira. A festa inclui missas, procissão campal, touradas e outros divertimentos, mas o ponto alto é a procissão com a imagem de Nossa Senhora da Enxara a ser transportada da igreja de Ouguela para a Ermida na quinta-feira Santa, e a regressar na segunda-feira a seguir à Páscoa.
A Ermida de Nossa Senhora da Enxara está associada a uma lenda que nos conta que certo dia uma menina estaria a brincar, enquanto a sua mãe estava a lavar roupa no rio. Quando a menina se afastou da sua mãe, terá encontrado uma senhora que lhe ofereceu um brinco. Quando voltou para junto da mãe, mostrou-lhe o brinco, e ambas foram ao local onde a filha disse ter encontrado a senhora. Quando lá chegaram, viram uma imagem de Nossa Senhora numa pedra redonda (esta pedra está, actualmente, na Ermida). A notícia chegou rapidamente aos ouvidos da população, que acorreu ao local onde tinha sido encontrada a imagem. Esta foi trazida para a vila, e decidiram erguer uma ermida, a meio caminho entre o local do achado e a vila, na margem direita do rio. No entanto, todas as manhãs a imagem desaparecia, surgindo no local onde tinha sido achada. Deste modo, a população decidiu que aquele deveria ser o local para a nova ermida.

Como eu gosto e faço questão de divulgar, aqui no blog Linha de Terra, Ouguela é mais uma daquelas localidades que não aparecem nos principais roteiros turísticos. E, neste caso concreto, é pena! Ouguela, pelo seu património, pelo seu passado e pela sua história merecia mais. Quem estiver pelo interior alentejano deve vir a Campo Maior e visitar esta pequena localidade raiana a poucos metros da linha de fronteira, visitar os seus monumentos, admirar a sua paisagem e conhecer um pouco da sua história. Um pouco da História do nosso país.
Perto de Campo Maior, “perdida” num recanto alentejano junto à fronteira com Espanha, Ouguela permanece esquecida no tempo, definhando numa lenta agonia que se arrasta há mais de um século. Ouguela teve um papel importante na defesa do nosso território mas, hoje, é uma aldeia praticamente esquecida onde se sente uma profunda tranquilidade. Ouguela é calma, é sossego e, apesar do seu castelo e do seu passado, é paz. Ouguela tem um encanto muito próprio. É muito relaxante admirar a quietude deste lugar e a beleza da paisagem alentejana do alto da muralha do seu castelo. Apetece ficar lá em cima a contemplar a planície e, quem sabe, ficar até ao por do sol.
Ali perto…
Perto de Ouguela existem alguns locais de relevo e que merecem uma visita. Destaco, obviamente Campo Maior, que é mesmo ali ao lado e a vila de Arronches. Não podia deixar de fazer uma referência ao excelente museu/centro de ciência da Delta: o moderno e atractivo Centro de Ciência do Café,

Campo Maior
A vila de Campo Maior fica mesmo ali ao lado. Por isso, é de equacionar uma visita a esta bela vila raiana. Campo Maior é conhecida pelas Festas do Povo, que transformam as ruas com flores de papel feitas à mão. Estas Festas não se realizam regularmente, mas sim quando o povo entende. As últimas Festas do Povo realizaram-se em 2015. As próximas, já têm data marcada entre 8 e 16 de Agosto de 2026. As Festas do Povo de Campo Maior estão classificadas como Património Cultural Imaterial da Humanidade desde 2021.
Passeie pela vila e visite o Castelo de Campo Maior, que oferece uma bela panorâmica sobre a vila, a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Expectação e a Capela dos Ossos, o Convento de Santo António, o Mosteiro da Imaculada Conceição, a Igreja da Misericórdia, o jardim municipal, a estátua do Comendador Rui Nabeiro e os diversos núcleos museológicos.

Arronches
A “forte Arronches” como lhe chamou Camões, no Canto III de “Os Lusíadas”, é uma vila alentejana a cerca de 30 quilómetros de Ouguela. Uma vila cheia de história que mantém visíveis alguns dos traços mais antigos. Arronches foi importante na Reconquista Cristã do Alentejo (século XIII) e, mais tarde, na Guerra da Restauração (século XVII). Passeie pela vila e aprecie o casario alentejano, as janelas manuelinas, os balcões barrocos e os vários núcleos museológicos.
Visite o Convento de Nossa Senhora da Luz, a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Assunção, a Igreja da Misericórdia, a Torre de Menagem (única sobrevivente do castelo), a Fonte do Vassalo, a Fonte de Neptuno e a Fonte de Elvas. Não deixe de visitar o Museu de (a)Brincar no espaço da antiga fortaleza, que conta com um acervo variado, fruto de doações de particulares e aquisições feitas pela autarquia. Termine o dia a passear pelo passadiço fluvial, na margem do rio Caia.

Centro de Ciência do Café
O Centro de Ciência do Café é um espaço que pretende dar conhecer as temáticas relacionadas com o café, nomeadamente a história da indústria da torrefação no concelho de Campo Maior, desde os tempos do contrabando até à atualidade.
Propriedade da empresa Delta Cafés, o museu mostra ao visitante todo o ciclo do grão do café, desde a plantação em terras longínquas, passando pela fase de torrefação, até ser bebido na chávena. Além disso, conhece-se também a história da Delta e do seu fundador, o Comendador Rui Nabeiro.
O Centro de Ciência do Café é um espaço moderno e atractivo que alia conhecimento, divulgação técnica e científica e atividades interativas ligadas ao universo e à cultura do café. Uma visita que não deves perder na tua visita ao concelho de Campo Maior. A entrada no Centro de Ciência do Café custa 10,00€ (7,00€ para crianças dos 6 aos 17 anos).








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