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Foto do escritorJoão Pais

Belver, a fortaleza do Tejo

Atualizado: 13 de abr. de 2021


Balver

Quando se chega a Belver, aquilo que logo nos trava o olhar é o seu castelo, altivo, no cume de um monte. A fortaleza está ali no alto, imponente, com a vila e o casario branco a seus pés e o Tejo corre, pacífico, logo mais abaixo.

Belver pertence ao concelho de Gavião e ao distrito de Portalegre e, apesar de ainda estarmos na margem norte do rio Tejo, já estamos em território do Alto Alentejo. Um território de transição entre a Beira Baixa, o Ribatejo e o Alentejo “profundo”. Gavião é mesmo o único concelho do Alentejo que se estende acima do Tejo.

Povoada desde tempos muito antigos, esta região conta com presença humana desde a pré-história até aos nossos dias, aliás, como quase toda a região do Alto Alentejo, como o comprovam a Anta do Penedo Gordo, (em Torre Fundeira).

Belver com as suas casas de fachadas debruadas
Belver com as suas casas de fachadas debruadas

A vila de Belver é um miradouro privilegiado para admirar o vale do Tejo e toda a paisagem em seu redor. O seu casario alvo como a neve destaca-se do verde envolvente (que apesar dos incêndios dos últimos anos, já se conseguiu recompor, voltando aos tons verdes da natureza).

O centro de Belver é muito agradável, com as suas ruas estreitas e sinuosas. As suas casas estendem-se colina acima e, aqui e ali, saltam à vista as cores fortes com que se debruam as suas fachadas. O centro urbano apresenta algumas casas dignas de um pequeno passeio pelas suas ruas e para conhecer a igreja matriz em honra de Nossa Senhora da Visitação, datada de meados do século XVI.

Na igreja matriz estão guardadas as Santas Relíquias de Belver, trazidas da Terra Santa por cavaleiros da Ordem do Hospital. Estas terão sido doadas pelo Infante D. Luís (filho de D. Manuel I e pai de D. António, Prior do Crato), que foi Grão-Prior da Ordem do Hospital. Diz-se que as Relíquias seriam compostas pelo anel de São Brás, cabelos de Maria Madalena, palhinhas da manjedoura onde teria nascido o Menino Jesus, e alguns ossos e jóias. Existe uma lenda sobre a vinda destas Relíquias para Belver. Conta-se, que em determinada altura, D. Luís terá querido levar as Relíquias para Lisboa. Quando chegaram à capital, as Relíquias desapareceram. O barco onde viajaram, Tejo abaixo, terá chegado ao porto da capital e voltado para traz sem que ninguém o tripulasse. A embarcação terá aparecido na manhã seguinte junto às margens de Belver, iluminada e sem ninguém a bordo. Quando os habitantes de Belver subiram à embarcação encontraram um cofre com as Relíquias que guardam, desde esse dia, na igreja matriz de Belver. As Relíquias, que são celebradas, na vila, nas festas de Agosto.

Igreja matriz de Belver
Igreja matriz de Belver

Apesar de ser uma vila muito agradável, aqui sente-se o interior profundo e despovoado que facilmente encontramos no resto do país. Belver, segundo o Censos de 2011, tinha 684 habitantes (hoje, provavelmente, terá menos). Aqui não há lojas, não há comércio, não há cafés com esplanadas. Um ou outro café de aldeia com bancos corridos à porta e uma ou outra mercearia, foi praticamente tudo o que pude observar. Aqui vive-se o silêncio das aldeias e vilas quase desabitadas, aqui o ar que respiramos é diferente; impera o cheiro da terra (que hoje estava molhada), aqui vive-se a natureza que envolve Belver.

Castelo de Belver
Castelo de Belver

Depois de um breve passeio pelas ruas de Belver, impõe-se uma visita ao castelo. A subida ao castelo não é fácil; uma íngreme escadaria leva-nos, monte acima, e quase que chagamos ao topo sem fôlego. E ainda temos pela frente as escadas da torre de menagem…

A história do Castelo de Belver tem início no ano de 1194, com a doação por D. Sancho I, das terras então designadas por Guidintesta, à Ordem Militar dos Hospitalários. Esta doação implicava a construção de um castelo nas margens do Tejo com o nome de Belver – designação semelhante a Belvoir, que era uma das muitas fortificações da Ordem do Hospital na Terra Santa (Jerusalém) –, bem como o povoamento e a defesa do território.

O castelo de Belver seria fundado em 1212. Este foi o primeiro castelo a ser construído de raiz pela Ordem do Hospital em território nacional e assumiu um papel importante na defesa do Tejo e na reconquista cristã contra os mouros e, mais tarde, contra a ameaça castelhana.

O castelo viria a sofrer remodelações, em 1390, efectuadas por D. Nuno Álvares Pereira para, depois, ir perdendo importância para a Coroa Portuguesa. Com o terramoto de 1755, o castelo sofreu abalos significativos na sua estrutura e, só em meados do século XX (década de 1940), é alvo de restauro, permanecendo até hoje como um ponto de grande interesse.

Conta-se que o Castelo de Belver terá servido para guardar uma parte do tesouro real. Crê-se ter morado aqui, durante algum tempo, a princesa Santa Joana (irmã de D. João II) e também que Luís de Camões terá estado preso no castelo de Belver pouco antes de embarcar para a Índia ao serviço da Coroa Portuguesa.

Vale do Tejo e ponte de Belver
Excelente ponto de observação do vale do Tejo com a ponte de Belver, bem como de toda a zona envolvente

Hoje, pode-se percorrer as suas muralhas e na torre de menagem existe um centro interpretativo que explica aos visitantes a importância desta fortificação ao longo dos tempos. Do alto da torre de menagem, com uma maravilhosa vista sobre o Tejo, sentimo-nos quase uns super-homens, quase a tocar as nuvens que, infelizmente neste dia, estavam baixas e escuras… tendo mesmo chovido bastante enquanto visitava o castelo.

No interior das muralhas do castelo está a capela de São Brás, uma construção datada do século XVI. No altar da capela existe um interessante retábulo em madeira composto por pequenas esculturas que têm um buraco no peito e a maioria não tem mãos. Este retábulo terá sido oferta do Infante D. Luís. Consta-se que ali eram guardadas as Relíquias que se dizem terem sido trazidas da Terra Santa pelos Hospitalários. Na altura das invasões Francesas as jóias e alguns artefactos das Santas Relíquias, que naquela época estavam guardadas nesta capela desapareceram, deixando assim o retábulo com o aspecto actual, sem mãos.

Capela de São Brás
Capela de São Brás

Ao fundo da vila, junto ao Tejo, passa a linha da Beira Baixa (Lisboa-Entroncamento-Covilhã). Ao contrário de muitas outras localidades, por aqui, o comboio ainda passa, e tem no seu percurso até às Portas de Rodão uma vista extraordinária – um passeio imperdível. Segundo o horário da CP, o comboio regional pára em Belver quatro vezes ao dia.

Do outro lado do rio temos a bela praia fluvial do Alamal – que durante o Verão é bastante procurada – com o seu passadiço (perto de dois quilómetros), quase rente ao plano de água do Tejo, de onde se tem uma vista privilegiada para o castelo. Infelizmente, e apesar de estar no roteiro da minha visita a Belver, não tive oportunidade de fazer o passadiço e ir à praia do Alamal, pois a chuva intensa teimava em cair e, depois, o nevoeiro apoderou-se de toda a região.

Terminado o passadiço, chega-se à ponte de Belver, uma construção datada de 1905 e que terá sido inaugurada dois anos depois. Esta importante infra-estrutura que permite a ligação rodoviária entre as duas margens do Tejo (EN 244) apresenta um tabuleiro de estrutura metálica, assente em três pilares de cantaria.

Praia fluvial do Alamal e os passadiços
Praia fluvial do Alamal e os passadiços

Em Belver podemos ainda visitar o Museu do Sabão, um dos quatro existentes no Mundo (em Barcelona - Espanha, em Marselha - França e em Sídon - Líbano). Na minha visita ao Museu e na minha ignorância, perguntei o porquê de um museu dedicado ao sabão ali. Então, foi-me explicado que toda aquela zona teve grande tradição na produção de sabão. A indústria do sabão desenvolveu-se na região a partir da segunda metade do século XVI, graças à abundância de matérias-primas. As saboarias de Sabão Mole e de Sabão de Pedra eram conhecidas em todo o reino e a produção de sabão assumiu grande importância económica e social na vila de Belver. Nesta localidade, foi instalada a Real Fábrica de Sabão, da qual ainda hoje se encontram vestígios. Até meados do século XX houve um número relevante de saboeiros em Belver, pequenas produções familiares, que iam passando de geração em geração.

Uma homenagem aos saboeiros de Belver, um ponto de visita obrigatória e muito interessante para conhecer um pouco mais sobre a evolução do sabão, a história do sabão no mundo e em Portugal e até como fazer sabonetes em casa. Um espaço que vale a pena não só pela cultura e pela história mas pela diferença.

Na vila ainda pode visitar o Núcleo Museológico das Mantas e Tapeçarias de Belver, o caminho da Fonte Velha, onde os muros foram transformados em galeria de arte a céu aberto, com obras escultóricas em pedra. A cerca de cinco quilómetros da vila pode visitar a barragem de Belver, construída na década de 1950, tendo sido finalizada a sua construção em 1952. A barragem tem 30 metros de altura e cerca de 327 metros de comprimento.


Vista sobre Belver a partir da torre de menagem do castelo
Vista sobre Belver a partir da torre de menagem do castelo
Castelo de Belver
Castelo de Belver

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