Hoje vou “ficar” perto de casa. Hoje vou falar um pouquinho do meu concelho ainda que por adopção. Normalmente fugimos para longe de casa e tendemos a “esquecer” o que temos ao pé da porta. Não são poucas as vezes que não sabemos fruir do que temos na nossa região. Por isso, cabe-nos também a nós divulgar a nossa terra.
Este PR1 de Gondomar é o primeiro, devidamente marcado e homologado, de uma série de percursos pedestres que o município está a preparar. Numa altura em que já existem percursos pedestres por todo o lado, Gondomar começa agora esta caminhada.
Numa altura em que (quase) todos os municípios têm há muito os seus trilhos devidamente marcados e a ser explorados por todos os entusiastas deste tipo de actividade, Gondomar, apesar das excelentes condições, “inicia-se” agora nestas andanças, pois até à data, não tinha qualquer percurso pedestre marcado e homologado. Este é o primeiro trilho, devidamente marcado, no concelho de Gondomar desta “nova era”, digamos assim. Na realidade, o município de Gondomar há muitos anos, talvez uns 25/30 anos, já teve uma série de percursos espalhados pelo que na altura se designava por “Paisagem Protegida das Serras de Santa Justa, Pias e Castiçal”, hoje parte integrante do recente Parque das Serras do Porto – são cerca de 6.000 hectares composto ainda pelas serras de Santa Iria, Flores e Banjas, abrangendo territórios dos municípios de Gondomar, Paredes e Valongo.
Este PR1 de Gondomar – “Linha de Midões e os Moinhos de Jancido”, é um percurso linear com 5,4 quilómetros entre a Foz do Sousa e Covelo e corresponde ao trajecto da antiga linha ferroviária, que operou entre 1856 e 1927, e por onde circulavam os vagões que transportavam o carvão desde as minas de Midões e o ouro e o antimónio de Montalto até à foz do rio Sousa onde, depois, eram carregados em barcos para seguir rio abaixo até à cidade do Porto.
Um percurso muito antigo e com história onde se destacam, como principal atracção, os recuperados moinhos de Jancido. Oito moinhos de rodízio tradicionais com mais de 200 anos, alinhados ao longo de um pequeno curso de água com cerca de mil metros. A água da ribeira era partilhada e usada para fazer moer as pesadas mós através de um sistema de levadas e represas. Os moinhos tinham como finalidade transformar o milho e outros cereais em farinha para o fabrico de pão. Durante a década de 70 do século passado estes moinhos foram deixando de laborar devido ao aparecimento de outros sistemas eléctricos de moagem.
Antes ainda de descrever o trilho, uma referência para o trabalho exemplar de um grupo de amigos – “Os Rapazes de Jancido” – que dedicam parte do seu tempo livre a fazer algo em prol da sua terra. Pessoas com grande força de vontade, dedicação e altruísmo que ao longo dos últimos anos têm modificado e cuidado de toda esta área para que agora possamos desfrutar deste paraíso. Obrigado! E que fique o exemplo.
PR1 GDM: Trilho bem marcado, amplo e em bom estado
Este PR1 de Gondomar é um trilho linear, pelo que pode ser iniciado/terminado em dois locais: o parque de merendas de Covelo ou o Centro de Saúde de Foz do Sousa. Por questões de logística e de me ficar mais acessível, escolhi este último para iniciar a minha caminhada. Deixei o carro junto ao Centro de Saúde, onde há alguns lugares de estacionamento (embora, uns metros mais à frente, exista um outro parque de estacionamento devidamente sinalizado). O início do percurso (cerca 600 metros) é feito em estrada, para depois se virar à direita (ainda em estrada) para logo a seguir se apanhar um caminho em terra do lado esquerdo. Aqui vamos encontrar um velho moinho (ainda?) sem telhado. Um pequeno aperitivo para o que virá a seguir. Deixamos o caminho de terra para atravessarmos a estrada e seguir por uma outra rua onde iremos encontrar a indicação de que estamos a entrar na antiga linha de Midões. Agora é seguir pelo caminho em terra à esquerda. Não tem como enganar, para além da excelente marcação e indicações, o trilho é bastante intuitivo.
Seguindo pelo caminho de terra onde antigamente passavam os vagões que vinham carregados de carvão das minas, vamos encontrar campos de cultivo, serras, alguns eucaliptos (na parte final) e os icónicos moinhos por isso, aproveite para apreciar a paisagem – e se não fizer barulho, for discreto e não andar por aqui muita gente, com alguma sorte, poderá ver algum esquilo a cruzar o caminho, por isso mantenha-se atento. A cerca de dois quilómetros vamos encontrar (à esquerda) o desvio para a ponte de Longras (ponte que foi reconstruída pelos Rapazes de Jancido, pois a força do rio em Invernos idos havia levado uma boa parte dela. Eu optei por seguir pelo caminho e deixar a visita à ponte para o regresso. Um pouco mais à frente encontramos os moinhos de Jancido, ex-libris deste trilho. Existem várias maneiras para ver os moinhos – que se estendem para a parte de baixo do caminho, até ao rio, e também para o lado de cima, junto ao pequeno curso de água. Deixo-vos aqui a minha sugestão: vão encontrar um pequeno desvio à esquerda com a indicação dos moinhos, sigam por aí a baixo. No fundo da descida, do lado direito vão encontrar uma mina e, logo mais à frente, o moinho do Garrido (os moinhos foram baptizados com os nomes das famílias a que pertencem) e uma pequena ponde de madeira. Primeira paragem para umas fotos e para apreciar o conjunto de moinhos recuperados e em perfeita harmonia com a natureza, a pequena cascata e o rio Sousa que corre sereno mesmo ao nosso lado. Destaque para a beleza de um moinho redondo que se destaca dos restantes. Um lugar mágico e de beleza única.
Por entre os moinhos, encosta acima, existe uma escadaria talhada na terra e com pedras de lousa que nos permite observar de perto os moinhos e regressar ao caminho da velha linha de Midões. É por aí que vamos subir, com calma e com a ajuda de uma corda que existe ao longo da subida para nos dar algum apoio. Aproveite para espreitar o interior dos moinhos e ver o mecanismo que os faz trabalhar.
Chegando ao caminho, há que atravessá-lo e continuar ribeiro acima, pois os restantes moinhos encontram-se espalhados ao longo deste pequeno curso de água. Por aqui irá encontrar algumas mesas e bancos para descansar ou, quem sabe, fazer um picnic. Quando avistar o último moinho (Moinho do Quintas), há que voltar para baixo e regressar ao trilho.
PR1 GDM: O já icónico moinho redondo e a queda de água junto ao rio Sousa
De regresso ao caminho da velha linha férrea, cerca de um quilómetro mais à frente, iremos encontrar uma ponte de metal, também ela construída pelos Rapazes de Jancido para substituir a antiga ponte da linha de Midões que entretanto ruíra. Atravessamos o Sousa e seguimos caminho fora. Cerca de 200 metros depois da ponte, perto de uma tabuleta com a indicação de Covelo, à esquerda existe um pequeno charco de grande beleza e onde se pode escutar a água a cair. Pena o local não estar devidamente limpo.
Estamos sensivelmente a meio do trilho e, daqui para a frente, a paisagem é menos apelativa: vamos passar por baixo da auto-estrada (A43), vamos deixar de ver o rio Sousa e vamos atravessar uma área de eucaliptos… Será sempre assim até chegarmos a Covelo, onde iremos encontrar campos de cultivo, as primeiras casas e regressaremos à estrada que nos há-de levar à ponte de Covelo e ao parque de merendas. Esta zona, onde termina o trilho é muito agradável, pois a beleza do rio enche-nos a vista. Agora é dar meia-volta e fazer o caminho de volta. Se necessitar de reabastecer de água fresca para o regresso, aqui, junto à ponte existe um café mesmo ao lado do rio.
De regresso, ao chegar novamente à zona dos moinhos, irá encontrar uma indicação para descer junto ao Sousa, siga por aí. É um caminho que o levará novamente ao local belo e mágico da pequena queda de água. Pelo caminho vai passar pelo baloiço dos moinhos… Na altura, estava um bocado alto e não era muito jeitoso subir para o baloiço. Atenção também para a pedra existente mesmo ao lado do baloiço.
PR1 GDM: A ponte de Longras e o encanto do rio Sousa
Depois de tirar mais umas fotos aos moinhos e à queda de água, há que seguir caminho… Logo a seguir ao moinho do Garrido, existe um caminho pela direita, paralelo ao rio Sousa, siga por aí, pois vai ter à ponte de Longras. Depois de mais umas fotos em cima da ponte, apreciar a beleza do local e observar as rãs é necessário subir. Siga a estrada de paralelos até à primeira curva, tome o caminho (à direita) para retomar a linha de Midões e seguir até ao início deste belo PR1 de Gondomar.
PR1 de Gondomar
Linha de Midões e os Moinhos de Jancido
Trilho linear de aproximadamente 5.400 metros. Este trilho pode-se fazer todo o ano, embora no Inverno o rio Sousa possa inundar quer a ponte pedonal (no meio do trilho) quer dificultar o acesso através da ponte rodoviária junto ao Centro de Saúde de Foz do Sousa.
Pontos de interesse: Moinhos de Jancido, ponte de Longras, o rio Sousa e a diversa fauna.
Ponto de partida / chegada: Centro de Saúde de Foz do Sousa / Parque de Merendas de Covelo.
Duração: cerca de 3h30 (ida e volta).
Altitude máxima: 55 metros
Altitude mínima: 7 metros
Grau de dificuldade: Baixo (1 numa escala 0-5)
Recomendações (de quem já apanhou alguns sustos por não seguir estas recomendações):
Tenha sempre em atenção o seu estado físico, lembre-se que em grande parte dos trilhos não existe rede de telemóvel nem internet. Tente informar-se com antecedência do estado do trilho. Sempre que possível, não vá sozinho e avise sempre um familiar ou um amigo do trilho que vai fazer. Principalmente de Inverno, tome atenção às horas para não ter que caminhar no escuro (eu levo sempre uma lanterna!!!). De Verão, tenha em atenção o calor (alguns trilhos não têm sombras, sendo muito expostos ao sol), use protector solar e leve água consigo. Siga sempre a sinalética existente. Não se afaste dos trilhos marcados, não tente caminhos alternativos (o trilho que está marcado é sempre a melhor opção). Não deixe lixo e, se vir algum, tente levá-lo consigo sempre que possível. Respeite a natureza, relaxe e desfrute, vai ver que não há melhor actividade física.
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