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  • Foto do escritorJoão Pais

Entre a bruma e as lagoas de São Miguel - parte 2

Atualizado: 9 de mai. de 2021


Parque Terra Nostra, Furnas

Itinerário do 2º dia: Ponta Delgada – Ribeira Grande – Nordeste – Povoação – Furnas – Ponta Delgada


Este segundo dia prometia ser longo. O tempo continuava sem ajudar. O nevoeiro era muito e, por vezes, chovia. O dia hoje estava destinado para conhecer a parte oriental da ilha de São Miguel. Saí em direcção a Ribeira Grande.

Uma via rápida liga as duas cidades – a mesma via rápida que me haveria de levar ao Nordeste. Não fosse o nevoeiro persistente e esta viagem seria mais um desfilar de paisagens verdejantes.

Ribeira Grande é uma cidade muito interessante. A cidade deve o seu nome à ribeira que a atravessa – os primeiros povoadores chamaram-lhe Grande, não por ser a maior da ilha de São Miguel, mas pela beleza que a ribeira proporciona no seu caminho até ao mar. O seu povoamento terá sido dos primeiros da ilha.

Igreja do Espírito Santo, Ribeira Grande

Teatro Ribeiragrandense, Ribeira Grande

A sua igreja matriz, de Nossa Senhora da Estrela, originalmente foi construída em 1517 e posteriormente destruída. O actual edifício, datado de 1728, imponente e riquíssimo tem a sua fachada em cantaria e a sua torre sineira em pedra escura provavelmente recuperada do templo anterior.

Memorial Nicolau Breyner, Ribeira Grande

Ali perto, à saída da ponte que atravessa a ribeira, podemos encontrar a Igreja do Espírito Santo (século XVII), o mais significativo exemplar do barroco açoriano. Mesmo ali ao lado, temos o imponente edifício do Teatro Ribeiragrandense que terá recebido recentemente obras de beneficiação e ampliação. O edifício dos Paços do Concelho apresenta um curioso arco de passagem e uma torre. A cidade apresenta ainda grande variedade de palacetes e solares. Ainda tempo para ver o Memorial Nicolau Breyner e, junto ao Atlântico, observar as Piscinas Municipais e o Miradouro do Castelo e do Palheiro.

Parti de Ribeira Grande em direcção à Maia, em Ribeirinha, bem perto da igreja do Santíssimo Salvador do Mundo – um templo do século XIX mas seguindo as plantas e a estrutura da fachada tripartida, típica das igrejas quinhentistas da ilha – fiz um pequeno desvio para o farol da Ponta do Cintrão. O farol situa-se no cimo de uma falésia, um promontório de apreciáveis dimensões. A sua torre tem 14 metros de altura e foi construído em 1957.


Igreja do Santíssimo Salvador do Mundo, Ribeirinha

Farol da Ponta do Cintrão

Seguindo caminho, rapidamente encontrei a plantação de chás Gorreana. Esta é a mais antiga plantação de chá da Europa, onde se cultiva este produto desde 1883. Ali pude visitar a fábrica e museu, inteirar-me de todo o processo de apanha e fabrico do chá, visitar as plantações e ainda degustar os magníficos chás [ver texto].

A Gorreana produz exclusivamente chá preto e chá verde, mantendo as tradições originais do oriente e as qualidades ancestrais há cinco gerações. O seu chá é totalmente isento de químicos e conservantes, sendo um produto totalmente biológico.



Havia que seguir caminho em direcção ao Nordeste. A vila situa-se do extremo oriental da ilha de São Miguel. É uma vila quinhentista, por carta régia do Rei D. Manuel I, desde 1514. Chego à vila do Nordeste atravessando a Ponte dos Sete Arcos, construída em 1883, que termina num pequeno largo onde se situa a igreja de São Jorge. Datada de 1793, a igreja tem grande imponência e é uma das mais antigas da ilha de São Miguel. A igreja encontra-se no local de um primitivo templo do século XV. O templo actual terá sido reconstruído no século XVIII, após ter sido destruído por um terramoto, em 1522.


Igreja de São Jorge, Nordeste

De relevo bastante acidentado, em grande parte devido a erupções vulcânicas, mas de uma beleza natural única e de vegetação de excelência. O Nordeste é um luxuriante manto verde ali mesmo ao lado do azul do Atlântico.

Farol da Ponta do Arnel

Logo a seguir à vila, fica a Ponta do Arnel. Foi este o local escolhido para construir o primeiro farol moderno dos Açores (1876), e o seu porto de pesca mandado construir, em 1556, pelo Rei D. João III, que viria a ser reconstruído mais tarde em 1875. Aqui, se optar por uma ida “lá baixo”, tenha especial atenção à forte inclinação da estrada no caminho de regresso à ER1-1.

A serra da Tronqueira, envolta num denso nevoeiro, num ambiente misterioso, cheio de encantos e, certamente com muitos recantos, fez-me lembrar a serra de Sintra. Apesar de não ter apreciado na plenitude toda a beleza luxuriante da serra e da sua área protegida – o nevoeiro era tanto que eu mal via a estrada –, pude ficar com uma ideia do seu encanto e beleza. Aqui manda a Natureza perante a insignificante força do Homem.

Se o tempo o permitir, depois da Ponta do Arnel, recomendo vivamente a Estrada Florestal e uma subida ao Pico da Vara (1.105 metros), o ponto mais alto da ilha de São Miguel.

Se optar pela ER1-1 não deve deixar de espreitar o mar azul nos mais diversos miradouros: Vista dos Barcos (assim chamado por ser o local onde primeiro se avistam as embarcações vindas de Leste, e também com vista para o farol do Arnel); Ponta da Madrugada (o melhor local da ilha para ver o nascer do sol); Ponta do Sossego (com vista para a Fajã do Araújo); Pico do Bartolomeu; Despe-te que suas; Ponta do Por do Sol; e Salto do Cavalo (com vista para as Furnas).

Seguindo a estrada que circunda toda a ilha de São Miguel, cheguei à vila de Povoação. Localidade que deve o seu nome por ter sido o primeiro local de fixação dos primemos habitantes da ilha, em 1444. Povoação é, portanto, o aglomerado populacional mais antigo de todo o arquipélago. Era a esta localidade que chegavam os colonizadores vindos do continente com os seus gados e sementes e, daqui se espalhavam para toda a ilha de São Miguel.

Caldeiras, Furnas

Depois de Povoação, foi altura de fazer uma ingressão na parte mais central da ilha e visitar as Furnas [ver texto]. As Furnas é uma bela localidade, vulgarmente conhecida como a “Sala de Visitas dos Açores”. O seu nome está relacionado com os fenómenos de vulcanismo ali existentes, denominados por fumarolas ou “caldeiras”.

O vale possui uma grande diversidade de nascentes de águas minerais e termais, sendo considerada a maior concentração de diferentes tipos de água do mundo.

Todo o vale das Furnas é de uma beleza extraordinária. Neste paraíso idílico, podemos observar a enorme Lagoa das Furnas rodeada por uma enorme “cortina” verde e onde se confecciona o famoso Cozido das Furnas no calor da terra vulcânica. Na vila, poderá tomar um banho nos tanques de água quente (39°C) da Poça da Dona Beija ou na piscina termal do Parque Terra Nostra [ver texto], um parque maravilhoso com uma grande variedade plantas, algumas árvores com mais de 200 anos de existência. Não deixe de provar os Bolos Lêvedos, embora à venda em quase todos os estabelecimentos comerciais da ilha, os melhores são os das Furnas.

Parque Terra Nostra e Lagoa das Furnas


Antes de regressar a Ponta Delgada, tempo ainda para dar um salto à Lagoa do Congro.

Mais uma vez, devido ao imenso nevoeiro, a Lagoa do Congro apresenta-se envolta em clima de mistério. A visibilidade era muito pouca e, embora a lagoa não seja muito grande, mal se conseguia avistar a outra margem.

A Lagoa do Congro encontra-se numa cratera vulcânica com cerca de 3.900 anos, rodeada por uma floresta densa. O acesso à Lagoa não é dos mais fáceis – com chuva e nevoeiro, torna-se mesmo pouco convidativo. Primeiro por uma estreita estrada de terra um pouco acidentada e, depois, é necessário descer um trilho em ziguezague (cerca de 15-20 minutos) com alguma lama e troncos de árvores caídos. Mas, sem dúvida, que a caminhada compensa. Chegando lá baixo, e porque este não é um dos pontos mais turísticos da ilha, quase de certeza que vai ter uma lagoa só para si. Lá, num pequeno pontão, respira-se natureza, ar puro, silêncio e paz. É a harmonia com a natureza!

Lagoa do Congro

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