A aldeia de Gimonde fica localizada na orla do Parque Natural de Montesinho, no concelho de Bragança, a pouco mais de meia-dúzia de quilómetros desta cidade.
Inserida na região da Terra Fria Transmontana, Gimonde é uma terra genuína onde as pessoas sabem receber como, aliás, é característico das gentes de Trás-os-Montes – sei do que falo, pois conheço algumas famílias transmontanas e sei a “festa” que é ir a casa delas…
A aldeia está inserida num vale bastante próspero onde convergem três rios: o rio Onor, o rio Igrejas e o rio Frio que, por sua vez, vão confluir no rio Sabor. Gimonde brinda-nos com magníficas paisagens, com riqueza patrimonial e com bons restaurantes, alguns conhecidos a nível nacional.
Sabe-se que a região é povoada desde tempos remotos. Existem vestígios de um castro antigo – conhecido como castro de Arrabalde –, onde foram encontrados sinais de um povoado fortificado, localizado num cabeço de xisto sobranceiro ao rio Sabor. Calcula-se que, na época Romana, este povoado se terá estendido para fora da muralha. São inúmeros os achados do tempo da ocupação Romana que comprovam a sua presença na região, entre eles um marco miliário do século III. Outra indicação, bem visível, da sua presença por aqui é a Ponte Romana de Gimonde, também conhecida, entre os locais, como “Ponte Velha”.
Mas o ideal para conhecer a aldeia é estacionar o carro e percorrer as suas ruas. Deixe o carro junto à N218, num pequeno largo com recuperadas e vistosas casas tradicionais, onde existe um dos afamados restaurantes. Não pense em ir já meter os pés debaixo da mesa e dê antes uma volta a pé pelas ruas da aldeia. Visite a igreja de Gimonde, igreja de Nossa Senhora da Assunção. Um templo muito simples e belo, que fica estrategicamente no ponto mais alto da aldeia com uma vista privilegiada sobre toda a localidade. Não consegui saber ao certo a data da construção da primitiva igreja, mas há referências a esta igreja em 1320 / 1321, no “Catálogo de todas as Igrejas, Comendas e Mosteiros que havia nos reinos de Portugal e Algarves”. É provável que a igreja tenha sido restaurada e ficado com o aspecto actual durante o século XVIII.
Dada a volta pelas ruas do centro da aldeia, é provável que termine junto ao rio Onor e à ponte Romana. A Ponte Romana de Gimonde está classificada como “imóvel de interesse público” e fica junto a uma outra, bem mais recente, datada do século XIX, que agora a substitui na circulação rodoviária. A ponte Romana estaria integrada numa via importante na época, a denominada “Via XVII” que ligava Bracara Augusta (Braga), Aquae Flaviae (Chaves) e Asturica Augusta (Astorga, em Espanha). A bonita ponte de seis arcos, originalmente seria construída em xisto (matéria prima existente na zona) argamassado com barro. Ao longo do tempo a ponte sofreu sucessivas recuperações até ter o aspecto actual em cantaria de xisto.
Entre as duas pontes, podemos atravessar o rio saltitando entre as poldras ali instaladas que permitem uma travessia apeada… Eu tentei, mas achei melhor voltar pela ponte novamente… A travessia pelas poldras não é tarefa fácil, pois a distância entre pedras não é tão curta quanto possa parecer e requer alguma atenção e equilíbrio.
Junto ao rio e ao parque de festas existe a famosa torre em ferro com um ninho de cegonha, outro ex-libris da aldeia. O enquadramento paisagístico junta à ponte romanda e às poldras é lindíssimo e certamente que irá fazer aqui muitas fotografias.
Do outro lado do rio, um pouco retiradas do centro da aldeia, ficam as capelas de Santo António e de Santa Colombina.
Não deixe de passar na padaria (à face da N218) e pedir o famoso Pão de Gimonde. Ao que parece, ali ainda seguem as receitas e métodos antigos, que terão começado no forno comunitário da aldeia. Hoje é uma indústria de panificação moderna mas que respeita as tradições ancestrais com a cozedura em forno a lenha e usando levedura natural. Prove o Pão de Gimonde, o Pão de Figo (com nozes e passas) ou o Pão de Castanha.
Gimonde é uma das mais características aldeias do distrito de Bragança. Uma aldeia que deve ser visitada todo o ano, pelo contacto com a natureza e pela famosa gastronomia da região, onde se destacam a posta e os fumeiros. Porta de entrada para o Parque Natural de Montesinho, Gimonde é uma aldeia pitoresca, de pessoas simples e genuínas. É uma aldeia sossegada, num ambiente bucólico e de grande beleza.
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