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Foto do escritorJoão Pais

Hot Spot: Portas de Ródão

Atualizado: 13 de abr. de 2021



O Monumento Natural das Portas de Ródão, bem perto de Vila Velha de Ródão (Castelo Branco), é uma formação geológica (maciço quartzítico) onde o Tejo “rompeu” uma garganta por entre duas escarpas com cerca de 180 metros de altura e 45 de largura. Uma paisagem imponente. Aqui termina a Beira Baixa e começa o Alto Alentejo. O rio Tejo separa os distritos de Castelo Branco e Portalegre - Vila Velha de Ródão na margem norte e Nisa do lado sul.

Esta zona do Tejo está cheia de história e a região terá sido habitada desde tempos imemoriáveis. Aqui perto, foram descobertas as mais antigas estruturas habitacionais até hoje conhecidas em Portugal e terão sido construídas há quase 50 mil anos. Foram também encontrados artefactos em pedra lascada que, calcula-se, terão cerca de 30 mil anos. Também aqui foram encontrados vestígios ósseos dos últimos exemplares do elefante-europeu antes da sua extinção durante a última glaciação - os exemplares que andariam nesta zona do Tejo já seriam raros no continente europeu há cerca de 30 mil anos.

O início deste “fenómeno” geológico na serra das Talhadas terá sido há cerca de 2,5 milhões de anos. No passado, calcula-se que o rio corria planície fora e despenhava-se num enorme lago através de uma impressionante queda de água. Ao longo dos tempos o rio foi cavando o seu leito, a queda de água foi desaparecendo e o leito do rio foi ficando nivelado com o lago e, hoje, temos este magnífico monumento natural com duas enormes paredes escarpadas.

O trajecto do rio Tejo e toda a paisagem são de uma beleza extraordinária, tendo do seu lado direito o Castelo de Ródão, também conhecido como Castelo do Rei Vamba. O castelo, situado num ponto alto, tem um panorama deslumbrante sobre o Tejo, sobre o Monumento das Portas de Ródão e com vista para vila.

O castelo, do qual apenas resta uma pequena torre e alguns pequenos panos de muralha, diz-se que terá sido construído no século VII pelo Rei Vamba (672-680), o último rei Visigodo. Mas sondagens arqueológicas realizadas e pelos vestígios encontrados no local tal não será verdade. No século XII, o Rei D. Sancho I face à necessidade de estabilizar as fronteiras, doa a herdade da Açafa a D. Lopo Fernandes e à Ordem do Templo. O castelo terá sido construído por iniciativa da Ordem do Templo durante os séculos XII e XIII, funcionando como posto de vigia sobre os mouros. Durante a Guerra dos Sete Anos (1756-1763), o castelo é utilizado como base de artilharia para controlo e protecção da passagem do Tejo. Durante as invasões francesas, serviu como posto de artilharia.

Devido ao seu mau estado de conservação

o castelo sofreu obras de recuperação, em 1999, deixando-o com o aspecto actual. A torre rectangular foi “recuperada” e tem dois pisos. A entrada faz-se pelo piso térreo, por um acesso improvisado que permite ver a largura da parede feita de pedras e barro. Na sua versão original, a entrada seria ao nível do piso superior, onde ainda é possível observar, gravada na pedra, a cruz da Ordem do Templo.

Nas imediações do castelo existe o Miradouro do Castelo com vistas fabulosas sobre o rio e sobre o Monumento Natural das Portas de Ródão, um pequeno parque com oliveiras e uma capela branca. A capela da Senhora do Castelo, que se encontra fechada, terá sido construída por volta do século XVI ou XVII.


Tanto o castelo como a capela estão “envolvidos” por lendas. Conta-se que a construção da capela deve-se à promessa de um barqueiro que terá sobrevivido a uma passagem mais difícil pelas Portas do Ródão, no século XVII.

A lenda do Rei Vamba apresenta várias versões, mas relata um amor proibido entre um rei mouro e uma rainha visigoda. Reza a lenda que aquando da conquista árabe, o rio Tejo separava o lado Visigodo, a norte, do lado sarraceno, a sul. Os Visigodos eram então defendidos pelo Rei Vamba, casado com uma bela mulher. Do lado sul estava o rei Mouro que se apaixonou pela rainha visigoda. Os dois namoravam à distância, ela sentada num trono de pedra no lado norte, ele sentado num outro trono de pedra, no lado sul. O amor entre os dois levou a que o rei mouro tentasse o rapto da rainha através de um túnel construído por baixo do rio. Mas, mal construído, o túnel não chegou à outra margem. A rainha, por sua vez, teceu uma ponte de linho de um lado ao outro, e conseguiu assim atravessar o Tejo e juntar-se ao seu amado.

O Rei Vamba, assim que soube o que se tinha passado, mandou o seu exército capturar a fugitiva. A rainha foi julgada e condenada à morte. Rezava a sentença que a rainha deveria ser atada a uma mó e deixa-la rolar desfiladeiro abaixo. Diz-se que a rainha, antes de morrer, terá amaldiçoado as gentes daquela terra:

“Adeus Ródão, adeus Ródão, Cercada de muita murta, E terra de muita puta, Não terás mulheres honradas, Nem cavalos regalados, Nem padres coroados.”

Conta o povo que por onde o corpo rolou em direcção ao Tejo nunca mais cresceu mato.

As Portas de Ródão são monumento natural desde 2009 e aqui vive, actualmente, a maior colónia de Grifos existente em Portugal.


Coordenadas:

N 39°38.82414’

W 7°41.38356’


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