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Foto do escritorJoão Pais

Entre a bruma e as lagoas de São Miguel - parte 3

Atualizado: 13 de abr. de 2021


Mais um dia passado na ilha de São Miguel, mais uma tentativa de ir visitar as lagoas.

Depois de dar mais uma vista de olhos à aplicação (que havia instalado no telemóvel ainda no continente) SpotAzores, fico a saber que faz muito nevoeiro em todas as lagoas. Mas mesmo assim, a ideia era fazer-me à estrada.

Saí de Ponta Delgada em direcção às Sete Cidades pela “estrada das lagoas” (a ER8-2). O dia prometia, mas assim que a estrada que serpenteava por lombas e vales começou a subir, o nevoeiro começou a notar-se. E notava-se tanto que eu cheguei ao ponto de deixar de ver a estrada. Decidi mudar de estratégia e de rota.

Dirigi-me em direcção à costa norte da ilha para conhecer as vilas e cidades onde ainda não tinha parado. Assim comecei por Capelas. Fui ter ao Miradouro das Pedras Negras, onde já havia estado. Capelas é uma bonita vila com a sua costa recortada. A vila tem paisagens naturais lindíssimas com excelentes panorâmicas para o Atlântico.

Capelas foi um importante centro de caça ao cachalote. Se bem a tradição baleeira tivesse maior expressão na ilha do Pico, a fase industrial teve o seu apogeu na ilha de São Miguel, principalmente em Capelas, onde terão existido importantes armações baleeiras e a Fábrica Baleeira, em Poços de São Vicente Ferreira, onde se produzia óleo e farinha de cachalote. A fábrica terá funcionado entre 1934 e 1972. A caça à Baleia está proibida desde 1985.


Capelas


De visitar na vila de Capelas é o Monumento de Homenagem ao Baleeiro, junto à Junta de Freguesia e ao jardim da vila. A igreja matriz , que tem como orago Nossa Senhora da Apresentação, foi construída entre 1767 e 1806 e presenta bonita cantaria em basalto e um interior bastante rico.


Fenais da Luz

Agora, havia que seguir a ER1-1 em direcção a Rabo de Peixe. Paragem pelo caminho em Fenais da Luz para ver a igreja de Nossa Senhora da Luz, cuja escadaria quase “aperta” a estrada. A actual igreja terá sido começada a construir no século XVI sobre as ruínas de um outro templo ali existente. A data de 1756, inscrita na sua fachada, corresponde, possivelmente, à sua conclusão. Mais à frente, nova paragem. Desta feita em Calhetas para admirar as belezas da costa e a praia de areia escura.


Calhetas

Rabo de Peixe é uma vila piscatória, possui o maior porto de pesca dos Açores e é uma das vilas mais populosas da ilha de São Miguel. O lugar terá sido habitado desde finais da era de Quatrocentos por flamengos e mouros, cujas terras eram cedidas por El-Rei, com a finalidade de organizarem e darem vida a esta local.

Diz-se que o seu nome se deve à semelhança que uma das suas pontas de terra que penetra no mar tem com a cauda de um peixe. Numa outra versão, conta-se que, em tempos idos, foi encontrado no mar um grande peixe que a população não conseguiu identificar e, por esse motivo, decidiram pendurar o seu rabo num pau.

A vila é caracterizada pelas suas pequenas casas coloridas, que nas suas fachadas ostentam painéis de azulejos com imagens de santos. Durante o dia é normal ver-se os homens encostados em grandes grupos, já que a faina no mar é feita durante a noite e madrugada. Homens de feições pesadas e tez marcada do sol, sempre com os olhos postos no mar.


Rabo de Peixe - Igreja do Senhor Bom Jesus


Do seu património arquitectónico há a destacar a sua igreja paroquial, dedicada ao Senhor Bom Jesus. De traçado harmonioso, segue o esquema mais comum das igrejas da ilha de São Miguel com três naves e frontaria tripartida. No seu interior possui um painel pintado, do século XVI, com a figura de São Pedro, atribuído a mestre Vasco Fernandes – Grão Vasco (1475-1542). Desconhece-se a data precisa da edificação da igreja, mas numa placa no seu interior pode-se ler que “foi destruída em 1522 após um terramoto foi renovada em 1560 e a torre concluída em 1735”.

Seguindo a Estrada ER1-1, chegamos a Ribeira Grande onde já havia estado, pelo que havia que seguir em frente. Cheguei à bonita vila da Maia, uma freguesia nitidamente rural e com excelentes vistas para o oceano. Geologicamente, a Maia assenta sobre uma fajã vulcânica criada há cerca de 10.000 anos. O seu topónimo deve-se à sua fundadora, Inês da Maia, ao que tudo indica uma fidalga oriunda da povoação homónima do norte de Portugal, que aqui se estabeleceu nos finais do século XV. Foi uma das freguesias onde a indústria teve um peso significativo, destacando-se as fábricas do tabaco, de chá e de blocos de cimento. A sua igreja paroquial, dedicada ao Divino Espírito Santo, datada de 1812, teve origem numa capela do século XVI, ampliada nos séculos XVII e XVIII. Na freguesia ficam a Fábrica de Chá Gorreana e o Museu do Tabaco. No Miradouro do Frade, temos uma vista privilegiada para o azul do mar e acesso ao Trilho do Degredo.

Maia


Depois da Maia, era altura de regressar à parte sul da ilha de São Miguel. Lagoa era o próximo destino. Lagoa é uma cidade muito interessante e agradável com as suas ruas estreitas. O seu nome diz-se que se deve a um lago que em tempos terá existido defronte da igreja matriz, onde chegavam os barcos. Entretanto o lago terá sido aterrado. Hoje, Lagoa possui um pequeno porto de pesca relativamente moderno mas, já no século XVIII, havia registos do Forte de Santa Cruz da Lagoa, que terá sido construído para proteger as entradas e saídas das embarcações do porto então existente. Conta-se também que este forte terá servido para protecção dos ataques de corsários e piratas.

Lagoa - Igreja Nossa Senhora do Rosário

Destaque para a sua igreja matriz, em pleno centro histórico do núcleo urbano de Lagoa. A Igreja Nossa Senhora do Rosário, construída no início do século XVII sobre uma antiga capela, e reconstruída a partir de 1767. De referir ainda o Complexo de Piscinas, uma zona balnear de referência em toda a ilha de São Miguel, com piscinas naturais, uma piscina artificial semi-olímpica, piscinas para crianças e respectivas infra-estruturas de apoio.

Rumando em direcção a Ponte Delgada, passei pela bonita zona de São Roque com as suas belas praias de areia escura e esplanadas com uma pequena paragem em frente ao “ilhéu” de Rosto de Cão. O seu nome deriva, segundo dizem, da semelhança da rocha com um cão deitado, virado para o atlântico… Na verdade, não se trata de um ilhéu, mas sim de uma pequena e estreita península constituída por restos de um pequeno cone vulcânico, formado a menos de uma centena de metros da costa.


Ilhéu de São Roque e uma das praias existentes nesta linha costeira


Era hora de rumar em direcção às Sete Cidades – mais uma tentativa para ver as lagoas. Mais uma tentativa para admirar aquela que é a mais famosa das diversas lagoas da ilha de São Miguel. Considerada Paisagem Protegida devido à sua importância quer pelas suas características muito próprias, quer por ser uma zona de passagem de aves migratórias, a Lagoa das Sete Cidade foi eleita uma das 7 Maravilhas Naturais de Portugal.

Assim fiz-me à estrada em direcção ao Miradouro da Vista do Rei. Mais uma vez, o imenso nevoeiro dificultou-me a vida, chegando mesmo a chover forte aquando da passagem pela ponte que separa as duas lagoas. Chegado ao Miradouro a vista era nula. Tudo branco! Não pude deixar de reparar no enorme hotel abandonado lá no cimo. O Hotel Monte Palace, um hotel de cinco estrelas que foi inaugurado em 1989 e que encerrou portas em 1991, hoje em completo abandono e em ruínas. Segundo me disseram, uns dias antes, o hotel terá sido comprado recentemente por um grupo chinês.


Lagoa das Sete Cidades - Miradouro do Cerrado das Freiras

Iniciei a descida para as Sete Cidades, por entre o nevoeiro ainda consegui parar no Miradouro do Cerrado das Freiras e no Miradouro da Lagoa de Santiago. No primeiro ainda consegui, por entre uma névoa ou outra, a muita dificuldade, avistar a Lagoa. Continuei a minha descida até às Sete Cidades.

A aldeia está situada no interior da caldeira do vulcão das Sete Cidades, na parte plana da margem oriental da Lagoa Azul. O nome da aldeia, segundo dizem, poderá derivar de uma velha lenda da Princesa (de olhos azuis) e do Pastor (de olhos verdes), vítimas de um amor proibido que com as suas lágrimas formaram as lagoas, ou da mítica Ilha das Sete Cidades, a ilha Antília, situada algures no Oceano Atlântico a ocidente da Europa e que terá inspirado durante muitos séculos a exploração marítima.


Lagoa das Sete Cidades

A aldeia nasceu ao lado da Lagoa, numa paisagem de sonho de beleza única. Aldeia rural onde (quase) tudo gira à volta das vacas e do leite. Para além de ser recomendável explorar os recantos da aldeia e das lagoas, destaque para a bonita Igreja de São Nicolau e para a sua alameda de grandes árvores. A igreja, de traça neogótica, terá sido começada a construir em 1850 devido a uma promessa feita pelo coronel Nicolau Raposo do Amaral, um rico proprietário local, de construção de um templo para os habitantes locais que, na altura, eram obrigados a grandes deslocações até ao local de culto mais próximo.


Termina assim o relato da minha primeira visita aos Açores, mais concretamente à ilha de São Miguel. Certamente não será a última porque a vontade de repetir e conhecer coisas novas é grande. Muito foi visto, mas muito mais ficou por ver. O arquipélago dos Açores é um apelo da natureza, um paraíso (ainda) pouco conhecido. São Miguel é um mundo verde repleto de diferentes tonalidades que nos encanta os sentidos e a alma. É surpreendente como em tão pouco território estão reunidas tantas e tão belas paisagens. Bem-vindos às mais belas nove ilhas do Mundo!


Linha de Terra voou na Sata e Ryanair e ficou alojado nos Apartamentos Canha,

em Ponta Delgada. As deslocações na ilha de São Miguel fora realizadas em

viatura alugada na Auto Ramalhense. Linha de Terra custeou todas as despesas,

não tendo qualquer apoio dos locais, empresas ou entidades mencionadas.


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