Monsaraz é uma vila medieval e é daqueles locais que nos marcam. É difícil ficarmos indiferentes à beleza das suas casas imaculadamente brancas a contrastar com as suas muralhas da fortaleza. A sua localização no cimo da única elevação da vasta planície que envolve a vila e, claro está, a paisagem envolvente com a albufeira do Alqueva ali ao lado são atributos mais do que suficientes para uma visita a Monsaraz.
Situada no cume de um cerro – o único que se avista em muitos quilómetros de vasta planície alentejana –, a vila de Monsaraz está edificada dentro de uma fortaleza com uma forte cintura de muralhas, formando um conjunto arquitectónico único e de grande beleza.
Situada num concelho – Reguengos de Monsaraz – onde os vestígios arqueológicos estão presentes por todo o território, Monsaraz é habitada desde a pré-história.
Efectivamente, devido à sua posição geográfica, a colina de Monsaraz sempre foi um lugar cobiçado, tendo sido ocupada por diversos povos desde a pré-história. Aqui terá existido um castro que terá passado por Romanos, Visigodos e Árabes. No séc. VIII, Monsaraz cai sob domínio do Islão através das invasões muçulmanas que ocuparam grande parte da Península Ibérica. Passou a designar-se Saris ou Sarish e a pertencer ao reino de Badajoz, um dos maiores e mais importantes centros da cultura árabe.
Em 1167, foi conquistada aos muçulmanos por Geraldo Sem Pavor numa expedição que partiu de Évora, também esta recém-conquistada. Após a derrota de D. Afonso Henriques em Badajoz, Monsaraz cai novamente em poder dos árabes. Em 1232, D. Sancho II, apoiado por cavaleiros templários reconquista em definitivo Monsaraz, sendo posteriormente doada à Ordem do Templo.
Em 1512, D. Manuel concede novo foral à vila de Monsaraz, reformulando a vida pública e jurídica do concelho. Após a Restauração de 1640, a vila recebeu importantes acrescentos estratégicos, como o levantamento de uma nova cintura abaluartada, tornando-se numa poderosa cidadela que juntamente com Elvas, Juromenha, Olivença e Mourão formavam um importante sistema defensivo.
Por ser um local alto, rodeado por fortes muralhas e em cima de um monte rochoso, Monsaraz era um local seguro em tempos de guerra, mas com o fim das guerras havia um problema grave: a falta de água. Efectivamente, devido à sua situação geomorfológica – o facto da povoação ter sido construída em cima de um morro, em cima de um cabeço rochoso –, a escassez de água viria a ser determinante para que a sua população procurasse alternativas. Houve uma demanda geral em procura de outro local para viver por parte dos seus habitantes. Reguengos, que na altura se chamava Vila Nova de Reguengos, foi o local “escolhido” e, com o tempo, Monsaraz viu a sua população decair acentuadamente, vindo a perder a sede de concelho em 1838, depois da guerra civil (1828-1834) que derrotou os miguelistas.
No início do século XIX, na altura do Estado Novo, a vila estava quase desabitada. O banqueiro António Bustorff (da família Espírito Santo) terá comprado a maioria das casas e procedido ao restauro da vila. Actualmente, Monsaraz voltou a ser habitada, é uma vila de sonho, animada e com grande afluência de turistas.
A chegada a Monsaraz faz-se atravessando a grande planície alentejana. Com o diminuir da distância que nos separa da vila medieval damos conta do branco das casas a contrastar com a cor escura das suas muralhas. Mesmo antes de começar a subir para Monsaraz, paragem obrigatória na rotunda de Telheiro (aquela que tem o símbolo das 7 Maravilhas de Portugal - Aldeias) para uma panorâmica com a vila lá no alto.
Apesar de existirem alguns carros no interior da vila, esta está bem apetrechada de parques de estacionamento no exterior da muralha medieval. Deixe aí o carro e faça a sua entrada triunfal a pé. As ruas da vila são estreitas (com excepção da rua Direita) e merecem ser percorridas de ponta a ponta, recanto a recanto.
A vila e as suas ruas parecem ter sido muito bem “arrumadas” no interior da muralha que a cerca por completo. A grande muralha é “delimitada” com a torre de menagem do castelo numa extremidade e a torre branca com o relógio na outra ponta (Porta da Vila).
Tudo em Monsaraz parece saído de um filme antigo. As suas ruas estreitas, as casinhas brancas, as portas ogivais, as casas quinhentistas brasonadas. Aqui tudo é feito de pequenos detalhes. Não deixe de visitar as casas de artesanato local, com artigos típicos da região.
Na praça principal da vila, encontramos os principais edifícios civis e religiosos: o antigo edifício da Câmara Municipal (século XVII); o pelourinho em mármore branco, de construção provável no século XVI e recuperado, mais tarde, no século XVIII, após ter ficado bastante danificado com o tremor de terra de 1755; a igreja Matriz de Nossa Senhora da Lagoa, templo construído no século XVI para substituir uma primitiva igreja gótica que terá sido contaminada pela peste; a igreja da Misericórdia; e a capela de São José, construída por cima de uma moradia quatrocentista.
O castelo de Monsaraz foi fundado após a conquista da vila aos muçulmanos, no século XIII. Nos séculos seguintes, a construção da cerca amuralhada acompanhou o crescimento da vila e a Guerra da Restauração, no século XVII, originou a criação de um novo sistema defensivo que lhe deu a configuração actual.
Do castelo original (séculos XIII-XIV) ainda se conservam algumas torres e um ou outro pano de muralha. A torre de menagem do castelo (323 metros de altitude) é um excelente miradouro para a albufeira do Alqueva ali bem ao lado. A praça de armas do castelo foi adaptada e, hoje, serve de praça de touros.
No interior das muralhas ainda pode visitar a Cisterna, a igreja de Santiago, convertida em galeria de arte, o Museu do Fresco que guarda no seu interior a famosa pintura do Bom e Mau Juiz, uma alegoria que representa a justiça terrena e a divina, e a Casa da Inquisição, o centro interactivo da história judaica em Monsaraz. No exterior da muralha medieval, no parque de estacionamento, quase “engolida” pela muralha, está a capela de São João Baptista, o mais antigo monumento de Monsaraz, um antigo edifício fúnebre ou um antigo santuário muçulmano (século XI-XII), que foi mais tarde cristianizado, apresenta pinturas seiscentistas.
Nas imediações da vila de Monsaraz pode visitar a Ermida de Santa Cataria, de arquitectura acastelada (século XIII), e que terá sido construída pelos cavaleiros templários que conquistaram Monsaraz aos Mouros. Junto a Ferragudo pode visitar o Cromeleque do Xerez, com um menir de cerca de quatro metros de altura e outros 50 mais pequenos. Este monumento megalítico estava num local submerso pela albufeira do Alqueva e, entretanto, foi instalado aqui junto do Convento da Orada. O Convento de Nossa Senhora da Orada é um edifício do século XVIII, construído para acolher os religiosos da Ordem dos Ermitas Descalços de Santo Agostinho, num local, onde segundo a tradição, D. Nuno Álvares Pereira terá rezado antes das batalhas contra Castela.
A albufeira da barragem do Alqueva, que se avista do castelo, é o novo ponto turístico de Monsaraz. Se o tempo permitir e se estiver calor, dê um salto à recente praia fluvial de Monsaraz. O maior lago artificial da Europa veio trazer todo um potencial e uma vasta gama de oportunidades a toda a região, criando investimentos, postos de trabalho e fixando as gentes na terra.
Numa das zonas mais famosas pelos seus vinhos existe também muito artesanato que não pode deixar de apreciar (e, preferencialmente, comprar…), como é o caso dos chocalhos, trabalhos em cobre e em pele, o mobiliário pintado, as coloridas Mantas de Reguengos e a olaria. A caminho de Reguengos de Monsaraz, não deixe de parar em São Pedro do Corval, o maior centro oleiro do país. Aqui poderá encontrar todo o tipo de olaria, da mais tradicional à mais moderna, das peças utilitárias às decorativas. São mais de 20 olarias em funcionamento.
Monsaraz, uma pequena vila medieval, no topo de uma colina, com muito para ver, do património histórico ao património paisagístico. Uma vila cheia de histórias do passado e com muita vida no futuro. Uma viagem no tempo que nos enche o coração, numa das mais belas vilas portuguesas.
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