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Foto do escritorJoão Pais

Aldeias do Xisto de Góis

Atualizado: 13 de abr. de 2021

Percurso pelas Aldeias do XIsto de Góis: Comareira, Aigra Nova, Aigra Velha e Pena


Quem já me conhece há algum tempo, sabe que eu, volta e meia, estou “perdido” pela serra da Lousã. É um dos meus locais favoritos. A serra com todo o seu verde, com toda a sua imponência e beleza. E claro está, que não podiam faltar as maravilhosas Aldeias do Xisto.

Desta vez, fui conhecer as Aldeias do Xisto do concelho de Góis. Como conheço bem o caminho, optei por ir até à Lousã e depois seguir a EN342 em direcção a Góis. Cerca de onze quilómetros após a vila da Lousã, chegamos a uma localidade chamada Albergaria. Depois de passar o acesso, à esquerda, para Albergaria temos, uns metros mais à frente, o desvio, à direita, para as Aldeias do Xisto. Estamos a cerca de cinco quilómetros da vila de Góis.

São quatro pequenas aldeias, todas muito próximas umas das outras – entre este ponto da EN342 e a última aldeia são cerca de 19 quilómetros, sendo os últimos três feitos num estradão de terra em bom estado. Assim, saindo da EN342, subimos por uma estrada florestal, estreita e com algumas curvas apertadas. Não tem que enganar, é seguir sempre em frente até à primeira aldeia.

Comareira

A primeira aldeia que encontrei foi a aldeia de Comareira. Esta é a mais pequena das aldeias da rede “Aldeias do Xisto”, que engloba 27 aldeias espalhadas por 16 municípios. Comareira é um pequeno aglomerado de casas, talvez meia-dúzia. As casas, como é típico destas aldeias, são todas construídas em pedra de xisto, embora algumas apresentem reboco exterior. A aldeia apresenta poucos sinais de vida própria, a não ser o som de animais e um ou outro cão deitado à sombra. Do miradouro, em frente ao parque de estacionamento, à entrada da aldeia, temos uma excelente panorâmica para a serra com paisagens a perder de vista. Destaque para a Casa de Campo da Comareira, devidamente recuperada e onde poderá descansar o corpo e a alma em harmonia com a natureza.

Comareira

Seguindo estrada fora, passámos pela indicação de Pena, mas a próxima aldeia será Aigra Nova, que fica ali logo a seguir; menos de um quilómetro à frente. A aldeia ergue-se ao virar da curva com as suas casas quase todas de dois pisos. A aldeia “divide-se” em três ruas que se encontram à saída, pelo lado oposto. Mais uma vez, o material predominante das construções é o xisto e, também aqui, existe uma ou outra casa rebocada por fora. De notar, em muitas casas, as padieiras das portas em madeira, normalmente de carvalho ou castanho.

Aigra Nova é uma aldeia com vida, há aqui gente que atravessa as ruas, que se cruzam connosco e nos cumprimentam, há animais e há hortas cultivadas. Aqui poderá visitar o Ecomuseu Tradições do Xisto, a Horta Pedagógica, a Maternidade de Árvores e a loja das Aldeias do Xisto que apara além de vender os produtos tradicionais e locais, com o selo das Aldeias do Xisto tem, também, um serviço de bar e servem refeições ligeiras. Encontramos ainda algumas casas de alojamento local.


Aigra Nova

Aigra Nova

Quem atravessar a aldeia de carro, pode seguir para Aigra Velha, a estrada faz ligação. Mas como o carro tinha ficado no pequeno parque de estacionamento à entrada da aldeia, optei por voltar para trás e “apanhar” o desvio com a indicação para Pena. Pouco mais de dois quilómetros à frente, estamos em Aigra Velha. À semelhança de Comareira, Aigra Velha é uma aldeia muito pequenina. A pequena aldeia não deve ter mais do que uma dezena de construções, todas muito próximas, todas encaixadas umas nas outras.

Segundo dizem, a aldeia apresenta-se fechada ao exterior, a sua construção está feita de maneira aos seus (antigos) habitantes se protegerem de intrusos, de animais selvagens (os lobos) e do tempo, havendo mesmo ligações internas entre as casas. Conta-se que cada cozinha tinha um esconderijo, entre a cozinha e os currais, que servia para esconder os alimentos dos fiscais do Estado Novo, que vinham às aldeias confiscar o que eles consideravam alimentos excedentes.

Aigra Velha

Aigra Velha fica num dos cumes mais altos da serra da Lousã, a 770 metros de altitude. É uma zona de grande beleza natural flanqueada por cumes quase sem uma única árvore. A aldeia é rodeada por alguns terrenos agrícolas e de pastoreio para as cabras. Daqui avistam-se os Penedos de Góis. Não deixe de visitar o forno e o alambique da família Claro e de passar pela fonte que está sempre a deitar água fresca e, lá ao fundo, pode-se ver a bonita casa de alojamento local, a Casa da Banda de Além. Mais acima, encontrámos o tanque onde se armazena água em caso de incêndio. Sentada a uma sombra, ali por perto, estava uma senhora com quem estive um bocado à conversa. Falámos da aldeia, dos acessos, dos visitantes que são sempre bem-vindos e, por fim, ela perguntou-me se eu não tinha visto o rebanho dela: “tenho umas cabras aí pelo monte e não sei para onde é que elas foram. Não sei para que lado é que as hei-de procurar.”

A aldeia, hoje, parece desabitada e sem vida mas, antigamente, estas “estradas” serranas eram percorridas por comerciantes que tinham que atravessar a serra e pernoitavam nestas aldeias. Havia movimento, alegria e barulho. Aqui, hoje, apenas se houve o alegre chilrear dos pássaros e a água que cai, sem parar, no chafariz.

Aigra Velha

Após a visita rápida a Aigra Velha, era altura de seguir para Pena. A viagem para a aldeia de Pena faz-se por uma estrada em terra batida, quase sempre a descer. São três quilómetros num estradão que se encontrava em bom estado. Não muito longe de Aigra Velha, numa curva, um rebanho de cabras descasava à sombra de um sobreiro…

A aldeia do xisto de Pena, com as suas casas alinhadas encosta acima, encontra-se num cenário natural de grande beleza. As suas casinhas tradicionais empoleiram-se sobre a ribeira de Pena com as suas águas cristalinas. Crê-se que a aldeia é habitada desde o século XVI.

Deixe o carro no parque, à entrada da aldeia e percorra a pé as suas ruas e ruelas encantadoras. Esta é a maior das quatro aldeias visitadas e, aqui, nota-se que a aldeia é habitada; pelo observar das casas, pelas roupas estendidas, pelo fumo e cheiro de sardinha assada (a hora de almoço aproximava-se…), pelos carros estacionados, pela paragem de autocarro e, obviamente, pelas pessoas que se cruzam connosco e, simpaticamente, nos cumprimentam com um sorriso na cara.

Pena

A aldeia de Pena brinda-nos com muitos pormenores interessantes, com janelas floridas, o seu castanheiro centenário junto à ponte, as alminhas, o fontanário no centro da aldeia… E embora, aqui e ali, surja uma ou outra construção, mais recente, a harmonia da aldeia mantém-se.

Rodeada por campos de cultivo, aqui (quase) tudo se mantém rude, natural e genuíno. Do outro lado da ribeira, a mais de mil metros de altitude, debruçados sobre o casario, os Penedos de Góis, vigilantes gigantes, tomam conta da pequena aldeia.

Pena

Existem outros acessos para visitar as Aldeias do Xisto de Góis: a partir do Alto do Trevim (onde tem o célebre baloiço), mas garantiram-me que a estrada, também em terra, está em mau estado, com muita pedra solta; outro acesso, é a partir de Góis, seguir pela EN2 em direcção a Pampilhosa da Serra / Pedrogão Grande, cerca de sete quilómetro à frente, na localidade de Esporão, encontrará o desvio à direita para a aldeia de Pena, o percurso é maior, mas asfaltado.


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