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  • Foto do escritorJoão Pais

Aldeia do Xisto de Martim Branco

Atualizado: 13 de abr. de 2021

Hoje vou falar-vos de um local fantástico! Um local perfeito para um fim-de-semana sossegado, longe do rebuliço das grandes cidades, um refúgio espiritual ou, simplesmente, para “carregar baterias”. Linha de Terra foi até Martim Branco.



Martim Branco é uma das 27 localidades pertencentes à rede das Aldeias do Xisto. Fica na freguesia de Almaceda, em Castelo Branco. Rodeada por uma floresta que já foi mais densa, em volta da aldeia, bem como por quase toda esta zona, podemos ver pinheiros, sobreiros, azinheiras e muitas, muitas oliveiras. Ao permanecermos na aldeia algum tempo, a ideia que nos fica é que estamos num local isolado e remoto, mas, na realidade, Martim Branco está a pouco mais de vinte quilómetros do centro de Castelo Branco (pela EN 112) e a escassos onze quilómetros de Almaceda e da sua praia fluvial.

A pequena aldeia de Martim Branco é uma daquelas aldeias muito antigas que ficou parada no tempo – não evoluiu, não se desenvolveu nem cresceu, antes pelo contrário, ao longo dos anos viu os seus habitantes irem embora. Talvez isso possibilitasse que a aldeia ainda se encontre como há muitos anos atrás, pequena, genuína, quase intacta, apenas lutando contra o desgaste natural do tempo. De muito tempo...



Apesar da cor forte do xisto sobressair na paisagem da aldeia, Martim Branco está imerso num imenso manto verde com a floresta que a envolve e os seus campos de cultivo a criarem um enquadramento bucólico e único.

A ribeira de Almaceda, que corre ao longo da aldeia, logo ali ao lado de uma das suas ruas, é um excelente postal ilustrado com uma envolvente natural de grande beleza. O aproveitamento de uma pequena represa e um agradável “jardim” de oliveiras fazem o par perfeito para a contemplação e para o despertar dos sentidos. Aqui paramos no tempo enquanto enchemos os pulmões de ar puro e escutamos o doce cantar dos pássaros e o som da água a correr na ribeira.

Encaixada entre a serra da Gardunha e a

serra do Moradal, a pequena aldeia de Martim Branco conta com menos de três dezenas de habitantes, e estende-se ao longo das duas ruas existentes e que seguem, lado a lado, com a ribeira de Almaceda. A rua Principal e a rua da Bica, esta, seguramente, a mais antiga, mais estreita e com mais casas de xisto.



O xisto sobressai no modesto casario de Martim Branco, embora se possa ver também o uso do granito. No interior das construções, aqui e ali, ainda podemos ver algumas velhas paredes em madeira e de taipa (uma técnica de construção muito antiga que tem como base uma mistura de terra/barro e palha que funcionava também como isolamento térmico).

Como pude comprovar nos dois dias que estive em Martim Branco, aqui todos vivem num ambiente familiar, de simplicidade, simpatia e com grande afinidade entre todos os habitantes (e mesmo com os turistas). Aqui, como acontece em muitos outros lugares isolados, os habitantes locais gostam de receber os “forasteiros”, saem para a rua a oferecer ajuda, dar indicações e disponibilizam-se para nos contar as histórias da terra.

Hoje a aldeia conta com poucos habitantes mas, não há muitos anos, eram bem mais. Na altura, há cerca de 30 ou 40 anos, a aldeia era próspera, a maioria dos que aqui habitavam viviam e trabalhavam na aldeia. Vivia-se da agricultura, da azeitona e do aproveitamento da resina. Agora tudo é diferente; poucos vivem na aldeia e quase ninguém vive da agricultura e os incêndios dos últimos anos deram cabo dos pinhais, embora, por estas serras, se vejam mais pinheiros do que eucaliptos. No entanto, apesar de a agricultura já não conseguir manter as populações na sua terra natal e de não ser sustento para quase ninguém, não pude deixar de reparar, já a caminho de Castelo Branco, na imensa área de olival que por ali existe. Passei por um enorme empreendimento agrícola com diversos hectares de oliveiras que, segundo me disseram, pertencerá a Isabel dos Santos. Talvez por estes lados ainda haja alguma aposta forte na agricultura e no desenvolvimento, havendo assim esperança na fixação das populações locais.

Forno comunitário

Há alguns anos, a edilidade local viu na aldeia interesse histórico, cultural e turístico e começou a recuperar algumas das suas casas típicas bem como alguns dos seus espaços públicos, como os fornos comunitários e também com a criação da Casa das Artes e Ofícios e a aldeia passou a fazer parte da rede das Aldeias do Xisto. A Casa das Artes e Ofícios está instalada numa antiga habitação que foi recuperada, mantendo a sua traça original e transformada num espaço que visa relembrar e reactivar algumas das actividades de outrora, como a cultura do linho e o uso do tear, bem como a recuperação dos moinhos da ribeira de Almaceda. O edifício tem ainda um espaço para exposições e alberga a loja das Aldeia do Xisto onde é possível apreciar e adquirir algum artesanato e produtos tradicionais das diversas Aldeias do Xisto.


Casa das Artes e Ofícios

Algo curioso, ao contrário das muitas aldeias que já visitei, é o facto de não existir qualquer edifício religioso na aldeia. Pelo que eu me apercebi, Martim Branco não tem igreja nem nenhuma capela.

Espaço Memória João Terra

Na aldeia existe ainda o “Espaço Memória João Terra”, um local que pretende homenagear um homem da terra. Um poeta e mestre de tudo o que eram artes manuais. Se o espaço estiver fechado, peça para visitar junto do empreendimento turístico “Xisto Sentido”.

Linha de Terra teve oportunidade de ser guiado nesta visita pela Carmita que, simpaticamente, nos explicou cada um dos objectos da exposição e ainda nos contou imensas histórias. O “Espaço Memória” para além de exibir todo o processo do ciclo do linho – noutros tempos uma das principais actividades da aldeia –, pretende mostrar como se vivia antigamente e, para além de diversos objectos antigos, mantém uma casa como terá sido encontrada e que demonstra como seriam as casas daquele tempo, conservando, inclusivamente, um pequeno esconderijo que seria usado para guardar os víveres nas alturas das invasões e assim evitarem os saques.

O único alojamento da aldeia dá pelo bonito nome de Xisto Sentido, um nome bem apropriado pois aqui tudo apela para os nossos sentidos. Foi aqui que Linha de Terra ficou instalado. O empreendimento conta com quatro casas de xisto e um restaurante. As casas, lindíssimas, parecem retiradas de um livro de contos. São simples, a condizer com a sua construção, sem luxos desnecessários, mas

muito confortáveis. O restaurante “Bem-me-Quer” é um espaço muito simpático, apresenta uma decoração com os mais variados objectos de outros tempos e mesas com toalhas antigas de linho. O restaurante só funciona por marcação e aposta em pratos tradicionais como cabrito no espeto em forno de lenha, cabra na caçarola, arroz de pato, bacalhau com broa ou feijoada à beirã, entre outros. O espaço apresenta ainda uma magnífica esplanada para as noites de calor.


Pormenores do restaurante


Linha de Terra foi principescamente recebido pela D. Fernanda que, com a sua simpatia faz com que os seus hóspedes se sintam em casa. Depois de instalado e de uma volta pela aldeia, chegou a hora do jantar. O repasto foi perfeito: entre as entradas com produtos da terra e as sobremesas caseiras a fazer lembrar o tempo das nossas avós, deliciei-me com um bacalhau com broa em cama de legumes, simplesmente divinal. De manhã, o pequeno-almoço é servido com produtos locais e pão caseiro.



Se tiver tempo, ao fundo da aldeia existe uma pequena lagoa com um magnífico espelho de água e existem percursos pedestres (PR8 CTB – Rota dos Moinhos e PR2 CTB – Caminho do Xisto de Martim Branco) e de BTT para conhecer a região.

Agora a minha grande dica: Se optar por ficar a dormir em Martim Branco, à noite, caso esteja céu limpo e tempo quente, não deixe de fazer um pequeno passeio pela aldeia e terminar no “jardim” das oliveiras, mesmo ao lado do “Xisto Sentido”. Vá até junto da ribeira, sente-se num dos bancos ali existentes e escute o doce cantar da água a correr. Depois de se deixar “levar” pelo melodioso som, olhe para cima e contemple o céu. Vai ver que nunca viu um céu tão grandioso e tão brilhante… Mas há mais. Se não fizer muito barulho e se ficar por ali mais algum tempo, pode ainda deliciar-se com um magnífico concerto coral de rãs… É a natureza no seu melhor!


Linha de Terra pagou todas as despesas inerentes à estadia em Martim Branco.


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