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  • Foto do escritorJoão Pais

Vale de Poldros

Atualizado: 9 de mai. de 2021


Sigo, devagar, pela estrada estreita e sinuosa com curvas e contracurvas, umas atrás das outras. O trajecto faz-se devagar, não só pelo percurso ondulante, mas também pela magnífica paisagem que atravessamos. A beleza da enorme manta que cobre a serra com um retalhado de carqueja, urzes, giestas e tojos salpicada aqui e acolá por enormes penedos faz-nos pasmar (quase de boca aberta). A serra, altiva, essa continua a fazer-nos companhia com os seus cumes pedregosos com algumas incríveis e inexplicáveis “instalações artísticas” da mãe-natureza.

Vemos pastar manadas de vacas de raça cachena, com os seus característicos cornos compridos, que, por vezes, nos obrigam a parar o carro porque aquele é o território delas, porque lhes apetece atravessar para o outro lado, onde o pasto parece melhor ou, simplesmente, porque lhes apetece parar no meio da estrada. Menos sociáveis e mais desconfiados dos humanos são os cavalos garranos – cavalos semi-selvagens – que aqui e ali passeiam em grupos.

Aqui o tempo passa, mas passa devagar. Aqui a natureza manda!



Estamos a cerca de 1100 metros de altitude, praticamente no topo da serra da Peneda (Monção), com uma paisagem vertiginosa, onde os cavalos garranos deram o nome a este local: Vale de Poldros. O seu nome, diz-se, vem do tempo de D. Dinis porque, na altura, era aqui que se criavam e treinavam os poldros para a guerra.

Esta é mais uma pequena aldeia “perdida” no meio da serra. Considerada por alguns como uma aldeia do tempo do Asterix e, por outros, como a aldeia Hobbit portuguesa (“O Senhor dos Anéis”) mas, na realidade, esta aldeia é mais uma das muitas brandas existentes no Alto Minho.

Brandas, são pequenos povoados de montanha, na parte alta da montanha (já aqui falámos da Branda da Aveleira), que eram usados durante os meses de Verão pelos pastores (brandeiros) em busca de pastos mais verdes para o gado. Aqui eles tinham os seus pequenos abrigos: as cardenhas.



Vale de Poldros é conhecido pelas suas pequenas construções em granito e xisto, típicas e bem características desta zona. Aqui existe um número bastante significativo de cardenhas, umas bem conservadas, outras abandonadas e ainda outras que foram sendo adaptadas para casas de habitação.

As cardenhas, pequenos abrigos de granito, são construções toscas e rudimentares mas, quem sabe, diz que são monumentos de grande valor científico, etnográfico e cultural – existe, actualmente, um programa promovido pela Câmara Municipal de Monção para a preservação das cardenhas. A sua arquitectura é muito arcaica, possivelmente remonta ao século IX. No entanto, a sua construção é mais complexa do que à primeira vista possa parecer. As suas paredes são em alvenaria de pedra seca (sem argamassa), sendo os vãos das portas e janelas formados por lajes de xisto. A cobertura destas cardenhas é constituída por uma falsa cúpula, construída em fiadas de xisto sobrepostas e cobertas por terra, onde crescia vegetação que ajudava à sua impermeabilização. Podemos encontrar cardenhas com um ou dois pisos. As que apenas têm um piso destinavam-se ao abrigo do gado e as construções de dois pisos serviam de abrigo ao brandeiro no piso superior e ao gado no inferior.



Com o desaparecimento da pastorícia como meio de subsistência e o abandono das terras, Vale de Poldros tornou-se numa aldeia quase “fantasma”. Hoje, com alguns turistas mais curiosos e, apesar de apresentar algumas casas recuperadas para turismo e para casas de férias, a aldeia é habitada permanentemente por uma única pessoa – o sr. Fernando que é também o proprietário do restaurante existente na aldeia que atrai gente de todo o lado para comer o cabrito e outros pitéus.

Em Vale de Poldros celebra-se o Santo António. A 13 de Junho, por altura da festa da aldeia a este santo popular, para além de um grande arraial que traz gente de toda a região e alguns emigrantes, é tradição sortear-se a cedência de uma das casas da aldeia por um ano. Por isso já sabe, visite Vale de Poldros a 13 de Junho e pode “ganhar” uma casa de férias na serra da Peneda.



Aqui, em Vale de Poldros, rodeados por uma paisagem deslumbrante, com o ar mais puro que alguma vez respirámos, encontramos uma calma e um sossego quase absolutos e, não só por estarmos no alto da serra, certamente estamos mais perto do céu e do paraíso.


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