Sou um (falso) “menino da cidade”. Nasci na grande cidade, trabalho na grande cidade e vivi durante muitos anos na grande cidade. Talvez, por isso mesmo, gosto muito de visitar e de conhecer as aldeias do meu país. Gosto do que é típico e tradicional, de conhecer os usos e os costumes. Gosto de saber a história do país e dos locais por onde passo. Gosto da vida calma do campo, da energia envolvente, do cheiro da terra, da (c)alma do interior. Gosto do lado mais verdadeiro da vida, aquele que sabe aproveitar o tempo.
A pouco mais de meia hora de Lisboa, sensivelmente a meio caminho entre a Ericeira e Mafra (EN 116), na pequena localidade de Sobreiro, na beira da estrada há um moinho que nos prende o olhar. É aqui a Aldeia Típica José Franco, um espaço incrível, cheio de história(s), saberes e tradições que hoje se encontram esquecidas. Ao sair do carro e entrar neste espaço (mágico) vai fazer uma viagem no tempo e na memória.
A Aldeia Típica José Franco é a recriação de uma tradicional aldeia saloia, de um tempo não muito distante. Um verdadeiro museu a céu aberto que faz as delícias de miúdos e graúdos.
Sobreiro, no início do século XX, era um importante centro oleiro e José Franco, um artífice da região, tinha um sonho: recriar uma aldeia típica da sua terra em tamanho natural, onde as suas memórias fossem recriadas. Assim, meteu mãos à obra e ao longo do tempo foi construindo aquele que seria o seu projecto de vida.
O espaço tem duas áreas distintas: uma zona com uma aldeia em miniatura movida a água – existe inclusivamente uma réplica em miniatura da Ericeira com os pescadores e as suas artes de pesca; e uma segunda zona com réplicas em tamanho natural da arquitectura das casas da região, lojas (talho, mercearia...) e antigas oficinas (sapateiro, alfaiate, barbeiro, carpinteiro, ferreiro...) decorados com objectos reais, mostrando assim, como se vivia em Mafra num tempo não muito distante. A Aldeia que dispõe de um amplo parque de estacionamento e de um parque infantil, tem uma padaria onde se pode comprar o famoso pão com chouriço, uma pequena adega, uma loja de olaria e um museu com peças da autoria do mestre José Franco. Ah!… e a entrada é gratuita.
José Franco (1920-2009) nasceu no seio de uma família humilde com 16 filhos; o pai era sapateiro e a sua mãe vendedeira de loiça de barro de porta em porta e em feiras. Vendia pratos, travessas, jarros, vasos e outras peças mais pequenas. José Franco desde muito cedo conviveu com o ofício que aprendeu com dois mestres locais. Aos 17 anos de idade começa a trabalhar por conta própria, recuperando a olaria que tinha pertencido ao seu avô.
O artista tinha um sonho que guardava desde muito novo: recriar uma aldeia em tamanho real, com lojas e casas que reproduzissem a arquitectura da região e que mostrasse o modo de vida das gentes locais bem como as antigas profissões. Assim, ao longo da sua vida, nos seus tempos livres, foi construindo a “sua aldeia”, um projecto de toda uma vida. Mas como o empenho e a dedicação eram grandes, a obra fez-se e ficou para as gerações seguintes. Como escreveu Fernando Pessoa “Deus quer, o homem sonha, a obra nasce”.
Ao longo da sua vida, José Franco sempre foi um filantropo, ajudando no desenvolvimento da sua terra. Foi um dos fundadores da Liga dos Amigos de Sobreiro, participou na construção da igreja e do lar da terceira idade que existe na localidade.
José Franco também se dedicou à arte sacra, tendo obras de sua autoria no Vaticano. Chegou mesmo a ser abençoado pelo Papa João Paulo II. Foi também condecorado com a comenda de Cavaleiro de São Tiago, pelo Presidente da República, Ramalho Eanes.
Hoje, o espaço criado por José Franco é visitado por milhares de pessoas, constituindo, não só um mostruário da obra do artista, mas também o recriar de uma aldeia típica da zona de Mafra. Visitar a Aldeia Típica de José Franco é fazer uma viagem no tempo, uma viagem mágica ao tempo dos nossos avós. Viajamos por histórias, memórias e tempos antigos. Revemos aqui muitas coisas que lemos em livros e relembramos muitas histórias contadas pelos nossos pais e avós. Uma (boa) recordação para os mais velhos e uma brincadeira (e aprendizagem) para os mais novos. Uma experiência única e inesquecível.
Coordenadas GPS:
N 30°57.58182’
W 9°21.22998’
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