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Foto do escritorJoão Pais

Penela medieval

Penela é uma vila pitoresca que repousa, tranquila, sob a protecção do seu castelo medieval. No meio de uma bonita paisagem com campos verdejantes e cursos de água que serpenteiam entre suaves colinas, Penela, com a sua atmosfera serena, convida o visitante a descobrir calmamente as suas ruas e a beleza natural que abraça a vila.


A vila de Penela localiza-se no extremo sul do distrito de Coimbra, a cerca de 30 quilómetros desta cidade. Localizada na margem esquerda do rio Dueça, Penela é uma vila rodeada por bonitas paisagens e diversas serras.

Penela é um dos concelhos mais antigos do nosso país, por isso mesmo, é uma terra cheia de história. Os sucessivos forais atribuídos a Penela atestam a importância que a vila teve desde a sua origem medieval. Devido à sua localização, a vila de Penela desempenhou um papel estratégico nas disputas territoriais do início da nacionalidade e como ponto avançado na linha defensiva do Mondego. Ao longo dos séculos, Penela testemunhou o decorrer da história de Portugal desde os tempos dos mouros até à formação da nacionalidade, como se pode atestar pelas suas fortalezas e pelos diversos e riquíssimos vestígios arquitectónicos.

A vila possui um centro de estudos da história local e regional que pretende conhecer e divulgar o passado das comunidades locais. O Centro de Estudos de História Local e Regional Salvador Dias Arnaut – natural de Penela, Salvador Dias Arnaut foi médico, professor e historiador, foi um grande cultor do estudo e divulgação da história local e regional – possui uma biblioteca especializada com uma extensa colecção de monografias locais. O Centro de Estudos fica junto ao edifício da Câmara Municipal e é uma referência e um espaço único a nível nacional, um espaço aberto à população e à comunidade cientifica.


Pelas ruas de Penela
Pelas ruas de Penela

As origens de Penela

O povoamento desta região remonta a tempos ancestrais, deixando-nos um importante legado cultural ao longo dos séculos. Muito antes da chegada dos Romanos, calcula-se que esta região já era habitada por comunidades Pré-Históricas. Artefactos arqueológicos encontrados indicam uma significativa presença humana. Com a chegada dos Romanos a região ganhou importância com a construção de estradas e villas, evidenciando a importância estratégica que o local teve durante a ocupação romana da Península Ibérica. A presença dos Visigodos e, mais tarde, dos Mouros deixaram a sua marca na história de Penela. Durante a Idade Média, Penela ganhou relevo com a construção do seu castelo, não só pela sua importância militar mas também devido ao crescimento da sua população.


O topónimo Penela

O termo “penela” está tradicionalmente associado a determinadas características geográficas. “Penela” é um diminutivo de “peña”, “pena” que, em latim, designa um outeiro, uma elevação de terreno, uma pequena rocha ou um penhasco. Portanto a possível origem do nome estará associada a uma elevação de terreno ou à presença de pequenas rochas, o que reflete a topografia da região e que terá estado na origem da escolha do local para instalação do povoado.

Existe uma tradição oral que nos conta que, quando da conquista de Penela por D. Afonso Henriques, ao entrar na povoação, o soberano teria incitado os seus homens exclamando: “Coragem! Já estamos com o pé nela!”

Os habitantes ou naturais de Penela são penelenses.


Vista sobre o casario de Penela, com o edifício da Câmara Municipal e a matriz
Vista sobre o casario de Penela, com o edifício da Câmara Municipal e a matriz

História de Penela

Muito antes da chegada dos Romanos, esta região já era habitada por comunidades Pré-Históricas. Com a expansão romana pela Península Ibérica a região ganhou importância estratégica e a construção de estradas e de Villas trouxe o desenvolvimento urbano e económico do lugar. Por aqui passava uma importante via romana que ligava Aeminium (Coimbra), Conímbriga, Sellium (Tomar), Scallabis (Santarém) e Augusta Emérita (Mérida).

Mas é durante a Idade Média que a história de Penela ganha contornos mais distintos e que a vila se desenvolve e conhece a sua consolidação como ponto estratégico. Pela região terão passado Vândalos e Visigodos e, mais tarde, os muçulmanos que, durante o século VIII, terão tomado a fortaleza então existente. As tropas de Fernando I de Leão (Fernando, o Magno) conquistaram Penela em 1064, tendo a fortificação ficado sob a responsabilidade do conde Sesnando Davides, após a conquista de Coimbra.

É a D. Sesnando que se deve a reedificação do castelo e o povoamento de Penela. Acredita-se que serão deste período as sepulturas antropomórficas existentes no interior das muralhas, junto às escadas do castelejo.

Durante a Idade Média, na Reconquista Cristã, as terras de Penela funcionaram como frente de batalha e guarda avançada da cidade de Coimbra oferecendo resistência às sucessivas vagas muçulmanas.

Penela recebeu o seu primeiro foral em 1137, ainda antes da nacionalidade, concedido por D. Afonso Henriques, que terá reedificado o Castelo. Depois disso, a vila seria tomada novamente pelos muçulmanos e veio a ser definitivamente reconquistada em 1148.

No século XIII, D. Sancho I viria a dar novo alento à vila de Penela, ordenando o seu repovoamento a recuperação do seu castelo, continuada durante o século XIV por D. Dinis, responsável pela edificação da torre de menagem e da cerca da vila. Aqui viria a nascer (e a falecer) o infante D. Afonso, segundo filho do soberano, que viria, mais tarde, a reinar sob o nome de Afonso IV de Portugal.


Penela e o seu castelo medieval

Na história ficou célebre um episódio marcante do apoio popular em defesa de D. João, Mestre de Avis, durante a crise de 1383-1385: era, na altura, senhor de Penela o conde de Viana do Alentejo, D. João Afonso Telo de Meneses, partidário de D. Beatriz, casada com João I de Castela, quando o povo decidiu defender o Mestre de Avis e revoltar-se contra o conde. Um grupo de populares fez-lhe uma emboscada à saída do castelo, tendo ficado célebre Caspirro por ter assassinado o conde. Penela enviou os seus representantes às Cortes de Coimbra, quando o Mestre de Avis foi coroado rei. Este, ao fazer doações aos seus filhos, doou Penela ao seu filho D. Pedro, posteriormente, duque de Coimbra.

Durante o século XV, D. Pedro mandou edificar, dentro da cerca do Castelo, a igreja de São Miguel e um Paço. Em 1465, a vila de Penela foi doada a D. Afonso de Vasconcelos, primeiro conde de Penela e, após a morte deste, foi entregue a a D. João de Vasconcelos e Meneses, seu filho e segundo conde. Após a morte do segundo conde de Penela, a vila passou para D. Jorge, Mestre de Santiago, Duque de Coimbra, filho bastardo de D. João II

No século XVI, D. Manuel I concede Foral Novo a Penela.

Depois de mais de cem anos na posse da mesma família, com a morte do duque de Coimbra, a jurisdição da vila transitou para a Casa de Aveiro, na qual permaneceu até 1759, ano da sua extinção devido ao atentado a D. José, passando então a vila de Penela a pertencer à coroa.


O QUE VISITAR EM PENELA

Penela oferece uma variedade de locais encantadores para explorar, misturando história, cultura e beleza natural. Penela é uma vila muito calma que se percorre facilmente a pé, já que o seu centro não é muito grande.

Quando eu visitei Penela, a zona entre o Castelo e a Câmara Municipal estava em obras e, pelo que me apercebi, vai continuar por um longo período, pelo que é conveniente evitar levar o carro para esta área. Mas não faltam locais onde estacionar o carro.

Calcorrear o centro histórico da vila é tarefa fácil e muito agradável. Para além dos edifícios religiosos e do seu Castelo medieval, que sobressai na paisagem, Penela conta com alguns edifícios de interesse histórico e arquitectónico. De destacar os edifícios junto à igreja da Misericórdia que formam uma passagem sobre a rua. No centro histórico de Penela vai encontrar casas tradicionais e praças bastante agradáveis como é o caso da Praça da República e do Parque das Águas Romanas. Tudo numa atmosfera bastante calma e acolhedora. Ao redor do seu centro histórico existem alguns miradouros para quem pretender uma vista desafogada sobre a vila.


Castelo de Penela
Castelo de Penela
Castelo de Penela

Sem dúvida que o grande destaque da vila de Penela vai para o seu imponente castelo. Graças aos artefactos militares medievais espalhados pelo Castelo podemos facilmente fazer uma viagem no tempo e imaginar-nos a “reviver” épicas aventuras medievais. Suba às suas muralhas e torres, de onde obtém uma panorâmica espectacular da vila e sinta a Natureza que envolve a vila.

A partir de vestígios encontrados, crê-se que na origem do Castelo de Penela estivesse um primitivo castro lusitano que, posteriormente, terá sido aproveitado pelos Romanos para aqui construírem uma torre militar e, posteriormente, pelos muçulmanos para aqui erguerem uma pequena fortaleza. Apesar da construção do Castelo de Penela datar do século XI, aquilo que podemos ver hoje em dia apenas remonta às reconstruções realizadas durante os séculos XIV e XV.

Na época da Reconquista, o Castelo de Penela, juntamente com outras fortificações da região, integrava a linha defensiva do Mondego. O Castelo de Penela servia de guarda avançada da cidade de Coimbra devido à sua importante posição estratégica, já que por aqui passava a estrada que ligava o baixo Mondego a Pombal e a Santarém, tornando Penela num ponto de passagem dos exércitos muçulmanos. O Castelo de Penela é, depois do castelo de Montemor-o-Velho, o mais amplo e forte que actualmente resta da linha defensiva do Mondego.

O Castelo de Penela é uma construção medieval do século XI. Quando D. Sesnando – governador de Coimbra e senhor de toda a região, declarou, em 1087, ter povoado Penela, parece que já existia uma pequena cerca no topo dum afloramento rochoso e nas décadas de 70 e 80 daquele século, o Castelo de Penela era já uma fortaleza autónoma e de difícil acesso.

A sua edificação, em posição dominante sobre uma colina, aproveita uma pequena elevação escarpada. Aproveitando o declive natural, o Castelo de Penela apresenta muralhas mais elevadas e fortes na sua frente e mais baixas na traseira, beneficiando da morfologia do terreno. Das 12 torres que existiram até ao século XVIII, já apenas quatro subsistem.

Com a atribuição da carta de Foral, em 1137, por D. Afonso Henriques, Penela ganha importância e dá-se a ampliação do Castelo e a transformação do castelejo em torre de menagem.

O Castelo de Penela terá sido, posteriormente, restaurado no século XIV, durante o reinado de D. Sancho I, altura em que terá sido aberta a Porta da Traição. Já no século XV, D. Pedro terá mandado construir, dentro da cerca do Castelo, a Igreja de São Miguel e um Paço Ducal (hoje desaparecido). No século XVI o Castelo de Penela terá sofrido obras de consolidação e, em 1755, o terramoto de Lisboa terá causado importantes danos na fortaleza, destruindo a torre de menagem.

Durante o século XVIII, dá-se o declínio do Castelo de Penela com a perca da sua função estratégico-defensiva, chegando ao século XX em estado de degradação e de ruína.

Ao longo do século XX, o Castelo de Penela sofreu importantes obras de recuperação com a consolidação das fundações e das muralhas e reconstrução das ameias e dos adarves bem como a limpeza da cisterna. O Castelo de Penela é monumento nacional desde 1910.

Actualmente, o Castelo de Penela alberga a igreja de São Miguel, a casa paroquial, um anfiteatro e um espaço museológico. Do alto das suas muralhas, para além de uma bela vista para a localidade de Penela, podemos desfrutar de uma magnífica panorâmica com vista para a serra da Lousã, lá ao longe.


Igreja de São Miguel no interior das muralhas do castelo
Igreja de São Miguel no interior das muralhas do castelo

Igreja de São Miguel

Situada no interior das muralhas do Castelo de Penela, calcula-se que este é um templo original do século XII. Quando D. Afonso Henriques atribuiu Carta de Foral a Penela, já era referida a existência de um templo no interior da fortaleza. Deste edifício original já nada resta. O templo conforme o vemos actualmente é uma reconstrução do do século XVI , altura em que o Castelo e a Igreja de São Miguel foram alvo de profundas obras de remodelação.

A igreja de São Miguel tem três naves divididas por colunas e a sua capela-mor é completamente revestida por talha dourada dos finais do século XVII. A igreja conserva ainda duas esculturas de grande valor, uma do século XV e, uma imagem da Senhora com o Menino, esculpida por João de Ruão em meados do século XVI.


Matriz de Penela, Igreja de Santa Eufémia
Matriz de Penela, Igreja de Santa Eufémia

Igreja Matriz de Penela

A matriz de Penela, ou igreja de Santa Eufémia, situa-se no alto da povoação, em lugar de destaque entre o casario. Embora haja algumas referências a uma igreja no século XIII, este é um templo datado do século XVI.


Interior da matriz de Penela
Interior da matriz de Penela

A matriz de Penela possui um interior de três naves separadas por arcadas. A sua capela-mor tem um retábulo de madeira e talha dourada com uma pintura de Santa Eufémia, do século XIX. O templo apresenta várias capelas com retábulos em madeira e silhares de azulejos de Coimbra. De salientar o retábulo da capela do Espírito Santo, uma escultura de pedra, quatrocentista, representando a Virgem com o Menino.


Igreja da Misericórdia de Penela
Igreja da Misericórdia de Penela

Igreja da Misericórdia

A igreja da Misericórdia localiza-se um pouco abaixo da matriz, após uma passagem sobre a rua, e formando um gaveto com uma pequena escadaria. O templo é uma construção da segunda metade do século XVI, apesar de apresentar a data de 1616 no seu portal, esta data corresponde ao ano da sua reforma.

A igreja da Misericórdia é um templo de nave única de interior bastante simples, apresentando tecto de madeira com caixotões e onde se destaca a decoração dos arcos da capela-mor com retábulos de talha policromada. No pavimento da sacristia existe um brasão com as armas nacionais, datado do século XVIII.

Adossado à Igreja da Misericórdia fica o edifício do antigo Hospital da Misericórdia que funcionou até 1941 (tendo, depois, tido outras funções).


Convento de Santo António
Convento de Santo António

Convento de Santo António

O Convento de Santo António foi fundado no século XVI pela Ordem dos frades Franciscanos Capuchos. É um edifício simples e austero, característico da arquitectura daquela ordem religiosa.

O Convento ainda conserva, na sua entrada principal, o arco abatido característico da Ordem, bem como ainda se podem observar, os nichos da sua fachada principal, onde estiveram as esculturas de São Francisco e de Santo António.

Apesar de ter sido fundado no século XVI, alguns elementos só terão sido construídos durante o século XVIII – época em que se verificou uma profunda reforma –, como é o caso da sua igreja, da área residencial dos frades e os anexos.

A capela-mor possui um bonito retábulo, do século XVII, em talha dourada e duas tábuas pintadas com a Virgem e o Anjo da Anunciação. De notar ainda os azulejos azuis e brancos, setecentistas, fabricados em Coimbra, representando cenas evocativas da vida de Santo António.

No século XIX, com a extinção das ordens religiosas (1834), o Convento passou para a posse de particulares e foi entrando, gradualmente, em degradação. Actualmente, a sua igreja é propriedade da Fábrica da Igreja de Palmela, encontrando-se ainda aberta ao culto (penso de ocasional) podendo-se agendar uma visita. O edifício conventual, anexo à igreja, encontra-se em mau estado, embora apresente alguns sinais de reconstrução. No entanto, a parte privada do conjunto arquitectónico não é visitável.

O Convento, que está classificado como imóvel de interesse público desde 2009, encontra-se inserido num aprazível espaço verde junto à estrada e com lugares de estacionamento.


Capela de Nossa Senhora da Conceição
Capela de Nossa Senhora da Conceição

Capela de Nossa Senhora da Conceição

A Capela de Nossa Senhora da Conceição é fácil de identificar, encontra-se à entrada da vila, à face da N347 e junto ao quartel dos Bombeiros Voluntários de Penela.

Implantada num pequeno outeiro, a Capela de Nossa Senhora da Conceição é um templo do século XVII, com reconstrução já no início do século XX.


Capela de São Lourenço
Capela de São Lourenço

Capela de São Lourenço

A Capela de São Lourenço ergue-se nos limites da zona mais antiga da vila. É um templo do início do século XIX e destaca-se pelo seu alpendre.

No seu interior apresenta duas esculturas de pedra, datadas do século XVII, de São Cosme e de São Damião. O retábulo da capela-mor é em pedra pintada com um nicho com a imagem de São Lourenço do século XVIII.


Pelourinho de Penela
Pelourinho de Penela
Pelourinho de Penela

O Pelourinho de Penela remonta ao período medieval, é uma estrutura quinhentista de construção em granito onde ainda se podem observar os quatro ferros de sujeição. Inicialmente, o Pelourinho encontrava-se na praça da vila, junto às muralhas do castelo. O Pelourinho de Penela é monumento nacional.


Miradouro da Boavista

Este miradouro é de fácil acesso, localizando-se em frente ao quartel dos Bombeiros Voluntários de Penela (M562). O Miradouro da Boavista apresenta vistas desafogadas para o castelo.


Dos miradouros obtêm-se uma bela panorâmica sobre a vila de Penela e o seu Castelo
Dos miradouros obtêm-se uma bela panorâmica sobre a vila de Penela e o seu Castelo

Miradouro de Penela

Situa-se um pouco mais acima do anterior (M562), em direcção ao Monte Vez e conta com uma vista desafogada para todo o casario da vila.


Miradouro Olho de Pedra

O acesso a este miradouro faz-se um pouco abaixo do posto de abastecimento da Galp (N347/IC3), pela estrada da Mestra. Logo após o seu início é necessário seguir por um caminho de terra à esquerda. O local tem vista sobre o casario da vila e apresenta uma pedra esculpida a fazer lembrar um olho.


Baloiço da Vinha, com  vista para o Castelo de Penela
Baloiço da Vinha, com vista para o Castelo de Penela
Baloiço da Vinha

Um magnífico miradouro com um baloiço junto a uma vinha com uma maravilhosa paisagem e com vista para o castelo e para a vila de Penela. O seu acesso faz-se a partir da capela de Nossa Senhora da Conceição e acesso ao quartel dos Bombeiros, numa pequena rua à direita. Terá que fazer cerca de 900 metros numa estrada estreita até chegar ao Baloiço da Vinha. O local e as magníficas vistas valem a pena.


Presa das Bicas

Já fora dos limites da vila, mas não muito longe (cerca de três quilómetros), fica a Presa das Bicas que, como o seu nome indica é uma presa que retém as águas do rio Dueça. É um local de grande beleza que se acede pela povoação de Casal Pinto.


A vila de Penela é uma localidade pacata onde passado e presente se entrelaçam harmoniosamente. Penela soube preservar o seu património histórico e arquitectónico num convite a uma “viagem no tempo”. A sua beleza natural, que nos permite uma verdadeira conexão com a Natureza, revela-nos paisagens e locais deslumbrantes que nos proporcionam momentos relaxantes num ambiente tranquilo.

Penela é um tesouro escondido no centro de Portugal.


Ali perto…

Rabaçal

Não muito longe do centro da vila de Penela (cerca de sete quilómetros), inserida na encantadora paisagem do concelho, fica Rabaçal.

A localidade, que foi vila e sede de concelho até 1853, é conhecida pelo seu Queijo Rabaçal (DOP) – um queijo curado e fabricado com leite de cabra e de ovelha. Por isso, não deixe de procurar as queijarias locais e provar este afamado produto.

As origens da localidade remontam a tempos longínquos, confirmados por vestígios arqueológicos que testemunham uma presença humana ancestral, como é o caso da Villa Romana do Rabaçal (a cerca de um quilómetro do centro da localidade). Calcula-se que a Villa tenha sido construída no século IV e que tenha sido habitada até ao século V. Para visitar a Villa Romana é necessário fazer marcação prévia no Espaço-Museu, junto à igreja do Rabaçal.

Durante a Idade Média, Rabaçal desempenhou um papel importante como reforço da área de defesa da cidade de Coimbra contra as investidas muçulmanas como se pode comprovar pelas ruínas do Castelo de Germanelo (sensivelmente a meio caminho entre Penela e Rabaçal), mandado construir por D. Afonso Henriques, no século XII. A fortaleza é um pequeno recinto de forma aproximadamente triangular. O troço norte da muralha encontra-se restaurado e os restantes encontram-se em ruínas. O castelo de Germanelo terá perdido as suas funções defensivas e entrado em decadência durante o século XIV. O Castelo possui amplas vistas panorâmicas sobre a região envolvente.

Na localidade do Rabaçal pode encontrar a igreja paroquial de Rabaçal, igreja de Santa Maria Madalena (século XVIII), a capela de Nossa Senhora da Piedade (em frente à igreja paroquial), também do século XVIII, um pouco mais à frente, a capela de São João, de provável construção no século XVI e, junto ao desvio que dá para a Villa Romana, a capela de São Jorge.



Ponte de Espinhal
Ponte de Espinhal

Espinhal

Espinhal dista de Penela cerca de cinco quilómetros e tem uma localização privilegiada não só pelos seus acessos, mas pela ampla e bela área florestal. Vila desde 1906, Espinhal parece ser uma terra muito antiga, já que junto da vila foram encontrados vestígios de uma calçada romana e existem documentos do século XIII que falam da terra. Existe um outro documento, datado de 1842, que menciona a existência da Ponte de Espinhal, que atravessa o rio Dueça, em 1242.

Espinhal cativa o visitante pelo seu ambiente tranquilo e acolhedor. A vila não é muito grande e merece uma visita atenta aos seus principais pontos de interesse que testemunham a história e a cultura local. Espinhal merece que percorra as suas ruas quer pelos seus monumentos religiosos quer pelas vistosas casas senhoriais dos séculos XVII e XVIII, como a Casa da Família Alarcão, a Casa do Castelo ou o Palácio da Viscondessa. Na vila podemos encontrar a igreja matriz, igreja de São Sebastião (século XVI), com a sua torre sineira barroca e um riquíssimo interior com retábulos em pedra de ançã, azulejos seiscentistas e pinturas do século XVIII. Podemos ainda encontrar a capela de Santa Luzia (século XVI), um dos templos mais antigos da vila, a capela de Santo António do Calvário (século XVIII), a capela do Santo Cristo (século XVII) e a capela do Senhor dos Aflitos (século XIX). Merece ainda uma referência (e uma visita) o chafariz de Espinhal, datado de 1885, que naquela altura era o local mais importante para o abastecimento de água à população.

Cascata da Pedra Ferida
Cascata da Pedra Ferida

Nas imediações da vila (entre Penela e Espinhal) fica a Ponte de Epinhal, na estrada de dá acesso ao Duecitânia Design Hotel. Nos arredores de Espinhal, a cerca de 13 quilómetros, fica o Miradouro de São João do Deserto (740 metros de altitude), com a sua capela do século XVI, de onde se obtém uma bonita panorâmica sobre a região. A não perder são a Cascata da Pedra Ferida – uma das mais belas de Portugal – e a Praia Fluvial da Louçainha. A Praia da Louçainha é facilmente acessível por carro, distando oito quilómetros da vila de Espinhal. Já a Cascata da Pedra Ferida, com cerca de 25 metros de altura, só é acessível a pé através de um trilho linear, o PR2 de Penela. O trilho liga a vila de Espinhal à Praia da Louçainha, passando pela Cascata da Pedra Ferida (cerca de seis quilómetros). No entanto, se seguir pela direita junto à capela de Santo António do Calvário, e conseguir levar o carro até ao parque de merendas da Cascata da Pedra Ferida (dependendo do estado do caminho em terra batida), a Cascata fica a menos de um quilómetro de distância. Garanto que vale a pena quer a cascata, quer o trajecto até lá chegar (sempre a subir...). Dada a dificuldade do terreno e o grande desnível, não é recomendado a pessoas com mobilidade reduzida, nem acompanhadas de crianças pequenas ou de colo.



Ferraria de São João
Ferraria de São João

Ferraria de São João

A aldeia de Ferraria de São João localiza-se a cerca de 15 quilómetros de Penela, na parte sul da serra da Lousã, também conhecida pelos habitantes da aldeia como serra do Espinhal ou serra de São João. A pacata aldeia faz parte da rede de Aldeias do Xisto.

Perfeitamente envolvida na Natureza, a aldeia desenvolve-se ao longo de uma rua, no fundo de uma encosta numa zona de afloramentos rochosos, onde se destaca a Crista Quartzitica São João do Deserto.

Em tempos, no início do século XX, a aldeia possuía um rebanho comunitário com mais de mil cabeças de gado. Hoje, são cerca de três dezenas os animais que continuam a sair da aldeia diariamente, serra acima.


Capela de São João Baptista, em Ferraria de São João
Capela de São João Baptista, em Ferraria de São João

Na aldeia merecem destaque as suas casas construídas em xisto, que reflectem a sua ruralidade, o conjunto de currais – que poderá ser um dos mais numerosos e preservados do nosso país, o imenso sobreiral com 200 sobreiros, a eira comunitária e a capela de São João Baptista. A aldeia dispõe de um Centro BTT (com vários percursos), uma estrutura de apoio aos amantes da modalidade, com estação de serviço para bicicletas, lavagem, ar, uma mini-oficina self-service, duches e casas de banho.



Foto do escritorJoão Pais


O Carnaval é uma festa popular e um espetáculo cultural que junta uma mistura de tradições, folclore, música e diferentes performances (mais ou menos) deslumbrantes. Esta é uma tradição que transcende o tempo e que está bem presente na nossa cultura.

Porque esta vida são dois dias (e o Carnaval, três…) importa celebrar esta festa popular, que é a primeira do ano e, que alegra muitas localidades do nosso país durante quatro dias.


História do Carnaval

A origem dos festejos do Carnaval é incerta, mas esta festa popular terá surgido na Antiguidade para celebrar os deuses pagãos, a fertilidade, o fim do Inverno e a mãe natureza. Os egípcios dedicavam a festa a Isis e a Apis, os gregos a Dionísio e os romanos a Saturno, protector da agricultura e das sementeiras. Era uma festa em que as pessoas se juntavam com a única intenção de se divertirem.

Mais tarde, depois de muitos séculos, os festejos do Carnaval terão sido reconhecidos pela Igreja e inseridos no calendário cristão. Em 340, o Papa Júlio I autorizou que os cristãos pudessem despedir-se em grande dos prazeres da carne (em todos os sentidos…). Estes três dias de folia antecedem a Quaresma, período que tem início no dia seguinte, na chamada quarta-feira de Cinzas – que corresponde a dias de jejum e abstinência.


O Carnaval é um festejo com tradições ancestrais
O Carnaval é um festejo com tradições ancestrais

Em algumas terras, por exemplo, no norte de Portugal e na Galiza, o Carnaval assume o nome de Entrudo, designação que evoca a vertente religiosa desta festa que se comemora sempre à terça-feira e 47 dias antes do domingo de Páscoa. Este era um antigo festejo no qual os foliões se sujavam com farinha, arremessavam baldes de água, limões de cheiro, ovos, tangerinas, pastelões, luvas cheias de areia e batiam com vassouras e colheres de pau.

A origem da palavra Carnaval virá do latim carnelevamen, que terá derivado em carne vale que significa adeus à carne”, referência à proibição da carne durante a Quaresma. Mas carnis levamen pode significar igualmente “prazer da carne”.

A palavra Entrudo vem do latim intoitum, que significa “entrada”, ou seja, a entrada na Quaresma.


O uso da máscara no Carnaval já vem do século XIII
O uso da máscara no Carnaval já vem do século XIII

A moda das máscaras terá surgido no século XIII, quando os nobres franceses começaram a promover grandes festas onde era obrigatório o uso de máscaras e de roupas luxuosas. Nos séculos XV e XVI, durante o Renascimento, em Itália, terão surgido os primeiros cortejos de rua. Desde então, o Carnaval é reconhecido como festa popular de rua que foi sofrendo uma série de modificações culturais até chegar aos dias de hoje, celebrando-se um pouco por todo o Mundo.


O Carnaval em Portugal

Em Portugal, uma das épocas de maior projecção do Carnaval ocorreu durante o reinado de D. João V, com características palacianas e marcadas por um enorme luxo, graças ao ouro proveniente do Brasil.

Por todo o país existem mil e uma festas carnavalescas. Há-as para todos os gostos: das mais tradicionais, que vão buscar usos e costumes ancestrais, às de influência brasileira com escolas de samba, passando pelos desfiles de carros alegóricos com sátira social e política. Só para mencionar os mais conhecidos, temos grande folia no Funchal, Estarreja, Loulé, Mealhada, Ovar, Sesimbra, Sines e Torres Vedras, todos “servidos” com mais ou menos doses generosas de samba.


Por todo o país existem festejos de Carnaval, uns mais tradicionais do que outros
Por todo o país existem festejos de Carnaval, uns mais tradicionais do que outros

Mas, Linha de Terra prefere os festejos mais tradicionais como o Entrudo Chocalheiro de Podence (Macedo de Cavaleiros) com os seus caretos coloridos; o desfile de cabeçudos e gigantones de Barcelos; o Entrudo de Lazarim com as suas mácaras de madeira (Lamego); os Caretos da Lagoa (Mira), com as suas saias vermelhas, chocalhos e máscaras de cartão enfeitadas com chifres de animais; o grande baile popular de Cabanas de Viriato (Carregal do Sal) com a (já) famosa dança dos cus, que junta umas largas centenas de pessoas que “dançam” em plena rua, em duas filas, batendo com os ditos uns nos outros; ou o Entrudo das Aldeias do Xisto de Góis, onde se usam máscaras em cortiça.

Estes são festejos de cariz mais tradicional, normalmente, ligados a rituais ancestrais, figuras demoníacas e misteriosas e às máscaras – os caretos. Sempre em festas muito musicais, alegres e coloridas. Linha de Terra conhece bem o Entrudo Chocalheiro dos Caretos de Podence e o Entrudo de Lazarim, dois exemplos dos mais tradicionais carnavais portugueses. Festejos populares que prometem encher as ruas destas duas localidades de animação e de muitos foliões carnavalescos.



O Careto do Entrudo Chocalheiro de Podence
O Careto do Entrudo Chocalheiro de Podence

Os Caretos e o Entrudo Chocalheiro de Podence

Podence é uma pequena aldeia no concelho de Macedo de Cavaleiros. A aldeia está debruçada sobre a A4 com vista para a maravilhosa albufeira do Azibo e da sua excelente praia. Os Caretos de Podence são Património Imaterial da Humanidade da Unesco desde 2019.

Em meados do século passado a tradição esteve em risco de se perder, devido à Guerra Colonial de África e por causa da imigração. Actualmente, a aldeia conta com pouco mais de 200 habitantes e, após algum esforço e dedicação a tradição foi recuperada. Hoje o Entrudo Chocalheiro e os Caretos de Podence não só são um legado importante mas também uma atracção turística para a região e para o país.

Os Caretos são seres mitológicos, seres mágicos, que nestes dias invadem e tomam conta da rua principal da aldeia para purificar e limpar os corpos do mal.


O desfile do Entrudo em Podence
O desfile do Entrudo em Podence

Dentro dos seus fatos quentes cobertos de franjas de cores garridas, onde o vermelho, o amarelo e o verde sobressaem, os Caretos, sempre homens, permanecem anónimos por detrás das máscaras de chapa (ou couro) - em geral pintadas de vermelho ou preto e com uma cruz na testa - protegidas por grandes capuzes de onde pendem enormes caudas. À cintura trazem cintos de couro com enormes chocalhos para chocalharem nas nádegas femininas – um ritual pagão cuja origem se perde no tempo.


De chocalhos à cintura e vara na mão, os Caretos correm, saltam, dançam, gritam e chocalham as mulheres
De chocalhos à cintura e vara na mão, os Caretos correm, saltam, dançam, gritam e chocalham as mulheres

No Carnaval de Podence tudo é improvisado e espontâneo. A festa consiste em grupos de Caretos acompanhados de gaiteiros a percorrerem a rua principal da aldeia que liga a igreja matriz (construída no final do século XVII e dedicada a Nossa Senhora da Purificação) e a entrada da aldeia onde fica a Casa do Careto (aproveitamento da antiga escola primária).

De chocalhos à cintura e vara na mão, os Caretos parecem ter o diabo no corpo. Correm, saltam, dançam, gritam, perseguem as mulheres e assustam os visitantes. Sempre que avistam uma mulher desprevenida, rapidamente poem-se ao lado dela e chocalham-na nas nádegas.

A festa termina com a queima do entrudo, um enorme Careto colocado em frente à Casa do Careto, à entrada da aldeia.



O Entrudo de Lazarim
O Entrudo de Lazarim

O Entrudo de Lazarim

Lazarim é uma pequena vila serrana pertencente ao concelho de Lamego. Tem pouco mais de 500 habitantes e a sua igreja matriz, dedicada ao Arcanjo São Miguel, possui um fantástico e muito valioso tecto pintado, onde se representam anjos e arcanjos, entre outras figuras sacras. A vila apresenta ainda um novo e moderno Centro Interpretativo da Máscara Ibérica, no remodelado solar dos Viscondes de Lazarim, onde se investiga e divulga a máscara na sua vertente mais tradicional da celebração do Entrudo.

O Entrudo de Lazarim é conhecido essencialmente por ser um dos mais genuínos de Portugal e pelas suas máscaras esculpidas em madeira de amieiro. Aqui as máscaras são trabalhadas à mão por artistas locais – actualmente existem cerca de uma dúzia –, onde cada peça é única, cheia de originalidade e riquíssima em pormenores. Uma obra de arte! As máscaras de Lazarim também são candidatas a Património Imaterial da Humanidade da Unesco.


Em Lazarim, as máscaras têm que ser esculpidas à mão em troncos de amieiro e numa única peça
Em Lazarim, as máscaras têm que ser esculpidas à mão em troncos de amieiro e numa única peça

Diz a tradição que as máscaras têm que ser esculpidas à mão em troncos de amieiro. Existe todo um sortido de imagens fantásticas e misteriosas que vão de figuras de animais, reis, figuras mágicas ou demónios, quase sempre com grandes cornos.

As máscaras de Lazarim sendo de uma simplicidade quase grosseira, têm uma riqueza de pormenores e uma beleza própria que, certamente, estão ao nível do que de melhor se faz no nosso país em matéria de artesanato. Antigamente as máscaras eram coloridas, mas optou-se por manter a cor natural da madeira – uma maneira de manter as peças mais próximas das suas raízes.


Carnaval em Lazarim
Carnaval em Lazarim

No Entrudo de Lazarim, existe um desfile e um concurso de máscaras. Aqui, toda a gente, homem ou mulher, residente ou de fora, pode envergar uma máscara de madeira. A única exigência é que seja esculpida por um artista local. A máscara deve ser acompanhada por um fato condizente e quanto mais extravagante melhor. Podemos observar fatos feitos com materiais da terra que passam pela palha, barbas de milho, folhas de árvores, ramos de mimosas e adereços de moda como cabaças, cajados, enxadas e outras ferramentas agrícolas.

Mas este Entrudo não se fica por aqui. Outro ponto alto da festa, na terça-feira de Carnaval, é a leitura do Testamento do Compadre e da Comadre – versos de escarnio e mal dizer trocados entre jovens solteiros (rapazes e raparigas) da vila e arredores. Eles e elas redigirem os Testamentos onde nos contam todos os defeitos dos seus conterrâneos do sexo oposto, por vezes recorrendo ao sarcasmo e ao palavrão. Os versos são depois divulgados na praça central da vila.


Em Lazarim, no final há feijoada e caldo de farinha para os visitantes
Em Lazarim, no final há feijoada e caldo de farinha para os visitantes

No fim, há um desfile de Caretos e são queimados os bonecos do Compadre e da Comadre e, numa das praças da vila, há feijoada e caldo de farinha para os visitantes, tudo cozinhado em panelas de três pernas em ferro fundido.


O fim da festa

Em muitos locais, para finalizar os festejos carnavalescos e iniciar a Quaresma, celebra-se também o Enterro do Entrudo que, em algumas terras, assume nomes diferentes como o Enterro do João, a Queima do Entrudo, Queima do Galo, etc. Estas manifestações, normalmente, ocorrem na quarta-feira de cinzas e são uma espécie de cortejo fúnebre (em alguns casos com direito a urna e carpideiras) onde há a leitura de um testamento e a queima do “defunto”.

Em Melgaço, existe a Queima do Entrudo com figuras de saia vermelha, camisa e lenços amarelos, bordados de cores garridas, e um chapéu de cartão enfeitado com fitas e com um tecido a esconder a cara.

Em Vinhais, a quarta-feira de cinzas é o Dia dos Diabos, com figuras da morte e diversos diabos a percorrerem as ruas da vila atrás de almas pecadoras. Diabos e a tenebrosa morte saem à rua castigando foliões e perseguindo sobretudo as raparigas solteiras a quem não dão descanso.


A Queima do Entrudo em Podence
A Queima do Entrudo em Podence

Já em Vale de Ílhavo, há a Cardação das Raparigas. Os cardadores são homens mascarados que saltam e gritam e que vão pelas ruas em busca de raparigas para fazerem a Cardação das Raparigas. As suas máscaras podem ser elaboradas com pele de carneiro ou asas e penas de galinha.

Na Guarda, fazem o Julgamento e a Morte do Galo do Entrudo. Colocado no centro da praça, um enorme galo que representa a crise, a corrupção e todos os males que ocorreram ao longo do ano é julgado e queimado em praça pública para, assim, trazer esperança para os próximos tempos. No final do julgamento, o enorme galo é queimado e é cozinhada uma canja de galo para servir por todos.

Estes são só alguns dos muitos aspectos e formas de festejar o Carnaval mais tradicional e típico das diferentes regiões do país. Tradições ancestrais que importam manter e preservar.



Foto do escritorJoão Pais

PR4 de Tábua - Trilho dos Gaios

Há lugares que nos encantam pela sua beleza e outros que são encantados. É o que acontece com este Trilho dos Gaios que atravessa vale do rio de Cavalos no seu trajecto junto à aldeia de Vale de Gaios, no concelho de Tábua. É um lugar encantado.


Recentemente desloquei-me ao distrito de Coimbra e “dei um salto” até à vila de Tábua para fazer um trilho que já estava na minha lista há algum tempo: o trilho dos Gaios.

O Trilho dos Gaios é conhecido pelos seus renovados passadiços coloridos, mas importa também divulgar a beleza da zona de lazer de Vale de Gaios e o belíssimo “vale encantado” do rio de Cavalos. Estamos perante um vale de grande beleza natural, com muitas árvores, num ambiente calmo, marcado pela cadência do som da água, e cuja intervenção humana (para além de algumas construções e de vestígios de velhas azenhas cobertas por musgos e heras) limita-se a estes passadiços.


Passadiços de Vale de Gaios
Passadiços de Vale de Gaios

Estes passadiços fazem parte do PR4 de Tábua, um percurso linear com 17,3 quilómetros que liga a vila de Tábua e a bonita localidade de Vila Nova de Oliveirinha. Percorrer a totalidade deste trilho é fisicamente exigente, quer pela sua distância, quer pelo desnível acumulado. No entanto, a parte mais bela deste percurso, os Passadiços do Trilho dos Gaios, têm apenas três quilómetros de extensão, sem qualquer tipo de dificuldade e de fácil acesso por carro. Apesar do trilho apresentar alguns pontos de interesse ao longo do seu trajecto, de facto, este pequeno troço beneficia de todo um vale luxuriante de grande beleza natural, que nos transporta para um “mundo mágico”. Agora, mais colorido com os “novos” passadiços que vão ganhando cores ao longo do trajecto – coisa para agradar a uns e desagradar a outros.

Este PR4 tem início no centro da vila, junto à Capela do Senhor dos Milagres (século XVIII) e da igreja matriz de Tábua (construída no séc. XIX, substituindo um outro templo anterior).

Este trilho, no seu percurso inicial, que achei pouco interessante (não aprecio muito caminhar em estrada, nem dentro de localidades, prefiro o contacto com a Natureza), atravessa as ruas da vila de Tábua em direcção à pequena capela de Seixos Alvos e, depois, por caminhos florestais até Vale de Gaios.


Este Trilho dos Gaios atravessa um vale luxuriante que nos transporta para um “mundo mágico”
Este Trilho dos Gaios atravessa um vale luxuriante que nos transporta para um “mundo mágico”

Vale de Gaios é uma pequena localidade muito antiga. As suas origens remontam à Idade Média e aparece referenciada nos Registos Paroquiais da Freguesia de Midões, nos séculos XVI e XVII, como grande polo molinológico e com especial destaque para o ofício de moleiro – a moagem teve uma importância vital no desenvolvimento económico da região ao longo dos tempos.

É na pequena povoação de Vale de Gaios que vamos encontrar uma bonita zona de lazer, que nos fins de semana de Verão deve fazer as delicias das gentes da região. A pequena povoação brinda-nos com uma zona de piqueniques e uma praia fluvial que aproveita um dique do rio de Cavalos, formando aqui um belo espelho de água.

É aqui que têm início os coloridos passadiços que, durante cerca de três quilómetros, seguem o deslumbrante vale do rio de Cavalos. Este “vale encantado”, de grande beleza, que esconde algumas maravilhas.


Os passadiços foram construídos para ajudar superar as dificuldades do terreno e acompanhar o leito do rio
Os passadiços foram construídos para ajudar superar as dificuldades do terreno e acompanhar o leito do rio

O rio de Cavalos nasce no concelho de Oliveira do Hospital e desagua no Mondego, atravessando o concelho de Tábua. O vale do rio de Cavalos leva-nos a atravessar uma floresta magnífica, repleta de belos recantos e de sombras refrescantes para os dias quentes de Verão. Um espaço deslumbrante que apela aos nossos sentidos numa exaltação de cores, aromas e de sons: para além do colorido dos passadiços, há os diferentes tons de verde das folhas, dos musgos, das ervas; o aroma das plantas, o cheiro da terra; o cantar alegre dos pássaros e o som da água do rio a correr. Tudo sob raios de luz fantásticos que, aqui e acolá, conseguem romper as cerradas copas das árvores.

Ao acompanhar as águas cristalinas do rio de Cavalos, vamos encontrar algumas antigas azenhas, pequenas quedas de água e grandes penedos de granito. Foi para contornar a dificuldade de ultrapassar estes grandes blocos de pedra que foram construídos estes passadiços que serpenteiam por entre as grandes rochas. Por isso, não conte com grandes extensões de passadiço, mas antes uma sucessão de pequenos trechos de madeira que ajudam a superar as dificuldades do terreno e a contornar este enormes blocos de pedra junto ao leito do rio de Cavalos.


Neste Trilho dos Gaios os passadiços serpenteiam por entre as grandes rochas
Neste Trilho dos Gaios os passadiços serpenteiam por entre as grandes rochas

Rio de águas incrivelmente transparentes, bastante sinuoso e com a particularidade de se “tornar invisível”, desaparecendo por baixo das rochas durante cerca de 300 metros. Efectivamente, existe uma parte do percurso em que a água do rio continua a ouvir-se, mas deixamos de a ver, porque o rio atravessa umas grandes galerias formadas pelas enormes rochas.

Esta parte do percurso do PR4 de Tábua, emerso nesta fabulosa floresta, leva-nos até à Ponte Romana de Sumes, uma ponte de um único arco, construída em granito e que, muito provavelmente, fazia parte da via que ligava Bobadela (Oliveira do Hospital) a Póvoa de Midões e esta a Viseu.


O Trilho dos Gaios leva-nos a conhecer o rio “invisível”
O Trilho dos Gaios leva-nos a conhecer o rio “invisível”

Esta parte do trilho, entre Vale de Gaios e a Ponte Romana de Sumes não oferece dificuldades de maior, é de enorme beleza, apresenta bastante sombra, e tem grande interesse quer paisagístico, quer biológico. Para quem não apreciar grandes caminhadas, recomendo que faça apenas este pequeno e muito agradável percurso (são cerca de três quilómetros para cada lado), que é de fácil acesso por carro, ficando a cerca de dez minutos do centro de Tábua.


Este Trilho dos Gaios, para além da beleza do vale do rio de Cavalos, permite-nos atravessar alguns caminhos rurais
Este Trilho dos Gaios, para além da beleza do vale do rio de Cavalos, permite-nos atravessar alguns caminhos rurais

Se até aqui este PR4 não apresentou grande dificuldade em termos de terreno, depois da Ponte Romana de Sumes o trilho exige algum fôlego e preparação física nas pernas, pois vamos subir dos 250 metros de altitude para os 370 em cerca de dois quilómetros.

Depois da Ponte de Sumes o trilho segue por caminhos florestais. Vamos passar pela Bica de Águas Sulfurosas, de onde brota uma água quente de cor esbranquiçada. Antigamente, a água brotava através da fractura de grandes blocos de granito. No século passado, a fractura foi arranjada e cimentada e nela colocada uma bica. Actualmente, a água corre para uma pequena pia e daqui para o rio. Esta Bica aparece referenciada em diferentes locais como sendo a sua água estando indicada para problemas de pele e de articulações.

A Bica de Águas Sulfurosas é muito antiga e conta-se que vinha gente de todo o lado aqui buscar água para, depois, lavar-se com ela. As pessoas mais idosas da aldeia de São Geraldo (ali ao lado) contam que, no início do século XX, vinham senhoras das cidades que aqui se instalavam para tratarem as suas maleitas da pele. As mulheres da aldeia carregavam a água à cabeça para encher as banheiras onde as senhoras depois tomavam banho.


Ponte de São Geraldo, de provável origem romana
Ponte de São Geraldo, de provável origem romana

O trilho continua por caminhos florestais e depois de contornar uma antiga construção viramos à direita para atravessar a Ponte de São Geraldo, também ela de provável origem romana e reconstruida na Idade Média. É aqui que começa a tormenta para as nossas pernas. Vamos começar a subir. Um pouco mas à frente, vamos cruzar a estrada (CM1304) para atravessar a pequena aldeia de São Geraldo. Passadas as poucas casas da aldeia, e sempre a subir, vamos agora em direcção à Pedra do Rei, um miradouro com uma ampla vista para o imenso vale.


Recanto na aldeia de São Geraldo
Recanto na aldeia de São Geraldo

A Pedra do Rei é um enorme afloramento rochoso que serve de miradouro natural. Um miradouro com uma vista fantástica para o vale onde podemos avistar a freguesia de Midões com a serra do Caramulo em pano de fundo. Aproveite as vistas enquanto descansa.

Depois de um merecido descanso e de um pequeno lanche para recarregar energias, era preciso continuar. Agora vamos descer até atingirmos novamente o rio de Cavalos, onde atravessamos uma pequena ponte de madeira para o lugar da Ribeira. Vamos percorrer algumas ruas e alguns caminhos rurais do lugar, até atravessarmos de novo o rio para iniciar a derradeira subida até Vila Nova da Oliveirinha. São cerca de 3,5 quilómetros, sempre a subir, por caminhos rurais e florestais até atingirmos o 414 metros de altitude junto à capela de São João.


Vista do miradouro da Pedra do Rei
Vista do miradouro da Pedra do Rei

Vila Nova de Oliveirinha é uma localidade muito antiga, figurava nas Inquirições de 1258 e tem foral datado de 1514. Foi vila e sede de concelho até 1836, passando então a pertencer a Midões e, mais tarde, a Tábua. O seu nome primitivo era Oliveirinha do Prado, passando a ostentar a designação actual a partir de 1906.

Vila Nova de Oliveirinha surpreendeu-me bastante. É uma terra muito agradável, cheia de recantos e encantos que vale a pena conhecer.

Igreja de Vila Nova de Oliveirinha
Igreja de Vila Nova de Oliveirinha

Vamos encontrar algumas casas bastante antigas ao percorrer as ruas de Vila Nova de Oliveirinha, onde se destaca a igreja paroquial com orago a São Miguel, um templo de provável construção no século XVIII. Ao nível do património religioso há ainda a capela de Nossa Senhora do Loreto, do século XVII, e a capela de São João, de finais do século XIX.

Junto à igreja vamos encontrar o coreto, em frente ao qual fica o excelente restaurante “Cork and Fork”, instalado no edifício do antigo quartel dos bombeiros voluntários e, um pouco mais acima, num pequeno jardim, o monumento que presta homenagem aos mortos da I Grande Guerra.

Depois de chegar ao final deste trilho, junto à capela de São João, pode ainda fazer mais cerca de 500 metros e visitar o Museu do Azeite, na Bobadela, já em terras de Oliveira do Hospital, cujo edifício tem a forma de um ramo de oliveira.


O PR4 de Tábua aproveita (bem) o vale do rio de Cavalos
O PR4 de Tábua aproveita (bem) o vale do rio de Cavalos

De referir que todo o trajecto estava devidamente limpo e bem marcado, com uma única excepção que pode induzir em erro (o leitor não se preocupe porque, se o dito caminho tiver saída, o erro não é assim tão grave como pode parecer, como eu explico já a seguir…). É em pleno caminho florestal, onde se vira à esquerda antes de iniciar a subida final para se chegar à estrada (Rua Albertino Ferreira) mesmo no início de Vila Nova de Oliveirinha. Não tem, ou não tinha, qualquer sinalização que se deveria virar à esquerda. Eu fiquei com muitas dúvidas. Passei o local, andei um pedaço, voltei para atrás para ver se me tinha escapado alguma marcação de mudança de direcção, e nada. Acho que virei ali à esquerda por intuição e por achar que o caminho estava demasiado limpo… No regresso, tive oportunidade de falar com uma família que também fazia o trilho e que também tinha andado “perdida”. Agora, analisando através do Google Maps parece-me que o erro não seria muito grave, pois o dito caminho, se tiver saída, se não estiver obstruído, poderá ser uma espécie de atalho (poupando-se cerca de 500 metros), pois vai ter à Rua Padre Luiz (junto à capela do Loreto), onde iríamos passar de qualquer maneira.

Já agora, deixo aqui um conselho de quem anda nisto há muitos anos (e aprendeu na pele): não tentem cortar caminho por hipotéticos atalhos, que à partida nos podem parecer mais curtos, ou mais a direito. Para além de poder ser perigoso, normalmente, não vai ter onde nós queríamos ou tem obstáculos pelo caminho. Sigam sempre o trajecto marcado, se o trilho foi marcado por ali, é porque aquele é o melhor (e talvez o único) caminho.


Depois de um passeio por Vila Nova de Oliveirinha e de uma breve pausa no restaurante para adquirir uma garrafa de água e descansar as pernas, para mim, era altura de regressar ao ponto de partida. O trajecto de regresso seria mais fácil e mais rápido, pois a maior parte do percurso era agora a descer até Tábua. Fica aqui a dica.


Características do trilho

PR3 TBU – Trilho dos Gaios

Trilho linear de aproximadamente 17 300 metros.

Ponto de partida/chegada: Tábua ou Vila Nova de Oliveirinha

Pontos de interesse: Igreja matriz de Tábua, Capela do Senhor dos Milagres, Zona de Lazer de Vale de Gaios, Passadiços de Vale de Gaios, Rio de Cavalos, Ponte Romana de Sumes, Bica das Águas Sulfurosas, Miradouro da Pedra do Rei, Igreja de Vila Nova de Oliveirinha, Capela de São João.

Duração: 4 horas (só ida)

Altitude máxima: 414 metros (em Vila Nova de Oliveirinha)

Altitude mínima: 174 metros (nos passadiços de Vale de Gaios)

Grau de dificuldade: Moderado (3 numa escala 1-5)


O trilho não sendo muito técnico, exige alguma preparação física devido à sua distância. Tem algumas subidas e descidas acentuadas. No sentido Tábua - Vila Nova de Oliveirinha é quase sempre a subir. No sentido contrário, é quase sempre a descer, tendo apenas duas subidas “mais puxadinhas”. O trilho tem uma parte de grande beleza e com bastante sombra, junto ao rio de Cavalos, na zona dos passadiços do Vale de Gaios, sendo o restante algo exposto ao sol. Se estiver calor é aconselhável que leve bastante água e o uso de chapéu e protector solar (para aplicar várias vezes durante a caminhada).

Este trilho pode fazer-se todo o ano, embora eu desaconselhe períodos de chuva, por se poder tornar escorregadio e por causa do nível das águas.

Se for de Verão, ou estiver tempo quente, leve lanche e o fato de banho e disponha de algum tempo para desfrutar da zona de lazer de Vale de Gaios e para contemplar a beleza desta “floresta encantada”.


Recomendações

Tenha sempre em atenção a sua forma física. Tente informar-se com antecedência do estado do terreno e estude o trilho. Confirme o estado do tempo para o local para onde vai. Não se esqueça que na serra o tempo pode mudar de repente. Use roupas e calçado adequado para este tipo de actividade (e de acordo com a estação do ano). Caminhe sempre nos trilhos marcados, não só por causa do meio ambiente, mas também para sua protecção. Respeite a Natureza e os animais, eles estão no seu habitat, nós é que somos o intruso. Em dias de sol quente, use chapéu e protector solar e leve água consigo. Principalmente de Inverno, tome atenção às horas para não ter que caminhar no escuro (leve sempre uma lanterna). Sempre que possível, não vá sozinho, avise sempre um familiar ou um amigo para onde vai. Não deixe lixo e, se vir algum, tente levá-lo consigo sempre que possível. Não acampe sem ser em locais próprios. Não faça barulho, respeite a natureza, relaxe e desfrute, vai ver que não há melhor actividade física.


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