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Planalto da serra da Freita
Planalto da serra da Freita

Este PR15 é mais um dos muitos percursos existentes na serra da Freita e na área do Arouca Geopark. Este trilho leva-nos a percorrer o planalto da Freita, conhecer algumas das suas localidades, alguns dos geossítios do Arouca Geopark e ainda encontrar testemunhos da Pré-história e outras referências mais recentes. Um trilho muito agradável e cheio de história.



As bonitas paisagens do planalto da serra da Freita não passam despercebidas e deixam qualquer um encantado com a sua beleza. Aqui, perante a grande imensidão do planalto, conseguimos encontrar recantos maravilhosos e “monumentos” geológicos únicos e cheios de história. A história do nosso planeta (bem, pelo menos um bocadinho dela…).

Há cerca de 350 milhões de anos, os continentes de então começaram a juntar-se para formarem o super-continente Pangeia. Do impacto entre os blocos continentais resultou a formação de uma enorme cadeia montanhosa: as Montanhas Variscas. Os diversos afloramentos rochosos que podemos observar no planalto da serra da Freita são formados a uma profundidade de 7.000 metros e provêm do desmantelamento das antigas Montanhas Variscas, o que vem ocorrendo há 250 milhões de anos.

O planalto da serra da Freita é uma vasta superfície aplanada situada a cerca de 1.000 metros de altitude. Estas terras já foram, há muitos milhares de anos, um extenso leito marinho e o planalto da Freita é o resultado da erosão sofrida principalmente durante o último ciclo glaciário.

No planalto da Freita cruzamos afloramentos rochosos com 250 milhões de anos
No planalto da Freita cruzamos afloramentos rochosos com 250 milhões de anos

Este percurso de Arouca é um trilho circular que percorre o planalto da serra da Freita, com partida e chegada na aldeia de Merujal. Apesar da sua distância (cerca de 17 quilómetros), considero um trilho acessível a quem tiver alguma prática de caminhada (só tem uma subida “mais dolorosa”), e que é perfeitamente realizável numa manhã ou numa tarde (cuidado com o calor, já que o percurso é muito exposto).

Este PR15 de Arouca leva-nos a conhecer algumas das maravilhas da Freita: vamos conhecer alguns dos geossítios do Arouca Geopark, como a Casa das Pedras Parideiras, a Frecha da Mizarela ou as Pedras das Boroas do Junqueiro; vamos passar por localidades como Merujal, Albergaria da Serra, Castanheira, Cabaços e Mizarela; e ainda encontrar testemunhos de que esta região é povoada desde a Pré-história, como são o caso de alguns monumentos funerários e outras referências mais recentes (século XVII).

Ao longo do trilho poderá encontrar gado de raça arouquesa
Ao longo do trilho poderá encontrar gado de raça arouquesa

Ao longo do trilho (e nas estradas que percorrem a serra) é natural encontrar algum gado – essencialmente cabras e vacas da raça arouquesa (animais de origem protegida). São animais criados em liberdade pelas encostas da serra, alimentados à base de vegetação natural (o que confere à sua carne, extremamente tenra, uma sabor delicioso). Vai encontrar também alguns cães de gado (cães que guardam os rebanhos) que, normalmente, não fazem mal, mas que não gostam que nos aproximemos dos seus rebanhos. Convém estar atento e manter uma distância considerável dos rebanhos, não correr, nem fazer movimentos bruscos. Muitas vezes me perguntam se eu não encontro bichos (cobras, lobos, raposas, javalis…) durante as minhas caminhadas pelas serras e montes deste país. Sim, já encontrei estes todos e mais alguns… Aquilo que eu respondo sempre, é que este tipo de animais, normalmente, foge de nós muito antes de nos apercebermos que eles lá estavam. Os que me têm causado mais problemas são. Nas pequenas aldeias, os cães que estão soltos e saem a correr portão fora, de dentes feitos às nossas pernas. Já apanhei alguns sustos…


A beleza da paisagem do planalto da Freita
A beleza da paisagem do planalto da Freita

Este trilho circular leva-nos a conhecer algumas das belezas da Freita, as suas belas paisagens serranas e a ter contacto com as suas gentes. Sempre que possível, faço por conversar com as gentes locais – eles têm sempre histórias e saberes para nos contar.

Sendo circular, este trilho pode ser iniciado em qualquer ponto do seu percurso, no entanto, recomendo que o faça na aldeia de Merujal ou, em alternativa, um pouco mais acima, junto ao parque de campismo. Outras opções a ter em conta, será começar na praia fluvial de Albergaria da Serra (onde poderá tomar um banho no final) ou na aldeia de Castanheira, junto às Pedras Parideiras (assim, faz a maior subida do percurso logo no início do trilho).

O PR15 tem início e fim na pequena aldeia de Merujal. Esta é uma aldeia rústica que mantém algumas das suas características arquitectónicas originais. Ali ao lado, junto à M511, fica a capela de Nossa Senhora da Laje, um templo do século XVII com retábulo do altar-mor em talha dourada e branca e tecto em caixotões de madeira.

Da aldeia de Merujal, o percurso deste PR15 leva-nos até o parque de campismo e ao parque de merendas, para depois da curva da estrada, tomarmos um caminho à direita, que nos há-de levar até Albergaria da Serra, sempre “vigiados” pelo miradouro do vértice Geodésico de São Pedro Velho (1077 metros de altitude).


O rio Caima em Albergaria da Serra
O rio Caima em Albergaria da Serra

Aqui, depois de percorrer algumas das ruas da aldeia, cumprimentar as pessoas mais idosas que encontramos sentadas em bancos e nas soleiras das portas, vamos atravessar a ponte sobre o rio Caima. Logo a seguir passamos pela igreja de Nossa Senhora da Assunção (do século XVIII) e pelo cemitério da aldeia. Foi aqui que encontrei o Sr. Manuel (76 anos), um habitante local, que me contou a sua história e as origens da aldeia.


Igreja de Nossa Senhora da Assunção
Igreja de Nossa Senhora da Assunção

O Sr. Manuel explicou-me a origem da aldeia e o seu topónimo. Ao que parece, por aqui passava um via romana que ligava Viseu ao Porto. Mais tarde, terá aqui existido uma albergaria que servia de ponto de descanso. Virá daí o nome da localidade. Dessa albergaria apenas resta uma placa que agora se encontra no muro do cemitério. Por isso, por aqui conta-se que os muros do cemitério são as antigas paredes da albergaria, à qual tiraram o telhado e que a porta do cemitério era a porta da albergaria.

O Sr. Manuel, que fazia horas para ir assistir à missa, ainda me ajudou a ler e explicou a placa no muro do cemitério, bem como uma outra inscrição existente no cruzeiro. Foi um momento bem agradável e muito interessante que ficará marcado na minha memória.


O senhor Manuel decifrou-me a placa existente no muro doo cemitério e que pertenceu à antiga albergaria
O senhor Manuel decifrou-me a placa existente no muro do cemitério e que pertenceu à antiga albergaria

Depois deste intervalo que serviu para recompor as pernas, há que continuar e seguir para o planalto da Freita. Vamos seguir por um caminho à esquerda que acompanha o rio Caima, que aqui corre encaixado no seu leito estreito e sinuoso e onde podemos observar algumas azenhas. Vamos atravessar pequenas pontes que cruzam o Caima e seguir caminho até à estrada. Neste percurso, até à estrada poderemos encontrar algumas vacas a pastar. São inofensivas, mas convém manter uma distância de segurança.

Chegados à estrada, se fizer um pequeno desvio à esquerda, estrada acima, poderá ver a poucos metros de distância uma mini-barragem. Voltando ao ponto em que atravessamos a estrada, chegamos às Pedras Boroas do Junqueiro.


As Pedras Boroas do Junqueiro e a semelhança com a côdea da boroa de milho
As Pedras Boroas do Junqueiro e a semelhança com a côdea da boroa de milho

As Pedras Boroas do Junqueiro, são dois enormes blocos graníticos que foram assim designados devido à sua semelhança com a côdea das boroas de milho. Estas esculturas na pedra são criadas por acção da água e do vento que, juntamente com as mudanças de temperatura e a química dos elementos vão dando origem a estas maravilhas da natureza.

Depois de admirar as Pedras Boroas é preciso continuar, cerca de dois quilómetros, por um caminho (onde também poderá encontrar vacas de raça arouquesa) até se chegar a um largo estradão de terra batida. Chegamos ao Vidoeiro. Aqui há que seguir o estradão pela direita. Vamos fazer alguns quilómetros (perto de quatro) neste estradão e há que estar atento, pois, mais à frente, vamos virar à direita por um caminho mais estreito que nos há-de levar ao Dólmen da Portela da Anta.

Monumento megalítico da Portela da Anta
Monumento megalítico da Portela da Anta

Aqui, em pleno planalto da serra da Freita vamos encontrar uma sepultura megalítica datada de finais do IV milénio antes de Cristo. Este monumento já aparece referenciado num documento medieval do século XIII. Este tipo de monumentos servia para assinalar o local da sepultura colectiva das comunidades pastoris, neste caso, as que habitavam a serra da Freita. Não deixa de ser curiosa esta dicotomia entre a vida e a morte neste planalto onde a natureza se renova e a vida brota constantemente.

Aqui, junto ao Dólmen da Portela da Anta, vamos seguir por um caminho à esquerda (devidamente assinalado). Vamos descer, atravessar um pequeno ribeiro e, depois, subir uma elevação (1044 metros de altitude), um grande maciço rochoso, constituído por um grande amontoado de pedras de granito. É o geossítio das Pias de Serlei. Aqui podemos encontrar diversas pias cavadas na rocha por acção do tempo, dos factores climatéricos e pela água. Estas curiosas pias, que podem ter entre 30 centímetros e um metro de diâmetro, funcionam como bebedouros naturais para a vida selvagem.


Geossítio das Pias de Serlei
Geossítio das Pias de Serlei

Apesar de todo o trilho estar bem sinalizado, ao atravessar as Pias de Serlei vai encontrar alguma dificuldade em localizar a habitual sinalização que aqui passa despercebida no meio de tanta rocha. Apure o olhar e esteja atento às mariolas colocadas nos pontos mais altos que nos ajudam a identificar o caminho. Não tem como se enganar. Por isso, é tão importante respeitar as mariolas quando as encontramos e não as destruir nem construir novas só pelo nosso belo prazer.

As mariolas não são apenas pedras empilhadas umas sobre as outras, não são construções decorativas, elas estão lá porque fazem sentido, estão a marcar caminhos. As mariolas são pontos de orientação que ajudam pastores e caminhantes a orientar-se e a localizarem o caminho, principalmente com condições atmosféricas adversas. Podem ter apenas duas ou três pedras ou chegar a ter vários metros de altura. Estão colocadas em pontos altos, acima da vegetação, de forma a que de um se aviste o próximo. Aproveite a chegada ao ponto mais alto, e admire a magnífica panorâmica sobre o planalto da Freita.

Descendo do amontoado granítico, vamos chegar à casa abrigo e ao entroncamento das estradas que fazem ligação a Arouca (M621), Vale de Cambra (M621) ou a Manhouce e São Pedro do Sul (M612). Atravessamos a estrada e vamos encontrar as Mamoas de Monte Calvo, sepulturas do II milénio antes de Cristo.


Radar Meteorológico de Arouca
Radar Meteorológico de Arouca

Desvie o olhar lá para o alto, para o Radar Meteorológico de Arouca instalado no Pico do Gralheiro, a cerca de 1100 metros de altitude. O Radar, uma torre circular com 50 metros de altura, é o terceiro e o mais moderno radar do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA). No décimo piso, existe um miradouro panorâmico, uma estrutura circular envidraçada, com uma perspetiva de 360 graus, onde, em dias de céu limpo, se pode observar para além de todo o planalto da serra da Freita, uma importante área do território nacional, com destaque para as serras da Arada, Caramulo, Estrela e Montemuro, o vale do Vouga, toda a área que vai da Figueira da Foz até ao Porto, as cidades de Aveiro, Vila Nova de Gaia e do Porto e o Oceano Atlântico entre Aveiro e Porto. O Radar Meteorológico de Arouca vai estar aberto durante o mês de Agosto de quarta a domingo (ente as 14h30 e as 17h30) e é conveniente fazer marcação com antecedência para visitar.


Aldeia de Castanheira
Aldeia de Castanheira

Segue-se agora por um caminho que nos vai levar até à aldeia de Castanheira. Na minha opinião, vai começar a parte mais dura deste trilho. A descida até Castanheira é feita por um caminho algo sinuoso com muita pedra solta onde é necessária atenção redobrada. Descemos até Castanheira onde podemos visitar o afloramento rochoso onde “nascem” pedras. É o geossítio das Pedras Parideiras. Este é um dos sítios mais emblemáticos do Arouca Geopark e um fenómeno geológico único no Mundo. Aqui existe um grande bloco granitico, com cerca de 320 milhões de anos, onde as Pedras Parideiras (granito) contêm nódulos mais escuros compostos por diversos minerais. Devido à erosão, esses nódulos mais escuros acabam por se soltar, deixando pequenas cavidades na pedra mãe. Para compreender melhor este fenómeno geológico deve visitar a Casa das Pedras Parideiras – Centro de Interpretação, onde pode assistir a um pequeno filme 3D.

Geossítio das Pedras Parideiras, um dos sítios mais emblemáticos do Arouca Geopark e um fenómeno único
Geossítio das Pedras Parideiras, um dos sítios mais emblemáticos do Arouca Geopark e um fenómeno único

Aproveitei alguma sombra junto ao Centro Interpretativo, juntamente com um grupo de alemães já com alguma idade que já ali se encontrava, para recarregar energias e fazer uma pequena pausa (porque já sabia que se seguia uma subida desafiadora…)

Depois de um breve descanso, atravessamos a aldeia de Castanheira em direcção ao ribeiro de Castanheira, através de uma zona rural, onde é preciso abrir um portão (que convém voltar a deixar fechado). Depois de atravessar o ribeiro chegamos à pior subida deste PR15. São algumas centenas de metros com bastante inclinação, e com algumas pedras, que é preciso ultrapassar para avistarmos a localidade de Cabaços. Esta subida torna-se um bocadinho violenta, quer pela inclinação do terreno, quer pelo cansaço acumulado nas pernas que já vêm com mais de 13 quilómetros. Foi aqui que o grupo alemão, que me acompanhou na travessia da aldeia, ficou para trás...

Chegados ao alto, há que recuperar o folêgo e admirar a paisagem. Com tempo limpo – e felizmente estava –, daqui conseguimos avistar a vasta planície costeira e, lá ao longe, a ria de Aveiro e o mar.


Cabaços, no planalto da serra da Freita
Cabaços, no planalto da serra da Freita

Depois o caminho segue pela direita, contornando alguns terrenos agrícolas e leva-nos até ao lugar de Cabaços nas imediações da M621. Aqui encontrei um rebanho de cabras com largas dezenas de cabeças e tive que ficar por ali um bom bocado, pois os cães que acompanhavam o rebanho vieram no meu encalço. Fingi que ia noutra direcção e atrasei ligeiramente a minha marcha. Os bichos, sempre de olho em mim, seguiram o seu caminho e o seu trabalho guiando o rebanho.

Atravessamos o lugar de cabaços, com poucas casas e onde é bem visível que é uma localidade que mantém o seu rebanho comunitário e onde se mantêm as tradições.


Praia fluvial de Albergaria da Serra no rio Caima
Praia fluvial de Albergaria da Serra no rio Caima

Depois de Cabaços, o percurso deste trilho leva-nos até à praia fluvial de Albergaria da Serra onde, se estiver calor, pode aproveitar para refrescar o corpo com um belo mergulho nas águas do rio Caima. Depois de atravessar a ponte, segue-se pela esquerda e por um caminho estreito e sinuoso que nos vai levar atá à Mizarela. Aqui, voltei a encontrar outro rebanho… Aproveitei uma sombra e fiquei a admirar o trabalho do pastor e dos cães a guiar mais umas boas dezenas de cabras.


Frecha da Mizarela, a maior queda de água de Portugal continental
Frecha da Mizarela, a maior queda de água de Portugal continental

Depois de atravessar a aldeia da Mizarela, há que fazer um novo desvio para uma breve paragem no Miradouro da Frecha da Mizarela. A Frecha da Mizarela é uma queda de água localizada junto à aldeia com o mesmo nome. Aqui o rio Caima despenha-se a mais de 75 metros de altura. Esta é a mais alta cascata de Portugal continental e uma das mais altas da Europa. Este miradouro proporciona uma magnífica panorâmica da cascata e para as íngremes encostas que a circundam, bem como para toda a exuberante paisagem envolvente onde ainda existem exemplares representativos da vegetação primitiva da serra da Freita, onde constam algumas espécies raras e protegidas.

Seguimos caminho do outro lado da estrada em direcção a Merujal. Aqui, com cuidado, tive que passar por entre o rebanho que se encontrava espalhado pela encosta da serra. Com todo o cuidado e devagar para não assustar os bichos e para não chamar a atenção dos cães, lá fui passando. Agora o caminho segue por um trilho florestal até à estrada que é necessário atravessar para regressarmos à aldeia de Merujal.


Este PR15 de Arouca leva-nos numa viagem pelo tempo
Este PR15 de Arouca leva-nos numa viagem pelo tempo

Este PR15 de Arouca – Viagem à Pré-história, é um trilho bastante interessante que nos faz conectar com a Natureza e com a história. Este trilho, para além de nos mostrar alguns dos geossítios do Arouca Geopark, leva-nos ainda a conhecer alguns pontos históricos e de interesse, conhecer as realidades rurais destas pequenas aldeias que sentem o despovoamento e observar algumas das melhores paisagens do planalto da serra da Freita. Na minha opinião, este é um dos trilhos a não perder na serra da Freita.


Recomendações

Tenha sempre em atenção a sua forma física. Tente informar-se com antecedência do estado do terreno e estude o trilho. Confirme o estado do tempo para o local para onde vai. Não se esqueça que na serra o tempo pode mudar de repente. Use roupas e calçado adequado para este tipo de actividade (e de acordo com a estação do ano). Caminhe sempre nos trilhos marcados, não só por causa do meio ambiente, mas também para sua protecção. Respeite os animais, eles estão no habitat deles, nós é que somos o intruso. Respeite e mantenha uma margem de segurança dos rebanhos e dos cães de gado. Em dias de sol quente, use chapéu e protector solar e leve água consigo. Principalmente de Inverno, tome atenção às horas para não ter que caminhar no escuro (leve sempre uma lanterna). Sempre que possível, não vá sozinho, avise sempre um familiar ou um amigo para onde vai. Não deixe lixo e, se vir algum, tente levá-lo consigo sempre que possível. Não acampe sem ser em locais próprios. Não faça barulho, respeite a natureza, relaxe e desfrute, vai ver que não há melhor actividade física.


Foto do escritorJoão Pais

Fraga da Pena
Fraga da Pena

Alguns dos melhores destinos estão “perdidos” nas montanhas do interior do país. É lá que estão (bem) guardados os maiores segredos. Hoje, trago um desses segredos bem preservado em plena serra do Açor. Um pequeno tesouro que esconde uma das mais belas cascatas de Portugal.

Um cenário idílico em plena zona protegida, onde a vegetação, os sons e os aromas da montanha nos envolvem e nos fazem sentir mais leves e em profunda harmonia com a Natureza. Vamos conhecer um pequeno paraíso no concelho de Arganil.


A Fraga da Pena tem uma envolvente natural de grande beleza
A Fraga da Pena tem uma envolvente natural de grande beleza

Inserida nona zona com muitos atractivos que justificam uma visita demorada, a Fraga da Pena é, por si só, um excelente chamariz a esta magnífica região. Localizada bem no centro de Portugal continental, na Região de Coimbra (NUTS III), na província da Beira Litoral, a Fraga da Pena dista poucos quilómetros da bonita aldeia de Benfeita.

A Fraga da Pena está inserida na Área Protegida da Serra do Açor, em plena Mata da Margaraça – uma importante reserva biogenética, considerada como o último reduto de vegetação original do centro do país. Este é um local de rara beleza, frescura e de grande biodiversidade. Um local privilegiado para o contacto com a Natureza.

Zona de piqueniques na Fraga da Pena
Zona de piqueniques na Fraga da Pena

Grande parte das Cascatas de Portugal encontram-se em local de difícil acesso ou que implicam alguma caminhada (por vezes longa). A Cascata da Fraga da Pena fica a poucos metros da estrada (EM518). São cerca de 200 metros a distância que nos separa da pequena zona de estacionamento até à Cascata. É uma pequena caminhada de cinco minutos por um empedrado em xisto (que molhado pode tornar-se bastante escorregadio), onde para além da Cascata da Fraga da Pena vai encontrar mesas para um piquenique e alguns velhos moinhos, numa envolvente natural e cénica de grande beleza e frescura com castanheiros, carvalhos e medronheiros. Este é um local idílico onde se encontra uma das mais espectaculares cascatas de Portugal.


Cascata da Fraga da Pena
Cascata da Fraga da Pena

A Cascata da Fraga da Pena tem cerca de 20 metros de altura, uma maravilha natural e (ainda) intocável pelo Homem. Aqui impera uma enorme serenidade e paz. Um local propício para o relaxamento e meditação. Aqui, o silêncio só é interrompido pelo alegre chilrear dos pássaros e pelo som da água. Um paraíso!

A Cascata, com cerca de 20 metros de altura, forma uma pequena lagoa com água límpida e cristalina onde é possível possível tomar um banho refrescante (a água é bastante fria já que o local é muito abrigado do sol).

A água da Cascata provém da Barroca das Degraínhas que desce serra abaixo e, aqui, encontra um acidente geológico originando um conjunto de sucessivas quedas de água.


O acesso a este paraíso faz-se pelo lado esquerdo da Cascata maior
O acesso a este paraíso faz-se pelo lado esquerdo da Cascata maior

Mas não se deixe ficar pela principal (e maior) Cascata. Do lado esquerdo da Cascata, depois de atravessar a pequena ponte de madeira, há uma escadaria (bastante íngreme) que nos leva a um pequeno trilho. Seguindo esse trilho (sempre pela direita) vai encontrar mais umas piscinas naturais e pequenas cascatas onde também pode tomar banho. Eu, particularmente, gostei bastante mais da envolvente natural desta Cascata mais pequena do que da queda de água inicial e maior.


A Fraga da Pena é um local de rara beleza
A Fraga da Pena é um local de rara beleza

Pode aproveitar para fazer o belo trilho circular (cerca de 2,5 quilómetros) desde a Fraga da Pena até à aldeia de Pardieiros (a única localidade dentro da Área Protegida da Serra do Açor), onde pode apreciar todo o esplendor da Natureza e a beleza da Mata da Margaraça. Parte deste trilho coincide com o percurso do PR1 de Arganil - Caminho do Xisto da aldeia de Benfeita (outro local a não perder!), um trilho circular com pouco mais de dez quilómetros.


Coordenadas GPS:

N 40º13.2129’ W 7º56.16432’

40.220215 -7.936072


A "outra" queda de água da Fraga da Pena
A "outra" queda de água da Fraga da Pena
Foto do escritorJoão Pais
Passadiços de Vizela

Depois de tanto ter ouvido falar dos Passadiços de Vizela nos últimos meses, Linha de Terra tinha que ir conhecer esta nova atracção turística do Minho. Assim, meti pés ao caminho e tive uma bela surpresa...


Os Passadiços percorrem parte da margem do rio Vizela
Os Passadiços percorrem parte da margem do rio Vizela

Estes Passadiços, inaugurados em Março, fazem parte dum amplo programa ambiental da recuperação do rio Vizela. O programa englobou a despoluição do rio, a limpeza e o aproveitamento das suas margens que foi levado a cabo pela autarquia de Vizela, numa clara aposta na preservação do meio ambiente e no turismo de Natureza.

Estes Passadiços acompanham o curso do rio Vizela e, posteriormente, a ribeira de Sá. O seu percurso leva-nos a atravessar zonas urbanas, rurais e florestais e tem uma extensão de 5,5 quilómetros num trajecto linear entre a cidade de Vizela e uma fantástica cascata, já na freguesia de Santa Eulália.


Passadiços de Vizela, uma aposta da autarquia no turismo de Natureza
Passadiços de Vizela, uma aposta da autarquia no turismo de Natureza

Ao longo da caminhada a paisagem vai mudando, (quase) sempre agradável e com o constante som da água a acompanhar-nos até ao final onde encontramos uma bela queda de água. De referir que ao longo dos Passadiços, que têm iluminação led, foram criadas algumas zonas de sombra, várias áreas de descanso e existem casas de banho (uns paralelepípedos espelhados). Só resta saber se haveria mesmo necessidade da construção de uns passadiços.


Ponte Velha de Vizela
Ponte Velha de Vizela

Os Passadiços de Vizela têm início na margem direita do rio, junto à Ponte Velha, também conhecida popularmente por Ponte Romana. Na realidade, a actual ponte é uma reconstrução medieval que ainda conserva alguns elementos da ponte primitiva, essa sim, seria do período romano. Por aqui passava uma via romana que ligava Braga a Amarante e que passava por Guimarães.

Os Passadiços seguem por detrás do complexo termal - estas águas são conhecidas pelas suas qualidades terapêuticas desde o tempo dos romanos, tendo as primeiras instalações surgido no século XVIII -, passam por baixo da ponte D. Luís I, para desembocar no magnífico Parque das Termas. Depois de se atravessar o Parque das Termas, segue-se pela marginal ribeirinha, um agradável espaço de lazer situado na margem esquerda do rio Vizela. É no final desta marginal ribeirinha que se dá a confluência da ribeira de Sá com o rio Vizela e é aqui que retomamos os passadiços de madeira que, daqui em diante, seguem o leito da ribeira e as suas águas cristalinas. Até aqui fizemos cerca de 1300 metros.


Os Passadiços de Vizela "atravessam" a ponte D. Luís I
Os Passadiços de Vizela "atravessam" a ponte D. Luís I

Daqui para a frente iremos sempre caminhar em passadiços de madeira (com excepção para uma ou outra travessia de arruamentos). Deixámos o percurso urbano destes Passadiços para trás e vamos iniciar a sua “vertente” mais rural. Vamos atravessar terrenos de cultivo, campos e hortas, pomares e até alguns locais com gado. Vamos atravessar uma zona com alguns moinhos antigos que foram sendo construídos nas margens da ribeira e, por fim, entramos numa zona florestal onde se encontra a bonita Cascata de Rompecias, também conhecida por Cascata de Santa Eulália, ou ainda por Quedas de Água de Requeixos.


Os Passadiços de Vizela levam-nos a conhecer a Cascata de Rompecias
Os Passadiços de Vizela levam-nos a conhecer a Cascata de Rompecias

Confesso que parti à descoberta destes Passadiços de Vizela com curiosidade, mas sem grandes informações sobre o que iria ver e sem saber que terminavam numa Cascata… E era precisamente aqui que estava uma agradável e inesperada surpresa à minha espera. É no fim dos Passadiços de Vizela que se encontra a bela Cascata de Rompecias, formada por diversas quedas de água, onde o ribeiro de Sá se precipita de uma altura considerável. O local é fantástico, num enquadramento lindíssimo, digno de uma pintura. Vai querer ficar aqui um bom bocado a contemplar esta beleza cénica antes de regressar à cidade de Vizela.

A Cascata de Rompecias era, talvez, um dos segredos mais bem guardado pelos vizelenses amantes da Natureza que, agora, com os Passadiços, viram o seu segredo revelado e ao acesso facilitado de todos. Resta esperar que todos nós nos saibamos comportar, cuidar da Natureza, não deixar lixo e não saturar o local com a massificação de visitantes nesta moda infernal em que se tornou a construção de passadiços um pouco por todo o país.

Para quem não quiser fazer todo o percurso dos Passadiços de Vizela (11 quilómetros ida e volta) e queira conhecer a Cascata, pode deixar o carro cerca de 500 metros abaixo da igreja de Santa Eulália (na Rua de Vila Pouca) onde os Passadiços cruzam a estrada, e tem pouco mais de mil metros de Passadiços para percorrer até à bonita Cascata de Rompecias.

Os Passadiços de Vizela e o ribeiro de Sá
Os Passadiços de Vizela e o ribeiro de Sá

Ao longo do trajecto destes Passadiços de Vizela existem algumas zonas bastante expostas ao sol, o que poderá dificultar a progressão em dias de maior calor. Convém usar protector solar e levar bastante água já que depois que deixamos a marginal ribeirinha não existe qualquer local para adquirir ou abastecer de água (a não ser nas casas de banho).

Estes Passadiços de Vizela, permitem-nos “esticar as pernas” ao longo de quase seis quilómetros, em bonitos cenários, sempre com o agradável e melódico som da água como companhia e em harmonia com a Natureza. Percorrer os Passadiços de Vizela é, sem dúvida, um óptimo programa para um dia bem passado que terminará, inevitavelmente, no centro da cidade a provar o Bolinhol, um doce regional tradicional de Vizela. O Bolinhol é uma espécie de pão-de-ló rectangular com uma cobertura de açúcar e que foi eleito (em 2019) uma das “7 Maravilhas Doces de Portugal”.


Passadiços de Vizela
Passadiços de Vizela
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