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  • Foto do escritorJoão Pais

Aldeia da Mata Pequena: um tesouro (bem guardado) da região saloia

Atualizado: 3 de set. de 2022


A pequena aldeia da Mata Pequena, às portas da capital, é um pequeno oásis onde impera a preservação da arquitectura tradicional, o contacto com a natureza e o ar puro do campo. Visitar a aldeia da Mata Pequena é fazer uma viagem no tempo não só da arquitectura tradicional da região, mas também dos seus usos e costumes. Um verdadeiro tesouro da região saloia.


Na minha breve passagem pelo concelho de Mafra, fui à procura de uma localidade que há muito estava na minha lista de locais a visitar: a aldeia da Mata Pequena. Já tinha ouvido falar (muito bem) da aldeia, já tinha visto umas fotografias e, obviamente, já tinha lido umas coisas. Por isso, a curiosidade e a vontade de conhecer a aldeia da Mata Pequena era grande. Não terei lá ido ter pelo melhor caminho, já que cheguei à aldeia por um estradão em terra batida – partidas que o GPS gosta de nos pregar de vez em quando… Bom, na verdade, foram só cerca de 1.200 metros num estradão em terra (em bom estado) entre Cheleiros, junto à margem do rio Lizandro, e a aldeia da Mata Pequena.


A aldeia da Mata Pequena parece saída de um filme de época. Apesar de tudo estar cenicamente muito bem combinado e de (quase) todos os cantinhos estarem bem arranjados e decorados com muito bom gosto, é um sítio que nos faz sentir bem, onde apetece estar e, acima de tudo, que nos faz sentir numa típica aldeia perdida no meio da serra.

Estive na Mata Pequena a meio da semana, numa tarde de muito calor e a tranquilidade reinava, o silêncio era absoluto e respirava-se ar puro. Apesar da calmaria, que certamente não acontece durante o fim de semana, notava-se que ali havia vida. Para além de alguns carros estacionados ao fundo da rua, havia roupa a secar no arame, um casal de idade avançada trabalhava a terra e algumas senhoras preparavam as casas para receber os próximos hóspedes. O café da aldeia (Tasquinha do Gil) estava encerrado mas ainda me cruzei e tive oportunidade de trocar algumas palavras de circunstância com dois homens bem vestidos que conversavam ao fundo da rua e com um casal que saiu de uma das casas da aldeia e abalou no seu automóvel.


Localizada na união das freguesias de Igreja Nova e Cheleiros, a pouco mais de meia hora de Lisboa e a nove quilómetros do centro da vila de Mafra, a aldeia da Mata Pequena é um pequeno povoado rural no topo de uma pequena elevação. A aldeia não tem mais do que duas dezenas de pequenas casas típicas dispostas ao longo da sua única rua, a rua das Buganvílias, e está perfeitamente integrada na paisagem que a rodeia.

A sua única rua conduz-nos a um pequeno largo onde existe um parque de estacionamento, um miradouro sobre o vale onde corre a ribeira da Mata, um lavadouro junto ao qual ainda se vê roupa a secar e umas alminhas. Este é local ideal para parar um pouco e observar o verde dos montes que circundam esta pequena aldeia. Eu deixei o carro à entrada da aldeia, mas pode percorrer os 150 metros da rua e estacionar aqui.

Muito bonitas e rústicas, as pequenas casas da aldeia são construídas em pedra com paredes caiadas de branco e faixas de cores garridas. Ao longo da rua repousam velhas bicicletas, carros de mão, utensílios agrícolas, jarros zincados e muitos pequenos detalhes finalizados com peças de cerâmica. Tudo disposto muito harmoniosamente e tudo muito fotogénico para encher o seu Instagram de belas fotografias que, certamente, não vai parar de tirar.


A história da Mata Pequena

A aldeia onde chegaram a viver cerca de 70 pessoas no decorrer do século XIX foi recentemente recuperada, mas a sua história e a da região é bastante antiga. A aldeia encontra-se enquadrada pela Zona de Protecção Especial do Penedo do Lexim (que fica a cerca de 1.500 metros) numa pequena elevação junto à ribeira de Cheleiros. Este local é uma importante estação arqueológica onde se ergue uma antiga, e já extinta, chaminé vulcânica (do complexo vulcânico de Lisboa) com cerca de 72 milhões de anos.

Este espaço terá sido habitado durante milénios. Aqui foram encontrados significativos vestígios que documentam essa ocupação durante diversos períodos desde o Neolítico (4000 anos a.C.) até à época Romana. A presença humana na aldeia da Mata Pequena é conhecida, precisamente, desde o período da ocupação Romana.


A reconstrução da aldeia

A aldeia da Mata Pequena foi praticamente recuperada das ruínas e reconstruida pelo casal Ana Partidário e Diogo Batalha que, há alguns anos, começou a adquirir e a recuperar algumas das pequenas casas da aldeia. O casal trocou a vida da cidade pela pacatez do campo numa aldeia “escondida” e semi-abandonada na região de Mafra. Não só resolveram recuperar a aldeia em ruínas, mas transformaram-na num exemplo vivo de recuperação e preservação do património arquitectónico de uma região. Hoje, graças ao projecto de Ana e Diogo é possível pernoitar e passar uns dias na aldeia. Mata Pequena conta com casas para alojamento local, mas também com residentes permanentes que aqui continuam a fazer a sua vida e a cultivar as suas hortas. Aqui ainda se pode experienciar a convivência com a natureza e com a terra, ainda se respira ar puro e vive-se uma pacatez e serenidade típicas de uma pequena aldeia (longe das grandes cidades).

Nota-se que houve um particular cuidado na recuperação da aldeia respeitando a sua traça original, mantendo a arquitectura tradicional e respeitando o passado do local. Utilizaram-se os materiais originais na (re)construção das casas e foram preservados os elementos tradicionais como os poços, capoeiras, fornos de lenha e, no seu interior, as casas mantêm a tradicional mobília de outros tempos aliadas às comodidades dos nossos dias.


Ficar alojado na Mata Pequena

Com as suas casinhas de alojamento local com tipologias de T1 a T3, a aldeia da Mata Pequena é um local perfeito para uns dias de repouso, sossego e relaxamento, mas também pode ser um “poiso” interessante para um destino de férias bem apelativo já que localidades como Mafra, Ericeira ou Sintra estão a menos de 20 minutos de carro.

Para além do Penedo do Lexim, à volta da aldeia da Mata Pequena é possível fazer passeios em plena comunhão com a natureza que permitem a descoberta de alguns cursos de água, azenhas e moinhos de vento. Recomendo uma visita à Burricadas - Abrigo do Jumento que para além de ser um centro de acolhimento para burros velhos, abandonados ou maltratados, tem como missão proteger e preservar o burro em Portugal. Fica a cerca de quatro quilómetros pela aldeia de Lexim.


Numa altura em que, por todo o país, se vão abandonando as pequenas aldeias e perdendo os seus usos, costumes e a arquitectura tradicional, a recuperação da aldeia da Mata Pequena deveria ser vista com um (bom) exemplo do que (ainda) é possível fazer pelas muitas aldeias espalhadas por Portugal.

Graças à recuperação desta aldeia, aqui, na Mata Pequena, ainda é possível viver em comunhão com a natureza, num espaço verde, agradável e fora da azáfama das grandes cidades. Não fosse a falta das “mordomias” essenciais aos dias de hoje (farmácia, supermercado, etc) e este seria o local ideal para se viver às portas de Lisboa.

Visitar a aldeia da Mata Pequena é fazer uma viagem no tempo, é o regresso às origens. A aldeia da Mata Pequena é um tesouro da região saloia.


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