Neste dia que celebramos os 50 anos sobre a Revolução de Abril, vamos conhecer um dos espaços que eu considero icónico sobre o 25 de Abril de 1974: a Casa da Cidadania Salgueiro Maia.
Na manhã daquele dia de Abril quando acordei o meu pai, que tinha ido trabalhar de madrugada, já tinha regressado a casa; ao chegar ao Cais do Sodré, encontrou militares na rua que lhe perguntaram o que andava ali a fazer tão cedo e mandaram-no voltar para casa. Lembro-me que naquele dia não fui à escola.
Percebi que os meus pais estavam assustados e não saímos à rua. Ficámos os três de ouvido colado ao rádio. Mais tarde, talvez a meio da tarde, um vizinho veio chamar-nos para irmos para a Avenida celebrar a Liberdade. Lembro-me perfeitamente de um mar de pessoas a celebrar o fim da maior ditadura da Europa e a chegada da Liberdade.
Este espaço, inaugurado em 2021, está localizado no interior do castelo da bonita vila de Castelo de Vide, no distrito de Portalegre, e resultou da conjugação de esforços entre o município daquela vila e da Direcção Regional de Cultura do Alentejo.
O espaço museológico acolhe várias peças que pertenceram a Salgueiro Maia, Capitão de Abril, natural de Castelo de Vide.
O espaço, agradável e muito bem aproveitado, apresenta cartazes, fotografias, vídeos, uma colecção de miniaturas de carros de combate - a especialidade deste oficial de cavalaria -, uniformes, armas, estandartes, insígnias, diplomas e diversos documentos militares.
Ali podemos ver o megafone com que intimou Marcelo Caetano a render-se, o uniforme e o “quico” militar que envergava nesse dia, bem como outros pertences obtidos ao longo da sua carreira militar.
Este é um espaço onde todos nós podemos aprender um pouco mais sobre o dia em que se pôs termo à maior ditadura da Europa e sobre Salgueiro Maia, um dos homens chave da Revolução de Abril.
Se se deslocar a Castelo de Vide, fique a saber que a evocação a Salgueiro Maia também é feita noutros espaços da vila. É o caso da casa onde viveu o Capitão de Abril (na zona antiga da vila), o largo Capitão Salgueiro Maia (junto à igreja) e o jardim junto às piscinas municipais onde está um busto de Salgueiro Maia e um veículo militar idêntico aos que teve oportunidade de conduzir.
O espaço museológico dispõe de uma auditório onde podemos assistir a um interessante documentário sobre a vida de Salgueiro Maia.
A Casa da Cidadania Salgueiro Maia tem o seguinte horário:
Verão (de 1 de Junho a 30 de Setembro): 9h15-12h45 , 15h15-17h45;
Inverno (de 1 de Outubro a 31 de Maio): 9h15-12h45, 14h15-16h45.
Encerra à segunda-feira.
Salgueiro Maia
Fernando José Salgueiro Maia (1944 -1992), natural de Castelo de Vide, foi um militar português e foi um dos Capitães de Abril. Salgueiro Maia ingressou na Academia Militar de Lisboa, em 1964, passando, de seguida, para a Escola Prática de Cavalaria de Santarém. Naquela instituição militar ascendeu a comandante de instrução e integrou uma companhia dos comandos na Guerra Colonial, em Moçambique (de 1967 a 1969) e na Guiné (de 1971 a 1973).
Salgueiro Maia participou nas reuniões clandestinas do Movimento das Forças Armadas (1973), integrando a sua Comissão Coordenadora. Depois do 16 de Março de 1974 e do Levantamento das Caldas, foi Salgueiro Maia quem, no dia 25 de Abril, comandou a coluna de blindados que, vinda de Santarém, montou cerco aos ministérios do Terreiro do Paço e, mais tarde, provocou a rendição do chefe do Governo no quartel do Carmo da GNR, onde estava refugiado Marcello Caetano.
A 25 de Novembro de 1975, Salgueiro Maia sai da Escola Prática de Cavalaria, comandando um grupo de carros às ordens do Presidente da República. Mais tarde foi transferido para os Açores, só voltando a Santarém em 1979, onde ficou a comandar o Presídio Militar. Em 1984 regressa à Escola Prática de Cavalaria.
Após o 25 de Abril, Salgueiro Maia mantém-se como membro do Movimento das Forças Armadas, mas recusa ser membro do Conselho da Revolução. Ao longo dos anos recusou ser adido militar numa embaixada à sua escolha, governador civil do Distrito de Santarém e pertencer à casa Militar da Presidência da República. Foi promovido a major em 1981 e, posteriormente, a tenente-coronel. Viria a licenciar-se em Ciências Políticas e Sociais, no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, em Lisboa.
Em 1983, recebe a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade; em 1992, a título póstumo, o grau de Grande-Oficial da Antiga e Muito Nobre Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito e, em 2007, a Medalha de Ouro da cidade de Santarém. A 25 de Abril de 2016, foi agraciado, também a título póstumo, pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, com a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique.
Em 1989, foi-lhe diagnosticada uma doença cancerosa que o vitimaria em 1992.
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