A bonita vila de Dornes fica no concelho de Ferreira do Zêzere, no extremo norte do distrito de Santarém. A panorâmica vila situa-se numa pequena península rodeada pelas águas do rio Zêzere.
Dornes é uma localidade repleta de história e muito antiga, mesmo anterior à fundação da nacionalidade, como o comprovam os vestígios arqueológicos aqui encontrados e os seus monumentos ancestrais.
A vila, aliás, toda a região, é uma zona de com paisagens arrebatadoras e a proximidade com o Zêzere dá-lhe ainda mais encanto. Rodeada por montes, Dornes está envolta por uma imensa mancha verde que é recortada pelo azul do rio que por aqui ainda passa largo de margens devido à albufeira da barragem de Castelo do Bode, cerca de 30 quilómetros a sul. Albufeira que transformou a região num destino apetecível para a prática de actividades aquáticas e com excelentes praias fluviais, sendo já local de eleição de muita gente para passar os dias quentes de Verão. Portanto, um pequeno paraíso com bonitas paisagens e muita história.
A primitiva ocupação deste local remontará ao período dos Lusitanos (povo que habitava a Península Ibérica, entre o Douro e o Tejo, antes dos Romanos), que aqui terão tido uma povoação. Conta-se que durante a romanização, em 74 a.C., aqui terá sido erguida uma torre fortificada, atribuída a Quinto Sertório, um general romano. Há ainda quem atribua a construção da primitiva torre aos muçulmanos, algures entre os séculos VIII e XII.
No entanto, aquilo que se sabe em concreto, pelos achados arqueológicos (do século I a.C.) encontrados no local, é que a fundação de Dornes é muito anterior à nacionalidade. Apesar de ser uma terra antiga, é só com a reconquista cristã que Dornes assume um papel de relevância.
Do vasto território entregue à ordem do Templo pelos primeiros reis de Portugal, Dornes assume um importante papel no apoio à defesa da linha do Tejo contra os Mouros e é aqui, numa elevação próxima ao rio Zêzere, que os Templários irão construir uma atalaia (torre de vigia num lugar alto). Sim, porque naquela altura, este seria um ponto elevado, já que o rio corria por entre vales muito profundos.
Assim, a Torre Templária que hoje temos em Dornes terá sido construída no início do século XII, muito provavelmente, sobre um antigo castro romanizado, constituindo um importante ponto estratégico militar na época. Hoje, a Torre Templária de Dornes ergue-se num ponto alto dominando a vila e a vista sobre o Zêzere, sendo a guardiã da pequena península.
No século XVI terá havido uma remodelação e alteração da altura da Torre Templária com a colocação de ventanas e dos sinos do concelho, ficando com o aspecto que mantém ainda hoje.
A Torre Templária de Dornes tem planta pentagonal, algo invulgar para as torres defensivas daquela época, pensando-se mesmo que talvez seja a única torre no país com planta pentagonal. Apesar de fechada, no seu interior, a Torre conserva várias lápides de Cavaleiros da Ordem do Templo.
Mesmo ao lado da Torre Templária fica a igreja de Nossa Senhora do Pranto, à qual se acede através de uma escadaria com vários lanços. A actual igreja é uma reedificação e ampliação do século XV, em substituição de um outro templo já existente, do século XIII, do qual apenas restam algumas inscrições e que é mencionada numa lenda.
O culto a Nossa Senhora do Pranto está associado a uma lenda, segundo a qual, há muitos séculos, as terras desta região pertenciam à Rainha Santa Isabel, esposa do rei D. Dinis. Era feitor da Rainha, um cavaleiro chamado Guilherme de Pavia, ao qual atribuíam algumas proezas milagrosas. Certo dia, andava Guilherme de Pavia a caçar, quando ouviu uns gemidos. Durante vários dias tentou descobrir a origem dos gemidos, mas nada conseguiu achar. Decidiu ir contar o sucedido à rainha e esta disse-lhe que tinha tido um sonho e que sabia do que se tratava e do local exacto onde Guilherme Paiva procurar. O cavaleiro regressou e foi procurar no local que a rainha lhe tinha indicado, encontrando uma imagem da Virgem a chorar a morte de seu Filho. O cavaleiro guardou a imagem consigo, até que um dia a rainha foi visitar as suas terras e foi ver a imagem da Virgem. A Rainha Santa Isabel terá ordenado que se construísse uma ermida para guardar a Virgem, junto a uma velha torre pentagonal que já existia. E nessa torre, ordenou que se instalassem os sinos da ermida.
Em breve o povo começou a construir casas em redor da capela e da torre e, diz a lenda, a Rainha Santa deu a essa terra o nome de Vila das Dores, nome que com o tempo se teria corrompido até dar Dornes.
A bonita igreja de Dornes possui um interior bastante rico, sendo o corpo do templo totalmente revestido a azulejos setecentistas e a cobertura da capela-mor em abóboda de berço de caixotões. Pode-se ainda observar o retábulo em talha setecentista na capela-mor; o púlpito lavrado de rosetas que apresenta a cruz de Cristo, datado de 1544; imagens quinhentistas em pedra de Nossa Senhora do Pranto e de Santa Catarina e um magnífico órgão de tubos seiscentista.
Mesmo ao fundo da escadaria que dá acesso à igreja de Nossa Senhora do Pranto fica a capela de Santo António, um pequeno edifício recentemente remodelado de linhas muito simples. Esta pequena capela já aparecia referenciada nas memórias paroquiais do século XVIII.
Dornes é também um dos poucos sítios onde ainda se constroem os barcos típicos do Zêzere, conhecido por “Abrangel” ou “barco de três tábuas”. O mestre José Alberto Ferreira é um dos últimos artesãos que ainda preserva o saber ancestral de trabalhar nesta nobre arte. O seu estaleiro fica à entrada da vila. O “barco de três tábuas” era a embarcação que antigamente animava o rio Zêzere, pois era o principal meio de transporte para pessoas e mercadorias. Hoje ainda é utilizado para a pesca e momentos de lazer.
Ferreira do Zêzere é uma zona privilegiada para a prática de desportos náuticos, particularmente nas margens das suas aldeias ribeirinhas. O concelho tem tido algum destaque e tem mesmo vindo a afirmar-se como destino de desportos náuticos, dada as excelentes condições proporcionadas pelo magnífico plano de água da albufeira da barragem de Castelo do Bode. São muitas as actividades aquáticas que pode desfrutar em Dornes e um pouco por toda a região. Recomendo um passeio de barco pela albufeira ou, nos dias mais quentes que se adivinham, um mergulho na água “quente” da sua praia fluvial.
Gastronomicamente falando, dizem que por aqui tem que se provar o peixe do rio. Peixe fresco, acabado de pescar e confeccionado segundo as velhas tradições locais. Confesso que não sou apreciador deste género de peixe, pelo que passei ao lado desta iguaria, mas existem restaurantes conceituados na vila de Dornes onde poderá saborear esta especialidade.
Com uma localização geográfica privilegiada, inserida numa das mais belas albufeiras do nosso país e enquadrada por uma moldura paisagística deslumbrante, Dornes foi eleita, em 2017, uma das “7 Maravilhas de Portugal”, na categoria de aldeias ribeirinhas.
Esta é uma terra com uma história milenar que honra a herança deixada pelos Cavaleiros Templários. Terra de grande beleza, Dornes é um local perfeito para umas férias em família, com amigos ou mesmo para uma escapadinha de fim-de-semana. Local calmo e sossegado, afastado dos populosos centros urbanos, este é o sítio ideal para descarregar o stress da correria das grandes cidades, “carregar baterias” e relaxar, pois aqui, para além do ar puro, respira-se calma e tranquilidade. Dornes é um pequeno paraíso onde é possível contemplar a beleza da paisagem, ouvir a natureza e sentir a magia. Dornes enche-nos os olhos e o coração.
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