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Hot Spot: Salinas do Samouco

  • Foto do escritor: João Pais
    João Pais
  • há 5 dias
  • 6 min de leitura
Salinas do Samouco
Salinas do Samouco

Noutros tempos, durante as décadas de 30 e 40 do século passado, Alcochete, na margem sul do Tejo, foi o maior centro produtor nacional de sal. Nas Salinas do Samouco chegaram a existir cerca de uma centena de salinas a funcionar. Hoje, apenas uma produz sal. Este complexo centenário, além da produção de sal, visa não só a preservação desta actividade histórica, mas é também um projecto ecológico que visa a conservação ambiental e a protecção de aves e outras espécies.


Salinas do Samouco
As Salinas do Samouco são um paraíso para a aves aquáticas que aqui param durante as migrações

Mesmo às portas de Lisboa, o encontro entre as águas do rio Tejo e do oceano Atlântico resulta na maior zona húmida do país e numa das mais importantes da Europa: o Estuário do Tejo. Este habitat muito especial com as suas águas salobras, muito ricas em nutrientes, são a base de um ecossistema único, classificado como reserva natural e onde a vida selvagem predomina. É aqui que vamos encontrar as Salinas do Samouco.

Situado na margem esquerda do Estuário do Tejo, em Alcochete, o complexo das Salinas do Samouco é composto por cerca de meia centena de salinas centenárias que, no seu conjunto, formam um grande emaranhado de diferentes tanques alimentados por esteiros e canais que transportam a água do Estuário.

Visitar as Salinas do Samouco implica percorrer um dos dois trilhos que, actualmente, se encontram disponíveis. São passeios que nos permitem conhecer a importância sócio-económica desta actividade histórica, visitar este paraíso natural e observar as muitas aves. Os trilhos, com cerca de cinco quilómetros, estão marcados com sinalética própria, são fáceis, sempre planos e muito expostos ao sol. Por isso, convém evitar as horas de maior calor, levar protector solar, repelente de insetos e calçado apropriado. Existem também a possibilidade de realizar visitas guiadas, sob marcação.

Mas, antes de conhecer as Salinas do Samouco, vamos saber um pouco da sua história e da história do próprio sal.

Salinas do Samouco
A Marinha do Canto é a única salina que ainda produz sal

O sal é um bem comum de utilização milenar, um bem precioso que marcou a História desde as primeiras civilizações até aos nossos dias. Todos os povos da antiguidade viram no sal um produto de excelência. O sal era usado para os mais diversos fins: foi moeda de troca – o chamado “ouro branco” –, foi usado na terapia de determinadas doenças e mesmo na arte de mumificar os corpos mas, era na alimentação e no armazenamento de certos alimentos que era mais usado devido à suas propriedades anti-sépticas que permitiam a conservação dos bens alimentares por longos períodos de tempo.

A indústria do sal é das mais antigas de Portugal e o nosso país sempre foi um dos maiores produtores de sal. Apesar de algumas das nossas maiores salinas já estarem inativas, existem algumas que, apesar das dificuldades, ainda mantêm a sua produção: Aveiro que sempre foi um dos maiores centros de produção de sal; a Figueira da Foz também teve a sua época áurea; Rio Maior onde encontramos as únicas salinas interiores do país, e as únicas que ainda estão em pleno funcionamento na Europa (Linha de Terra tem que lá ir!); em Santa Luzia, perto de Tavira, onde se encontra a segunda maior salina do país; e, claro, as Salinas do Samouco.


Salinas do Samouco
As Salinas do Samouco ainda produzem cerca de 200 toneladas de sal por ano

Apesar da extração de sal ter tido uma presença regular durante a ocupação romana (Angeiras, Póvoa de Varzim, Tróia e Alcácer do Sal, por exemplo), alguns historiadores afirmam que a sua utilização e extração remontam ao Neolítico.

As primeiras referências documentais relativas às Salinas do Samouco, datam do século XIII, referindo-se ao aparecimento de pequenas comunidades ribeirinhas ligadas à exploração do sal que se foram formando nas margens do Tejo. Algumas destas comunidades foram-se desenvolvendo ao longo do tempo e adquiriram importância económica e social, passando a integrar os principais circuitos comerciais. A salicultura foi fundamental para a vitalidade e crescimento dessas comunidades, como foi o caso de Alcochete.

As salinas de Alcochete, situadas na margem esquerda do estuário do Tejo, fazem parte do chamado “Salgado do Tejo” que abrangia duas grandes áreas: uma na margem direita, desde Loures até Vila Franca; e outra na margem esquerda, numa área que se estendia desde o Barreiro até Alcochete – as salinas localizavam-se no Lavradio, Alhos Vedros, Sarilhos Grandes, Samouco, Alcochete e Vasa-Sacos. O salgado de Alcochete era constituído por três regiões produtoras: a região do Rio das Enguias, Samouco e Vasa-Sacos.

As Salinas do Samouco, na década de 30 e 40 do século XX, tornaram-se no centro salineiro mais importante da região de Lisboa e, durante muitos anos, o maior centro produtor de sal do país, onde chegaram a existir cerca de uma centena de salinas a funcionar, que produziam cerca de 120 mil toneladas de sal por ano. A partir dos anos 70 as salinas foram sendo gradualmente abandonadas e, actualmente, apenas uma produz sal.


Salinas do Samouco
A Marinha do Canto, nas Salinas do Samouco, é a única que ainda produz sal

O percurso para explorarmos as Salinas do Samouco leva-nos através de tanques e canais onde podemos observar muitas aves. Depois, seguimos até bem perto da Ponte Vasco da Gama, onde funciona a Marinha do Canto, actualmente, a única salina em funcionamento e onde podemos observar algumas pessoas a trabalhar.

Depois do grande apogeu das Salinas do Samouco, a Marinha do Canto é a única salina do Tejo que ainda produz sal. Aqui produzem-se cerca de 200 toneladas de sal marinho e de flor-de-sal por ano. O método artesanal de produzir sal ainda se mantém, dando origem a um produto natural único e de grande qualidade. O sal produzido na Marinha do Canto está certificado e destina-se a diversos fins, nomeadamente, para a gastronomia, para uso em piscinas, para termas em banhos terapêuticos, para a indústria cosmética, controlo de vegetação infestante e para a produção de salicórnia. Alguns destes produtos podem ser adquiridos na recepção das Salinas do Samouco.

A grande riqueza biológica do espaço das Salinas do Samouco deve-se aos diferentes habitats aqui existentes como é o caso do pinhal, do sapal, das dunas e do caniçal. Esta vasta diversidade de habitats proporciona condições favoráveis para a existência de uma grande variedade de espécies selvagens, com destaque para avifauna, tornando as Salinas do Samouco num espaço único no nosso país.


Salinas do Samouco
As Salinas do Samouco ajudam na preservação dos burros de Miranda, espécie em vias de extinção

Nos 360 hectares do complexo centenário das Salinas do Samouco, devido à sua grande riqueza biológica, além da salicultura, há um importante projecto de conservação ambiental e de protecção animal. Um dos grandes objectivos da Fundação das Salinas do Samouco é a elaboração e desenvolvimento de projectos de educação e sensibilização ambiental. Um desses projectos é ajudar na preservação do burro de Miranda, raça autóctone portuguesa e espécie em vias de extinção. Na nossa viagem através das Salinas temos oportunidade de ver e, fazer algumas festas, a um simpático grupo de burros mirandeses que aqui se encontram. Os animais ajudam na limpeza e manutenção do terreno o que faz reduzir a utilização de máquinas ou de produtos sintéticos. Nesta região, como em muitas outras do nosso país, o burro esteve ligado à agricultura e ao transporte de mercadorias. Hoje, apenas faz parte das festas mais tradicionais participando em alguns cortejos e procissões.

Este é um paraíso para as aves aquáticas. Por aqui passam centenas de milhares de aves – já foram identificadas 170 espécies – para se reproduzirem, descansar ou recuperar energias durante as suas migrações entre dois continentes. É possível percorrer as antigas salinas (através de percursos definidos) e avistar diferentes espécies de aves, incluindo flamingos, a chilreta, o pernilongo, o alfaiate, o borrelho-de-coleira-interrompida ou a garça-real.


Salinas do Samouco
São 170 as espécies de aves que todos os anos passam pelas Salinas do Samouco

As Salinas do Samouco, em Alcochete, são um importante projecto ambiental e ecológico, mas acima de tudo, um guardião das memórias e das raízes ancestrais da população do concelho. O salgado de Alcochete marcou a história da salicultura portuguesa. As Salinas do Samouco são uma instituição que procura perpetuar a memória, a cultura e uma tradição ancestral que faz parte da história e da identidade cultural desta gente. A valiosa biodiversidade deste espaço, associada a um património histórico e sócio-cultural único, fazem das Salinas do Samouco um espaço natural de grande importância que é primordial proteger e visitar.


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