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  • Foto do escritorJoão Pais

PR 4 de Tábua – Trilho dos Gaios


PR4 de Tábua - Trilho dos Gaios

Há lugares que nos encantam pela sua beleza e outros que são encantados. É o que acontece com este Trilho dos Gaios que atravessa vale do rio de Cavalos no seu trajecto junto à aldeia de Vale de Gaios, no concelho de Tábua. É um lugar encantado.


Recentemente desloquei-me ao distrito de Coimbra e “dei um salto” até à vila de Tábua para fazer um trilho que já estava na minha lista há algum tempo: o trilho dos Gaios.

O Trilho dos Gaios é conhecido pelos seus renovados passadiços coloridos, mas importa também divulgar a beleza da zona de lazer de Vale de Gaios e o belíssimo “vale encantado” do rio de Cavalos. Estamos perante um vale de grande beleza natural, com muitas árvores, num ambiente calmo, marcado pela cadência do som da água, e cuja intervenção humana (para além de algumas construções e de vestígios de velhas azenhas cobertas por musgos e heras) limita-se a estes passadiços.


Passadiços de Vale de Gaios
Passadiços de Vale de Gaios

Estes passadiços fazem parte do PR4 de Tábua, um percurso linear com 17,3 quilómetros que liga a vila de Tábua e a bonita localidade de Vila Nova de Oliveirinha. Percorrer a totalidade deste trilho é fisicamente exigente, quer pela sua distância, quer pelo desnível acumulado. No entanto, a parte mais bela deste percurso, os Passadiços do Trilho dos Gaios, têm apenas três quilómetros de extensão, sem qualquer tipo de dificuldade e de fácil acesso por carro. Apesar do trilho apresentar alguns pontos de interesse ao longo do seu trajecto, de facto, este pequeno troço beneficia de todo um vale luxuriante de grande beleza natural, que nos transporta para um “mundo mágico”. Agora, mais colorido com os “novos” passadiços que vão ganhando cores ao longo do trajecto – coisa para agradar a uns e desagradar a outros.

Este PR4 tem início no centro da vila, junto à Capela do Senhor dos Milagres (século XVIII) e da igreja matriz de Tábua (construída no séc. XIX, substituindo um outro templo anterior).

Este trilho, no seu percurso inicial, que achei pouco interessante (não aprecio muito caminhar em estrada, nem dentro de localidades, prefiro o contacto com a Natureza), atravessa as ruas da vila de Tábua em direcção à pequena capela de Seixos Alvos e, depois, por caminhos florestais até Vale de Gaios.


Este Trilho dos Gaios atravessa um vale luxuriante que nos transporta para um “mundo mágico”
Este Trilho dos Gaios atravessa um vale luxuriante que nos transporta para um “mundo mágico”

Vale de Gaios é uma pequena localidade muito antiga. As suas origens remontam à Idade Média e aparece referenciada nos Registos Paroquiais da Freguesia de Midões, nos séculos XVI e XVII, como grande polo molinológico e com especial destaque para o ofício de moleiro – a moagem teve uma importância vital no desenvolvimento económico da região ao longo dos tempos.

É na pequena povoação de Vale de Gaios que vamos encontrar uma bonita zona de lazer, que nos fins de semana de Verão deve fazer as delicias das gentes da região. A pequena povoação brinda-nos com uma zona de piqueniques e uma praia fluvial que aproveita um dique do rio de Cavalos, formando aqui um belo espelho de água.

É aqui que têm início os coloridos passadiços que, durante cerca de três quilómetros, seguem o deslumbrante vale do rio de Cavalos. Este “vale encantado”, de grande beleza, que esconde algumas maravilhas.


Os passadiços foram construídos para ajudar superar as dificuldades do terreno e acompanhar o leito do rio
Os passadiços foram construídos para ajudar superar as dificuldades do terreno e acompanhar o leito do rio

O rio de Cavalos nasce no concelho de Oliveira do Hospital e desagua no Mondego, atravessando o concelho de Tábua. O vale do rio de Cavalos leva-nos a atravessar uma floresta magnífica, repleta de belos recantos e de sombras refrescantes para os dias quentes de Verão. Um espaço deslumbrante que apela aos nossos sentidos numa exaltação de cores, aromas e de sons: para além do colorido dos passadiços, há os diferentes tons de verde das folhas, dos musgos, das ervas; o aroma das plantas, o cheiro da terra; o cantar alegre dos pássaros e o som da água do rio a correr. Tudo sob raios de luz fantásticos que, aqui e acolá, conseguem romper as cerradas copas das árvores.

Ao acompanhar as águas cristalinas do rio de Cavalos, vamos encontrar algumas antigas azenhas, pequenas quedas de água e grandes penedos de granito. Foi para contornar a dificuldade de ultrapassar estes grandes blocos de pedra que foram construídos estes passadiços que serpenteiam por entre as grandes rochas. Por isso, não conte com grandes extensões de passadiço, mas antes uma sucessão de pequenos trechos de madeira que ajudam a superar as dificuldades do terreno e a contornar este enormes blocos de pedra junto ao leito do rio de Cavalos.


Neste Trilho dos Gaios os passadiços serpenteiam por entre as grandes rochas
Neste Trilho dos Gaios os passadiços serpenteiam por entre as grandes rochas

Rio de águas incrivelmente transparentes, bastante sinuoso e com a particularidade de se “tornar invisível”, desaparecendo por baixo das rochas durante cerca de 300 metros. Efectivamente, existe uma parte do percurso em que a água do rio continua a ouvir-se, mas deixamos de a ver, porque o rio atravessa umas grandes galerias formadas pelas enormes rochas.

Esta parte do percurso do PR4 de Tábua, emerso nesta fabulosa floresta, leva-nos até à Ponte Romana de Sumes, uma ponte de um único arco, construída em granito e que, muito provavelmente, fazia parte da via que ligava Bobadela (Oliveira do Hospital) a Póvoa de Midões e esta a Viseu.


O Trilho dos Gaios leva-nos a conhecer o rio “invisível”
O Trilho dos Gaios leva-nos a conhecer o rio “invisível”

Esta parte do trilho, entre Vale de Gaios e a Ponte Romana de Sumes não oferece dificuldades de maior, é de enorme beleza, apresenta bastante sombra, e tem grande interesse quer paisagístico, quer biológico. Para quem não apreciar grandes caminhadas, recomendo que faça apenas este pequeno e muito agradável percurso (são cerca de três quilómetros para cada lado), que é de fácil acesso por carro, ficando a cerca de dez minutos do centro de Tábua.


Este Trilho dos Gaios, para além da beleza do vale do rio de Cavalos, permite-nos atravessar alguns caminhos rurais
Este Trilho dos Gaios, para além da beleza do vale do rio de Cavalos, permite-nos atravessar alguns caminhos rurais

Se até aqui este PR4 não apresentou grande dificuldade em termos de terreno, depois da Ponte Romana de Sumes o trilho exige algum fôlego e preparação física nas pernas, pois vamos subir dos 250 metros de altitude para os 370 em cerca de dois quilómetros.

Depois da Ponte de Sumes o trilho segue por caminhos florestais. Vamos passar pela Bica de Águas Sulfurosas, de onde brota uma água quente de cor esbranquiçada. Antigamente, a água brotava através da fractura de grandes blocos de granito. No século passado, a fractura foi arranjada e cimentada e nela colocada uma bica. Actualmente, a água corre para uma pequena pia e daqui para o rio. Esta Bica aparece referenciada em diferentes locais como sendo a sua água estando indicada para problemas de pele e de articulações.

A Bica de Águas Sulfurosas é muito antiga e conta-se que vinha gente de todo o lado aqui buscar água para, depois, lavar-se com ela. As pessoas mais idosas da aldeia de São Geraldo (ali ao lado) contam que, no início do século XX, vinham senhoras das cidades que aqui se instalavam para tratarem as suas maleitas da pele. As mulheres da aldeia carregavam a água à cabeça para encher as banheiras onde as senhoras depois tomavam banho.


Ponte de São Geraldo, de provável origem romana
Ponte de São Geraldo, de provável origem romana

O trilho continua por caminhos florestais e depois de contornar uma antiga construção viramos à direita para atravessar a Ponte de São Geraldo, também ela de provável origem romana e reconstruida na Idade Média. É aqui que começa a tormenta para as nossas pernas. Vamos começar a subir. Um pouco mas à frente, vamos cruzar a estrada (CM1304) para atravessar a pequena aldeia de São Geraldo. Passadas as poucas casas da aldeia, e sempre a subir, vamos agora em direcção à Pedra do Rei, um miradouro com uma ampla vista para o imenso vale.


Recanto na aldeia de São Geraldo
Recanto na aldeia de São Geraldo

A Pedra do Rei é um enorme afloramento rochoso que serve de miradouro natural. Um miradouro com uma vista fantástica para o vale onde podemos avistar a freguesia de Midões com a serra do Caramulo em pano de fundo. Aproveite as vistas enquanto descansa.

Depois de um merecido descanso e de um pequeno lanche para recarregar energias, era preciso continuar. Agora vamos descer até atingirmos novamente o rio de Cavalos, onde atravessamos uma pequena ponte de madeira para o lugar da Ribeira. Vamos percorrer algumas ruas e alguns caminhos rurais do lugar, até atravessarmos de novo o rio para iniciar a derradeira subida até Vila Nova da Oliveirinha. São cerca de 3,5 quilómetros, sempre a subir, por caminhos rurais e florestais até atingirmos o 414 metros de altitude junto à capela de São João.


Vista do miradouro da Pedra do Rei
Vista do miradouro da Pedra do Rei

Vila Nova de Oliveirinha é uma localidade muito antiga, figurava nas Inquirições de 1258 e tem foral datado de 1514. Foi vila e sede de concelho até 1836, passando então a pertencer a Midões e, mais tarde, a Tábua. O seu nome primitivo era Oliveirinha do Prado, passando a ostentar a designação actual a partir de 1906.

Vila Nova de Oliveirinha surpreendeu-me bastante. É uma terra muito agradável, cheia de recantos e encantos que vale a pena conhecer.

Igreja de Vila Nova de Oliveirinha
Igreja de Vila Nova de Oliveirinha

Vamos encontrar algumas casas bastante antigas ao percorrer as ruas de Vila Nova de Oliveirinha, onde se destaca a igreja paroquial com orago a São Miguel, um templo de provável construção no século XVIII. Ao nível do património religioso há ainda a capela de Nossa Senhora do Loreto, do século XVII, e a capela de São João, de finais do século XIX.

Junto à igreja vamos encontrar o coreto, em frente ao qual fica o excelente restaurante “Cork and Fork”, instalado no edifício do antigo quartel dos bombeiros voluntários e, um pouco mais acima, num pequeno jardim, o monumento que presta homenagem aos mortos da I Grande Guerra.

Depois de chegar ao final deste trilho, junto à capela de São João, pode ainda fazer mais cerca de 500 metros e visitar o Museu do Azeite, na Bobadela, já em terras de Oliveira do Hospital, cujo edifício tem a forma de um ramo de oliveira.


O PR4 de Tábua aproveita (bem) o vale do rio de Cavalos
O PR4 de Tábua aproveita (bem) o vale do rio de Cavalos

De referir que todo o trajecto estava devidamente limpo e bem marcado, com uma única excepção que pode induzir em erro (o leitor não se preocupe porque, se o dito caminho tiver saída, o erro não é assim tão grave como pode parecer, como eu explico já a seguir…). É em pleno caminho florestal, onde se vira à esquerda antes de iniciar a subida final para se chegar à estrada (Rua Albertino Ferreira) mesmo no início de Vila Nova de Oliveirinha. Não tem, ou não tinha, qualquer sinalização que se deveria virar à esquerda. Eu fiquei com muitas dúvidas. Passei o local, andei um pedaço, voltei para atrás para ver se me tinha escapado alguma marcação de mudança de direcção, e nada. Acho que virei ali à esquerda por intuição e por achar que o caminho estava demasiado limpo… No regresso, tive oportunidade de falar com uma família que também fazia o trilho e que também tinha andado “perdida”. Agora, analisando através do Google Maps parece-me que o erro não seria muito grave, pois o dito caminho, se tiver saída, se não estiver obstruído, poderá ser uma espécie de atalho (poupando-se cerca de 500 metros), pois vai ter à Rua Padre Luiz (junto à capela do Loreto), onde iríamos passar de qualquer maneira.

Já agora, deixo aqui um conselho de quem anda nisto há muitos anos (e aprendeu na pele): não tentem cortar caminho por hipotéticos atalhos, que à partida nos podem parecer mais curtos, ou mais a direito. Para além de poder ser perigoso, normalmente, não vai ter onde nós queríamos ou tem obstáculos pelo caminho. Sigam sempre o trajecto marcado, se o trilho foi marcado por ali, é porque aquele é o melhor (e talvez o único) caminho.


Depois de um passeio por Vila Nova de Oliveirinha e de uma breve pausa no restaurante para adquirir uma garrafa de água e descansar as pernas, para mim, era altura de regressar ao ponto de partida. O trajecto de regresso seria mais fácil e mais rápido, pois a maior parte do percurso era agora a descer até Tábua. Fica aqui a dica.


Características do trilho

PR3 TBU – Trilho dos Gaios

Trilho linear de aproximadamente 17 300 metros.

Ponto de partida/chegada: Tábua ou Vila Nova de Oliveirinha

Pontos de interesse: Igreja matriz de Tábua, Capela do Senhor dos Milagres, Zona de Lazer de Vale de Gaios, Passadiços de Vale de Gaios, Rio de Cavalos, Ponte Romana de Sumes, Bica das Águas Sulfurosas, Miradouro da Pedra do Rei, Igreja de Vila Nova de Oliveirinha, Capela de São João.

Duração: 4 horas (só ida)

Altitude máxima: 414 metros (em Vila Nova de Oliveirinha)

Altitude mínima: 174 metros (nos passadiços de Vale de Gaios)

Grau de dificuldade: Moderado (3 numa escala 1-5)


O trilho não sendo muito técnico, exige alguma preparação física devido à sua distância. Tem algumas subidas e descidas acentuadas. No sentido Tábua - Vila Nova de Oliveirinha é quase sempre a subir. No sentido contrário, é quase sempre a descer, tendo apenas duas subidas “mais puxadinhas”. O trilho tem uma parte de grande beleza e com bastante sombra, junto ao rio de Cavalos, na zona dos passadiços do Vale de Gaios, sendo o restante algo exposto ao sol. Se estiver calor é aconselhável que leve bastante água e o uso de chapéu e protector solar (para aplicar várias vezes durante a caminhada).

Este trilho pode fazer-se todo o ano, embora eu desaconselhe períodos de chuva, por se poder tornar escorregadio e por causa do nível das águas.

Se for de Verão, ou estiver tempo quente, leve lanche e o fato de banho e disponha de algum tempo para desfrutar da zona de lazer de Vale de Gaios e para contemplar a beleza desta “floresta encantada”.


Recomendações

Tenha sempre em atenção a sua forma física. Tente informar-se com antecedência do estado do terreno e estude o trilho. Confirme o estado do tempo para o local para onde vai. Não se esqueça que na serra o tempo pode mudar de repente. Use roupas e calçado adequado para este tipo de actividade (e de acordo com a estação do ano). Caminhe sempre nos trilhos marcados, não só por causa do meio ambiente, mas também para sua protecção. Respeite a Natureza e os animais, eles estão no seu habitat, nós é que somos o intruso. Em dias de sol quente, use chapéu e protector solar e leve água consigo. Principalmente de Inverno, tome atenção às horas para não ter que caminhar no escuro (leve sempre uma lanterna). Sempre que possível, não vá sozinho, avise sempre um familiar ou um amigo para onde vai. Não deixe lixo e, se vir algum, tente levá-lo consigo sempre que possível. Não acampe sem ser em locais próprios. Não faça barulho, respeite a natureza, relaxe e desfrute, vai ver que não há melhor actividade física.


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