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Foto do escritorJoão Pais

Penedono


Penedono é, certamente, um dos mais antigos povoados portugueses, mesmo anterior à formação do próprio país. Portanto, uma terra cheia de História e com muitas histórias para se conhecer.


Ao chegarmos à vila de Penedono existem duas coisas que saltam logo à vista: o seu bonito castelo e as muitas construções em granito que conferem ao seu centro histórico um aspecto medieval. Nota-se que há um esforço em respeitar a traça arquitectónica de raiz medieval e o uso do granito. Aqui, quase todos muros e edifícios antigos – casas, solares, capelas, igreja e o próprio castelo – são construídos em granito. O granito era a matéria-prima existente na região que, noutros tempos, vinha das serranias em redor do povoado.


Penedono é uma vila do distrito de Viseu, situada perto dos limites da Beira Alta e já bem perto da região do Douro Vinhateiro. A sua origem perde-se no tempo, sendo a sua mais antiga referência escrita datada do ano 960, então referido como Pena de Dono (o que quererá dizer Penha ou Castelo de Dono, sendo que Dono era um nome vulgar no século X). Mas sabe-se que a ocupação humana deste território vem de muito antes, como o comprovam os vários monumentos megalíticos espalhados pelo concelho e pela serra do Sirigo, como é o caso de diversas antas e menires com milhares de anos. Devido a vestígios encontrados, calcula-se que no ano 1000 a.C. aqui existia um castro da idade do bronze. Por cá andaram os Romanos, depois vieram os Alanos, os Vândalos, os Suevos e os Godos oriundos do leste europeu e, mais tarde, os Muçulmanos, vindos do norte de África, que aqui se fixaram até ao século XI. Após a reconquista cristã, a vila ficou pertença da coroa portuguesa e, em 1195, D. Sancho I concede foral à vila.


O ambiente medieval do centro histórico de Penedono convida-nos percorrer as suas ruas de traça antiga com casas em granito, procurar recantos escondidos e apercebermo-nos, aqui e acolá, de alguns edifícios marcantes, algumas capelas bem antigas e, claro está, do seu bonito castelo gótico com mais de mil anos de história.


O castelo medieval de Penedono, classificado como Monumento Nacional desde 1910, é um dos mais belos castelos de Portugal. Atrevo-me a dizer que todas as terras gostariam de ter um castelo como este. Aqui é fácil imaginar uma história com damas da corte, cavaleiros de cotas de malha e armaduras com os seus pajens a passearem pelas ruas e sentinelas nas ameias do castelo a vigiarem o território da cobiça inimiga. A ajudar todo este imaginário, estão as diversas réplicas de catapultas e outros artefactos medievais quer nas imediações do castelo, quer espalhados pela vila. Ambiente extraordinário para a realização da Feira Medieval que, normalmente, decorreria no mês de Julho.


Calcula-se que, anteriormente, também aqui, terá existido uma outra construção, já que na base da estrutura foram encontradas fiadas paralelas, característica das antigas construções árabes. Durante o século XI, devido à agitada época que se vivia, com sucessivos recuos e avanços da fronteira, o castelo e a vila de Penedono foram mudando de mãos diversas vezes. O castelo quase foi destruído, mas foi sendo reconstruído ao longo dos tempos e, no final do século XIV, sofreu uma reconstrução quase integral tendo ficado conforme o conhecemos hoje. Posteriormente, já durante o Estado Novo, o castelo foi alvo de novas intervenções em alguns panos de muralha e torres, que se encontravam danificados, bem como alguns pavimentos e acessos. Nova recuperação do edifício nos anos de 1949 e 1953 contribuíram para que o castelo chegasse até à actualidade em relativo bom estado.


O castelo de Penedono está envolvido em histórias e lendas. Vou deixar aqui as duas lendas mais conhecidas. Do lado direito do castelo, pode-se distinguir duas pedrinhas brancas que se encontram relativamente próximas. Diz a lenda das Duas Pedras que estas pedras são as tampas de duas caixas misteriosas deixadas por uma moura muito rica. A mulher que ali viveu escondeu a sua fortuna dentro de uma das caixas e, na outra, uma perigosa maldição que causaria a morte a quem a abrisse. Como ninguém sabe qual das caixas contém o tesouro, nunca ninguém até hoje arriscou remover as caixas com receio de se enganar e abrir a caixa errada… Já a lenda da Fraga do Castelo fala de um rochedo de cor avermelhada que existe ao lado d castelo. Diz-se que neste rochedo nunca cresceu musgo ou outra forma de vida, como acontece nas restantes pedras à volta da fortaleza, porque, segundo reza a lenda, por aqui corriam rios de sangue derramado pelos Mouros quando estes foram derrotados e atirados do alto do castelo, indo embater neste rochedo. Existe uma outra versão para esta lenda que conta ter existido um cavaleiro apaixonado que para conseguir conquistar a sua amada andaria por cima das ameias do castelo. Certo dia, o cavaleiro perdeu o equilíbrio e caiu em cima do rochedo, ficando este pintado de vermelho com o seu sangue…


O bonito e singular castelo de Penedono está implantado num cabeço rochoso a cerca de 930 metros de altitude e em posição dominante sobre toda a vila. O edifício militar de planta poligonal, (quase) triangular, apresenta na sua magnífica fachada dois enormes torreões quadrangulares a ladear a porta de entrada, num elegante conjunto arquitectónico. O acesso ao castelo é feito através de uma escadaria, também ela em granito. Se não tiver problemas com alturas, não deixe de subir ao topo das suas muralhas e percorre-las. Daqui de cima temos uma vista desafogada sobre toda a vila de Penedono e paisagem envolvente.


Rezam as crónicas que, no século XV, aqui terá nascido D. Álvaro Gonçalves Coutinho, o célebre “Magriço”, que Luís de Camões imortalizou no canto VI de “Os Lusíadas” no episódio dos “Doze de Inglaterra”. Por este motivo o castelo de Penedono também é conhecido como o Castelo do Magriço. D. Álvaro era filho do alcaide de Penedono e, como era comum naquela época, vivia em constante procura de fama e glória em feitos militares. A história dos “Doze de Inglaterra” conta que doze damas inglesas foram acusadas por doze cavaleiros, também eles ingleses, por falta de honra e virtudes, levando os ingleses a desafiar quem quer que fosse para as defender pela força da espada. As damas inglesas não conseguiram arranjar quem as defendesse e apelaram por ajuda ao Duque de Lencastre, sogro de D. João I, então Rei de Portugal. O Duque solicitou ajuda aos portugueses e o pedido foi aceite por doze cavaleiros onde se incluía D. Álvaro Gonçalves Coutinho, o “Magriço”. Os cavaleiros partiram de navio para Inglaterra mas, o “Magriço” decidiu ir a cavalo, por terra, na senda da conquista de mais fama e glória até se juntar, mais tarde, aos seus companheiros. No dia do combate os portugueses estavam em desvantagem, pois o “Magriço” ainda não tinha chegado. Diz a história que estava o embate prestes a começar quando o “Magriço” chega em grade euforia para salvar os seus companheiros de uma derrota quase certa. O combate terminou com a vitória dos portugueses que, assim, recuperaram a honra e a nobreza das damas inglesas.


Mas Penedono tem muito mais para oferecer a quem visita esta vila medieval. A vila apresenta um património vasto com edifícios religiosos seculares, solares antigos, edifícios privados e monumentos megalíticos pelo que convém estar atento a todos os pormenores quando se passeia pelas ruas da vila. Mesmo à porta do castelo, situa-se o magnífico pelourinho de gaiola datado do século XVI. Também ele construído em cantaria de granito, o pelourinho foi reconstruído nos anos 30 do século passado. Logo ali ao lado fica o Posto de Turismo, instalado na antiga Casa da Câmara e Cadeia. O edifício bastante antigo, embora se desconheça o ano de construção, apresenta na sua fachada o escudo de D. João V. Ainda no largo fronteiro ao castelo fica o Hotel Medieval, um edifício imponente onde em tempos funcionou a Câmara Municipal, uma edificação também antiga e recuperada já no século XX.

Um pouco mais à frente, encontramos o edifício dos Paços do Concelho, instalado na antiga Casa dos Freixos ou Solar dos Coutinhos. Este edifício aristocrático era a residência da família Coutinho, Condes de Marialva e, na altura, ficava fora da malha urbana da vila. É um edifício do século XVII com capela adossada num dos extremos da fachada principal, também ele em cantaria de granito. Calcula-se que a capela seja mais antiga (talvez do século XV) que o restante edifício. O solar sofreu obras nos anos 80 do século passado para adaptação à instalação dos serviços camarários. Ali perto, numa zona relativamente isolada, fica a Torre do Relógio, uma construção quadrangular que se ergue em cima de um afloramento rochoso de onde se tem um vasto panorama sobre a vila.


Espalhados pela vila, pelas suas casas, e pelas freguesias vizinhas estão numerosos vestígios da presença judaica em Penedono. A origem do povo judeu em Penedono é incerta, mas é natural que a sua presença seja remota, estando documentada desde o século XV. Os primeiros judeus em terras do actual concelho de Penedono tiveram os seus primeiros núcleos familiares nas localidades de Antas, Castainço, Granja, e sobretudo em Penela da Beira onde, mais tarde, se veio a erguer uma comunidade importante. Calcula-se que estas pessoas eram (quase) todos sefarditas, ou seja judeus originários da Península Ibérica.


A igreja matriz de Penedono, com orago a São Pedro, encontra-se na periferia do centro histórico e é construída em cantaria de granito. O edifício original terá sido construído no século XII, tendo sido depois reconstruido nos séculos XVII e XVIII. No seu interior possui tecto de madeira dividido em 35 caixotões com pinturas de santos e um grande retábulo em talha com as imagens de São Pedro e São Paulo.


Na vila podemos ainda encontrar outros templos. A bonita capela do Calvário (junto à Câmara Municipal) da qual apenas resta uma nave, uma vez que a capela-mor, foi destruída no século XIX, aquando da abertura da actual avenida. A capela, construída em granito, possui um púlpito exterior e, possivelmente, será do século XVII. Já mais perto do castelo, num largo com árvores e com um espaço frontal murado, fica a capela de São Salvador. Esta capela foi, até ao fim do século XIX, a igreja matriz da antiga paróquia de São Salvador, mas no século XX o corpo principal da igreja foi demolido tendo o seu portal sido edificado na entrada do cemitério de Penedono. Da igreja original resta apenas a capela-mor, onde são bem visíveis as alterações para adaptação ao seu actual formato. Conserva no seu interior um belíssimo retábulo em talha dourada.


Já fora dos limites da vila, os amantes de vestígios arqueológicos poderão encontrar o Menir de Penedono, um monólito de granito com 1,92 metros de altura e, perto do lugar de Antas, o Menir do Vale de Maria Pais, um exemplar único no concelho e um dos poucos da região centro, de configuração fálica e com um motivo gravado que foi identificado com a representação do sol. O monólito de granito quando foi encontrado apresentava cerca de três metros de comprimento, mas que os trabalhos de restauro prolongaram para cerca de cinco metros. Nas freguesias do concelho são vários os pontos de interesse a descobrir: a Ponte Românica, em Beselga; a Calçada Romana, em Ourozinho; a Necrópole Megalítica, em Lameira de Cima; as Sepulturas Antropomórficas perto da localidade de Antas. A norte de Penedono, são inúmeros os dólmens existentes a par com as sepulturas antropomórficas escavadas na rocha. Tudo a comprovar que a região é povoada desde tempos remotos.


Penedono é uma vila encantada inspirada pelo imaginário medieval que vale a pena conhecer, quer pelo seu castelo de singular beleza, quer pela riqueza do seu centro histórico. Uma terra com mais de mil anos de história que guarda as memórias dos tempos medievais e que fascina e cativa quem por aqui passa. Um lugar obrigatório na Beira Alta.


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