A origem dos festejos do Carnaval é incerta, mas esta festa popular terá origem pagã. Mais tarde terá sido reconhecida pela Igreja e inserida no calendário cristão [ver a história aqui]. Estes três dias de folia antecedem o período da Quaresma - dias de jejum e abstinência
Por todo o país existem mil e uma festas carnavalescas. Há-as para todos os gostos: das mais tradicionais, que vão buscar usos e costumes ancestrais, às de influência brasileira, com escolas de samba, passando pelos desfiles de carros alegóricos com sátira social e política. Só para mencionar os mais conhecidos, temos grande folia no Funchal, Ovar, Mealhada, Torres Vedras, Sesimbra e Loulé, todos “servidos” com mais ou menos doses generosas de samba.
Mas Linha de Terra prefere os festejos mais tradicionais como o desfile de cabeçudos e gigantones de Barcelos; o Entrudo das Aldeias do Xisto de Góis onde se usam máscaras em cortiça; os Caretos da Lagoa (Mira), que usam saias vermelhas, camisas brancas e chocalhos. As suas máscaras são feitas de cartão, fitas de tecido, papel colorido e completadas com chifres de animais; ou em Cabanas de Viriato (Nelas) o grande baile popular com a (já) famosa dança dos cus, que junta umas largas centenas de pessoas que “dançam” em plena rua, em duas filas, batendo com os ditos uns nos outros. Ao que parece, esta tradição terá sido criada no século XIX por um grupo de teatro.
Nos festejos carnavalescos mais tradicionais temos o Entrudo Chocalheiro de Podence, em Macedo de Cavaleiros, e o Entrudo de Lazarim, em Lamego.
Os Caretos de Podence e o seu Entrudo Chocalheiro, um dos mais genuínos do país e, recentemente, nomeados Património Imaterial da Unesco [ver aqui], são o recriar de um ritual pagão muito antigo.
Os Caretos são seres mitológicos, seres mágicos, que nestes dias invadem e tomam conta da rua principal da aldeia para purificar e limpar os corpos do mal.
Dentro dos seus fatos de cores garridas, onde o vermelho, o amarelo e o verde sobressaem, os Caretos permanecem anónimos por detrás das máscaras de chapa ou couro - em geral pintadas de vermelho ou preto e com uma cruz na testa - protegidas por grandes capuzes de onde pendem enormes caudas. À cintura trazem cintos de couro com enormes chocalhos para chocalharem nas nádegas femininas.
Aqui tudo é improvisado e espontâneo. A festa consiste em grupos de Caretos acompanhados de gaiteiros a percorrerem, acima e abaixo, a rua principal da aldeia. A festa termina com a queima do entrudo, um enorme Careto colocado em frente à Casa do Careto, à entrada da aldeia.
Já em Lazarim, o Entrudo é conhecido essencialmente pelas suas máscaras esculpidas em madeira de amieiro. Diz a tradição que as máscaras têm de ser trabalhadas à mão por artistas locais, onde cada peça é única. Existe todo um sortido de imagens fantásticas e misteriosas que vão desde animais, reis, figuras mágicas ou demónios, quase sempre com grandes cornos. Autenticas obras de arte! As máscaras de Lazarim também são candidatas a Património Imaterial da Humanidade da Unesco.
No Entrudo de Lazarim, existe um desfile e um concurso de máscaras. Aqui, toda a gente, homem ou mulher, residente ou de fora, pode envergar uma máscara de madeira. A única exigência é que seja esculpida por um artista local. A máscara deve ser acompanhada por um fato condizente e quanto mais extravagante melhor. Podemos observar fatos feitos com materiais que passam pela palha, barbas de milho, folhas de árvores, ramos de mimosas e adereços de moda como cabaças, cajados, enxadas e outras ferramentas agrícolas.
Outro ponto alto da festa, na terça-feira de Carnaval, é a leitura do Testamento do Compadre e da Comadre – versos de escárnio e mal dizer trocados entre jovens solteiros (rapazes e raparigas) da vila e arredores. Eles e elas redigem os Testamentos onde nos contam todos os defeitos dos seus conterrâneos do sexo oposto, muitas vezes recorrendo ao sarcasmo e ao palavrão, fazendo corar as pedras da calçada...
No fim da festa, numa das praças da vila, oferece-se feijoada e caldo de farinha aos visitantes, tudo cozinhado em grandes panelas de ferro de três pernas.
Em muitos locais, para finalizar os festejos carnavalescos e iniciar a Quaresma, celebra-se também o Enterro do Entrudo que, em algumas terras, assume nomes diferentes como o Enterro do João, a Queima do Entrudo, etc. Estas manifestações, normalmente, ocorrem na quarta-feira de cinzas e são uma espécie de cortejo fúnebre (em alguns casos com direito a urna e carpideiras) onde há a leitura de um testamento e a queima do "defunto".
Em Melgaço, existe a Queima do Entrudo com figuras de saia vermelha, camisa e lenços amarelos, bordados de cores garridas, e um chapéu de cartão enfeitado com fitas e com um tecido a esconder a cara.
Em Vinhais, na quarta-feira de cinzas, é o Dia dos Diabos, com figuras da morte e diversos diabos a percorrerem as ruas da vila atrás de almas pecadoras.
Já em Vale de Ílhavo, há a Cardação das Raparigas. Os cardadores são homens mascarados que saltam e gritam e que vão pelas ruas em busca de raparigas para fazerem a Cardação das Raparigas. As suas máscaras podem ser elaboradas com pele de carneiro ou asas e penas de galinha.
Na Guarda, fazem o Julgamento e a Morte do Galo do Entrudo. Colocado no centro da praça, um enorme galo que representa a crise, a corrupção e todos os males que ocorreram ao longo do ano é julgado e queimado em praça pública para, assim, trazer esperança para os próximos tempos. No final do julgamento, o enorme galo é queimado e é cozinhada uma canja de galo para servir por todos.
Estes são só alguns dos muitos aspectos e formas de festejar o Carnaval mais tradicional e típico das diferentes regiões do país. Tradições que importa manter e preservar.
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