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  • Foto do escritorJoão Pais

6 Aldeias do Xisto para desconfinar


As seis aldeias escolhidas por mim para fazerem parte desta lista, integram, todas elas, a rede de Aldeias do Xisto. Uma rede composta por 27 aldeias espalhadas por 16 municípios do centro do país e dividida em quatro grupos: Serra do Açor, Serra da Lousã (com 12 aldeias), Zêzere e Tejo-Ocreza.

As aldeias escolhidas são as que mais me encantaram. Das agora referidas já tive oportunidade de falar de algumas aqui no blog Linha de Terra: Martim Branco (Castelo Branco) e Pena (Góis).

Estas aldeias são locais especiais, locais pequenos, onde a harmonia com a natureza prevalece, onde se encontra paz, sossego e ambientes familiares que nos fazem sentir bem com a vida. São lugares mágicos.



Talasnal

Esta é, provavelmente a aldeia mais conhecida, tanto na serra da Lousã, como de toda a rede das Aldeias do Xisto. Eu, pessoalmente, conheço a aldeia de Talasnal há mais de duas décadas. Da primeira vez que lá fui, ainda a estrada de acesso era de terra batida e, desde logo, aquela aldeia entrou na lista dos meus locais favoritos.

Se não bastasse, por si só, visitar as aldeias “perdidas” no interior da serra, há todo o encanto de percorrer a Serra em si. A serra da Lousã – uma das minhas favoritas – conjuga natureza, lazer, cultura e a vertente humana. Para além das 12 Aldeias do Xisto, por entre carvalhos, sobreiros, castanheiros e pinheiros existem inúmeros trilhos pedestres, percursos de BTT e ainda se podem observar veados, javalis, corços entre outras espécies.

A aldeia fica a pouco mais de dez quilómetros da vila da Lousã, e hoje é bem mais fácil lá chegar com a estrada alcatroada e sinalética. A aldeia do Talasnal é a maior das aldeias inseridas na serra da Lousã e as suas casas, recuperadas ao longo dos últimos anos, acompanham o declive da serra. Aqui, como em grande parte das Aldeias do Xisto, não há trânsito. Os automóveis ficam no parque de estacionamento, à entrada da aldeia, e a visita faz-se a pé percorrendo as suas estreitas ruas e os labirínticos becos. A rua principal acompanha o declive da serra, sendo mais íngreme na sua cota superior. A aldeia brinda-nos com a quase totalidade das suas construções em xisto, com a pedra de tons escuros à mostra, a contrastar com o verde da luxuriante vegetação que envolve a aldeia.

Vale a pena uma visita demorada por cada canto da aldeia do Talasnal e apreciar o ambiente, as vistas e os muitos pormenores em pedra e em madeira em cada recanto. Não perca as alminhas (na rua principal) – um nicho envolvido por uma moldura em madeira; a fonte e o tanque com o som da água a cair (na entrada da aldeia) e o lagar de azeite (particular e recentemente recuperado). Enquanto descansa as pernas, prove os Talasnicos (bolo de mel e castanha) e os Retalhinhos (pastel à base de castanha e amêndoa). Para comer as deliciosas iguarias da gastronomia local (a chanfana e o cabrito) tem a Taberna Talasnal (junto ao parque de estacionamento) e o Restaurante Ti Lena (em homenagem à última habitante do Talasnal), em ambos aconselha-se a reserva com antecedência. Se puder, visite a aldeia durante a semana, pois evita os ajuntamentos de fim-de-semana podendo tirar mais partido deste paraíso.

Pensa-se que a aldeia terá tido a sua origem no século XVIII com a provável fixação da população na serra da Lousã, até então a ocupação seria apenas sazonal, quando se levava os rebanhos para a serra. Em 1911 residiam na aldeia 129 pessoas, tendo vindo a decair a partir de então e, em 1981, já só existiam dois habitantes (a Ti Lena e o Ti Manel). Desde 1988 que a aldeia não tem qualquer residente permanente, as suas casas foram sendo transformadas em segunda habitação ou, mais recentemente, em alojamento local.

A aldeia do Talasnal é um pequeno paraíso que conjuga o passado e o presente, com os olhos postos no futuro. Um ambiente único onde Homem e Natureza convivem em harmonia. Estar e sentir a aldeia, ver todo aquele verde, toda a imensidão daquela serra, (quase) que nos obriga a fazer uma introspecção, a entender a natureza e a respeitá-la. Se calhar, a ver a vida de outra maneira... Um mundo mágico no interior da serra da Lousã.


Candal

Candal é mais uma aldeia na serra da Lousã. A aldeia dista cerca de 12 quilómetros do centro da vila e surge numa curva da estrada, plantada encosta acima. Envolvida por pinheiros, sobreiros e castanheiros, o seu casario desenvolve-se em anfiteatro junto à ribeira de São João.

A aldeia do Candal tem o grande privilégio de ser servida por uma estrada nacional (EN236, que liga Lousã a Castanheira de Pêra), o que lhe trouxe melhores acessibilidades e um maior desenvolvimento. A aldeia ainda tem habitantes e vida própria. As suas casas apresentam-se, na sua grande maioria, espalhadas por ruelas irregulares e são predominantemente construídas em xisto, com a pedra à mostra, sobressaindo o seu aspecto tosco. No entanto, já encontramos aqui algumas construções com fachadas rebocadas, principalmente junto à estrada nacional, onde as construções já apresentam alguns traços mais modernos.

Perca-se pelas ruelas da aldeia, suba a encosta até ao miradouro e admire a paisagem sobre o vale. Visite o lagar de azeite, datado de 1919; as alminhas, a única construção religiosa existente na aldeia; o chafariz junto à estrada nacional; os moinhos junto à ribeira; e, ali perto, aventure-se no meio do arvoredo e parta à procura da cascata do Candal. No fim retempere as forças no Restaurante Sabores da Aldeia.

A aldeia do Candal é mais um belo exemplo e um postal ilustrado das belas aldeias que temos espalhadas por esse país fora, onde ainda se convive e usufrui da natureza envolvente.


Pena

Esta é mais uma aldeia situada na serra da Lousã, mas já no concelho de Góis. Este concelho tem quatro aldeias pertencentes à rede Aldeias do Xisto, sendo esta a maior das quatro. Linha de Terra já tinha dedicado um trabalho às quatro aldeias no concelho de Góis (ver aqui). A aldeia de Pena fica a 12 quilómetros do centro da vila de Góis e a cinco da estrada nacional 2 (EN2).

A aldeia do xisto de Pena, com as suas casas alinhadas encosta acima, encontra-se num cenário natural de grande beleza. As suas casinhas tradicionais empoleiram-se numa única rua, e nas pequenas quelhas envolventes, sobre a ribeira de Pena. Crê-se que a aldeia é habitada desde o século XVI.

Deixe o carro no parque, à entrada da aldeia perto do enorme castanheiro secular e percorra a pé as suas ruas e ruelas encantadoras. Nota-se que a aldeia é habitada, desde logo pelos carros estacionados e pela paragem de autocarro, mas também pelo observar das casas, pelas roupas estendidas, pelo fumo que sai pelas chaminés e, obviamente, pelas pessoas que se cruzam connosco e, simpaticamente, nos cumprimentam com um sorriso na cara.

A aldeia de Pena brinda-nos com muitos pormenores interessantes, com janelas floridas, o seu castanheiro centenário junto à ponte, as alminhas, o fontanário no centro da aldeia… E embora, aqui e ali, surja uma ou outra construção, mais recente, a harmonia da aldeia mantém-se.

Rodeada por campos de cultivo, aqui (quase) tudo se mantém rude, natural e genuíno. Do outro lado da ribeira, a mais de mil metros de altitude, debruçados sobre o casario, os Penedos de Góis, vigilantes gigantes, tomam conta da pequena aldeia.


Gondramaz

Ainda na serra da Lousã, mas já no concelho de Miranda do Corvo, a pequena aldeia de Gondramaz distingue-se do verde da serra como uma mancha de xisto, já que aqui até o chão que pisamos é feito desta pedra.

A cerca de oito quilómetros da vila de Miranda do Corvo, a aldeia de Gondramaz fica, literalmente, no meio da serra envolvida por uma enorme mancha florestal onde dominam os castanheiros e os carvalhos que, no Outono, dão a esta aldeia um colorido (ainda) mais especial.

A aldeia é disposta ao longo de uma rua principal de onde saem ruelas estreitas e sinuosas. As suas casas são praticamente todas em pedra de xisto sem qualquer reboco, deixando o edifício com um acabamento rude e mais tradicional. Como já referi, também as ruas são em pedra de xisto, num bonito exemplo da arte de trabalhar artesanalmente a pedra, tornando o conjunto ainda mais harmonioso.

Percorra a aldeia e descubra o fontanário e o lavadouro, as alminhas (na fachada de uma casa) e a capela de Nossa Senhora da Conceição. Terminando a rua principal da aldeia, siga caminho fora pelo interior da serra e procure a Cascata do Penedo dos Corvos. Não é longe e vale a pena.


Martim Branco

Martim Branco é uma pequena aldeia que fica na freguesia de Almaceda, em Castelo Branco. Rodeada por uma floresta que já foi mais densa, em volta da aldeia, bem como por quase toda esta zona, podemos ver pinheiros, sobreiros, azinheiras e muitas, muitas oliveiras. Ao permanecermos na aldeia algum tempo, a ideia que nos fica é que estamos num local isolado e remoto, mas, na realidade, Martim Branco está a pouco mais de vinte quilómetros do centro de Castelo Branco (EN112) e a escassos onze quilómetros de Almaceda e da sua praia fluvial. Esta pequena aldeia do concelho de castelo Branco também já tinha merecido destaque aqui no blog (ver aqui).

A pequena aldeia de Martim Branco é uma daquelas aldeias muito antigas que ficou parada no tempo – não evoluiu, não se desenvolveu nem cresceu, antes pelo contrário, ao longo dos anos viu os seus habitantes irem embora. Talvez isso possibilitasse que a aldeia ainda se preserve como era há muitos anos atrás, pequena, genuína, quase intacta, apenas lutando contra o desgaste natural do tempo.

Encaixada entre serras, a pequena aldeia de Martim Branco conta com menos de três dezenas de habitantes, e estende-se ao longo das duas ruas existentes e que seguem, lado a lado, com a ribeira de Almaceda. A rua Principal e a rua da Bica, esta, seguramente, a mais antiga, mais estreita e com mais casas de xisto.

Há alguns anos começaram a recuperar algumas das casas típicas da aldeia bem como alguns dos seus espaços públicos, como os fornos comunitários, os moinhos e também com a criação da Casa das Artes e Ofícios e a aldeia passou a fazer parte da rede das Aldeias do Xisto. Dê uma volta pelas ruas de Martim Branco e deixe-se envolver pelo seu ambiente familiar, pelo sossego da aldeia e pelo ar puro.


Casal de São Simão

Casal de São Simão é uma pequena aldeia no concelho de Figueiró dos Vinhos. Situada na cumeada de uma encosta do monte de São Simão, a aldeia estende-se por uma única rua com vista para as colinas em seu redor. Esta é uma das mais bonitas das Aldeias do Xisto.

Zona muito rica em fauna e flora, local de lendas e superstições, a aldeia de Casal de São Simão é habitada desde o século XVIII, pelo menos é o que indica uma das casas que tem gravada a data de 1701 na face exterior da padieira.

A pequena aldeia de Casal de São Simão presenteia-nos com cerca de duas dezenas de casas totalmente recuperadas e em pedra, dando uma identidade muito própria à aldeia. Apesar de existirem algumas casas de alojamento local, a aldeia parece manter-se viva, provavelmente com segundas habitações, apresentado as suas janelas decoradas e as varandas com muitas flores.

Na aldeia podemos ver o fontanário, a eira e o forno. No alto do monte de São Simão existe a ermida dedicada a este santo, o templo mais antigo do concelho de Figueiró dos Vinhos, datado do século XV. No ponto mais alto da aldeia encontra ainda o excelente restaurante Varanda do Casal que proporciona uma vista desafogada sobre os montes que envolvem a aldeia e onde se pode saborear a típica comida regional que segue os princípios mais genuínos da região, utilizando tachos de barro, forno a lenha e os temperos locais. Saberes adquiridos junto das pessoas mais velhas.

Bem perto da aldeia, onde a ribeira de Alge rasga o imponente maciço rochoso, ficam as Fragas de São Simão com o seu miradouro, a bela praia fluvial (que também já mereceram destaque, aqui no blog, como Hot Spot) e os recentes passadiços que unem o miradouro e a aldeia de Casal de São Simão, numa extensão de cerca de 1700 metros.

A aldeia de Casal de São Simão parece repousar tranquilamente, adormecida no silêncio do monte, deixando-se embalar pelo cantar das águas da ribeira que corre a seus pés, numa harmonia perfeita entre a natureza e a aldeia. Um pequeno paraíso repleto de surpresas a cada recanto.


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