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  • Foto do escritorJoão Pais

Marvão

Atualizado: 13 de abr. de 2021



Visitar Marvão é como se fizéssemos uma viagem no tempo. Esta é umas das mais belas vilas portuguesas e uma das mais bonitas do Alentejo. Muito devido à sua localização num cimo rochoso e às suas grandes muralhas, a vila de Marvão leva-nos a fazer uma viagem pela história do país e da região.


Não se sabe ao certo desde quando a região é povoada, mas devido a achados arqueológicos, calcula-se que no Paleolítico já por aqui havia comunidades humanas que procuravam o fértil vale e as margens do rio Sever. Com o passar do tempo, sentiu-se a necessidade de procurar pontos mais altos e mais protegidos, começando os cumes dos montes a serem fortificados. Mais tarde, com a chegada dos Romanos a região terá vivido uma nova e próspera era. Começou a haver intensa exploração agrícola e começam a repovoar a região. No vale da Aramenha, no início do século I, os Romanos instalam aqui uma nova cidade – Ammaia. Mais do que um grande centro cosmopolita, reconhece-se hoje que Ammaia terá sido uma cidade de lazer, satélite da grande Mérida. Para se conseguir perceber todo o contexto e a importância de Ammaia, recomendo uma visita às ruinas em São Salvador da Aramenha (a cerca de dez minutos de Marvão).


Marvão, no distrito de Portalegre é, desde há muito tempo, um importante ponto estratégico militar. Situada no topo da serra do Sapoio, onde as pedras dos homens se confundem com moldura geomorfológica natural, a cerca de 860 metros de altitude, desde muito cedo que este local se revelou um ponto de defesa estratégico natural, com as suas encostas muito íngremes, apenas com acesso pelo lado Este, onde se viria a desenvolver a sua povoação.

O monte de Ammaia, como era conhecido devido a se situar na proximidade da antiga cidade romana com o mesmo nome, deve o seu actual topónimo ao facto de ter servido de refúgio ao guerreiro mouro Ibn Maruan, durante o século IX.

A região foi dominada pelos árabes durante alguns séculos, só terminando o seu domínio com a Reconquista Cristã, sob a mão de D. Afonso Henriques.


Desconhece-se a data da fundação do castelo de Marvão, mas sabe-se que que é uma fortificação de origem muçulmana. Devido à sua localização estratégica, ao longo dos tempos sempre houve preocupação com o reforço do castelo e das suas muralhas. Peça importante na defesa da linha de fronteira, o castelo viria a ser inúmeras vezes atacado e, em algumas, mudou de mãos. Ao longo da história o castelo de Marvão viria a ter um papel importante em grandes conflitos militares, entre os quais a luta entre o Rei D. Dinis e o seu irmão D. Afonso (1299), a Crise Dinástica (1383-85), as Guerras da Restauração da Independência (1640-68), a Guerra da Sucessão de Espanha (1704-12), a Guerra dos Sete anos (1756-62), as Guerras Peninsulares (1807-11) ou as Guerras Liberais (1832-34).

É preciso deixar o carro à entrada da vila e percorrer as suas estreitas ruas para se sentir e conhecer Marvão. Num passeio pela vila fortificada existem muitos recantos para descobrir onde, certamente, vai encontrar algo que lhe vai despertar a atenção; o pelourinho manuelino, os arcos góticos, as portas, as janelas manuelinas, as varandas de ferro forjado ou as muralhas que nos servem de miradouro para o vasto horizonte. Como escreveu José Saramago na sua “Viagem a Portugal”, «de Marvão vê-se a terra toda». Não será propriamente a terra toda, mas sim, muito Alentejo. Uma paisagem inconfundível e, com tempo limpo, uma vista de tirar a respiração.

A vila não é muito grande e foi crescendo encosta abaixo - na única possível. Percorrendo as suas ruas estreitas, são muitos os pontos de interesse, a começar desde logo pelas suas casas típicas e simples, mas cheias de detalhes. Deixe-se deambular pelas ruas de Marvão, respire e sinta o que esta magnífica terra tem para lhe mostrar. Certamente irá dar o tempo por bem empregue.

Vale a pena visitar o castelo, percorrer grande parte da sua muralha, visitar a magnífica cisterna (uma das maiores em Portugal, com capacidade de acumular água e abastecer a localidade durante seis meses, em caso de cerco) e subir à torre de menagem de onde se tem uma vista impressionante. O castelo de Marvão é a única fortificação medieval que manteve valor estratégico até ao século XIX.


Depois de percorrer as muralhas do castelo de Marvão, não deixe de visitar a igreja de Santa Maria, um edifício do século XIII, o mais antigo templo da vila. Edifício há muito fechado ao culto por se encontrar em avançado estado de ruina, foi recuperada para instalação do Museu Municipal (em 1987). O Museu apresenta um rico e variado espólio, contando com peças de arte sacra, arqueologia e etnografia, pretendendo oferecer ao visitante um passeio pela história de Marvão desde o Paleolítico aos tempos de hoje.

Um pouco mais à frente, pode visitar a igreja de São Tiago (século XIV) e a capela do Calvário que terá sido transferida do exterior da muralha para a sua actual localização. E já a caminho da saída (pelas Portas de Ródão), a igreja do Espírito Santo (século XVI) onde se encontra uma imagem de Nossa Senhora em pedra.

Procure ainda o pelourinho de Marvão, um pelourinho quinhentista de aspecto rústico, mas que terá sido demolido nos anos 40 do século passado, tendo sido reconstruído e do qual terá subsistido o fuste original. No largo do pelourinho pode ainda encontrar os antigos Paços do Concelho que funcionou como tribunal, cadeia e centro cívico.


Já fora das muralhas, encontra-se o Convento de Nossa Senhora da Estrela que pertenceu à Ordem de São Francisco. O convento terá começado a ser construído no século XV

a partir de uma petição feita pelos habitantes da vila e pelo Infante D. Henrique (então senhor da localidade) ao Papa, que obteve resposta afirmativa de Nicolau V a 7 de Julho de 1448. Um dos argumentos invocados para a sua construção neste local foi o da lenda de Nossa Senhora da Estrela, ela própria, associada às origens lendárias de Marvão. Conta-se que, após a invasão muçulmana de 711, os cristãos da zona recusaram pactuar com o novo poder e, antes de fugirem para as Astúrias, onde ajudaram a montar a resistência, esconderam uma imagem de Nossa Senhora, por eles venerada. Muitos séculos depois, um pastor, guiado por uma estrela, encontrou a imagem, numa espécie de gruta, iniciando-se, aí, a grande devoção à santa.

O interior do convento guarda uma imagem da Virgem com o Menino datada do século XVI e apresenta o seu altar com mármores de Estremoz (século XVIII) e azulejos do século XVII. Realce ainda para a bonita teia em ferro forjado (século XVI) que separa a capela-mor. No exterior do edifício, bem em frente à sua porta principal, existe um cruzeiro manuelino esculpido em mármore, datado do século XV.

Entre o arvoredo que rodeia o convento existe uma calçada medieval que faz a ligação entre o edifício e a povoação de Portagem.

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