top of page
  • Foto do escritorJoão Pais

O Carnaval tradicional português


A origem dos festejos do Carnaval é incerta, mas esta festa popular terá surgido na Antiguidade para celebrar os deuses pagãos, a fertilidade e a mãe natureza. Acredita-se que tenha nascido na Grécia, por volta do ano 520 antes de Cristo.

A celebração do Entrudo – período que compreende os três dias que precedem a Quaresma e que deriva do latim introitu, que quer dizer início – estava relacionada com os cultos da fertilidade, no início da Primavera, celebrava-se o regresso dos dias de sol e da abundância agrícola. Os egípcios dedicavam a festa a Isis e a Apis, os gregos a Dionísio e os romanos a Saturno, protector da agricultura e das sementeiras. Era uma festa em que as pessoas se juntavam com a única intenção de se divertirem.

A festa do Entrudo foi reconhecida pela Igreja e incluída no calendário cristão depois de muitos séculos. Em 340, o Papa Júlio I autorizou que os cristãos pudessem despedir-se em grande dos prazeres da carne (em todos os sentidos…) antes da Quaresma. O nome Carnaval deriva da expressão italiana carne levare, que significa remover a carne, uma vez que esta é proibida durante a Quaresma.

A moda das máscaras terá surgido no século XIII, quando os nobres franceses começaram a promover grandes festas onde era obrigatório o uso de máscaras e de roupas luxuosas. Nos séculos XV e XVI, durante o Renascimento, em Itália, terão surgido os primeiros cortejos de rua. Desde então, o Carnaval é reconhecido como festa popular de rua que foi sofrendo uma série de modificações culturais até chegar aos dias de hoje, celebrando-se um pouco por todo o Mundo. Em Portugal, uma das épocas de maior projecção do Carnaval ocorreu durante o reinado de D. João V, com características palacianas e marcadas por um enorme luxo, graças ao ouro proveniente do Brasil.

Os festejos de Carnaval nacionais são, na sua maioria, “importações” do Brasil. No entanto, existem, ainda, alguns festejos de cariz mais tradicional. Estes festejos estão ligados a rituais ancestrais, figuras demoníacas e misteriosas e às máscaras – os caretos. Sempre em festas alegres e coloridas.




Entrudo Chocalheiro – Caretos de Podence

Podence é uma pequena aldeia no concelho de Macedo de Cavaleiros, já perto de Bragança. A aldeia está debruçada sobre a A4 com vista para a maravilhosa albufeira do Azibo e da sua excelente praia (voltaremos a falar dela aqui no blog quando o calor começar a apertar). Os Caretos de Podence são candidatos a Património Imaterial da Humanidade da Unesco.

Em meados do século passado a tradição esteve em risco de se perder, devido à Guerra Colonial de África e por causa da imigração. Actualmente, a aldeia conta com poucomais de 200 habitantes e, após algum esforço e dedicação a tradição foi recuperada. Hoje o Entrudo Chocalheiro e os Caretos de Podence não só são um legado importante mas também uma atracção turística importante para a região e para o país.

Os Caretos são seres mitológicos, seres mágicos, que nestes dias invadem e tomam conta da rua principal da aldeia para purificar e limpar os corpos do mal.

Dentro dos seus fatos quentes cobertos de franjas de cores garridas, onde o vermelho, o amarelo e o verde sobressaem, os Caretos, sempre homens, permanecem anónimos por detrás das máscaras de chapa (ou couro) - em geral pintadas de vermelho ou preto e com uma cruz na testa - protegidas por grandes capuzes de onde pendem enormes caudas. À cintura trazem cintos de couro com enormes chocalhos para chocalharem nas nádegas femininas – um ritual pagão cuja origem se perde no tempo.



No Carnaval de Podence tudo é improvisado e espontâneo. A festa consiste em grupos de Caretos acompanhados de gaiteiros a percorrerem a rua principal da aldeia que liga a igreja matriz (construída no final do século XVII e dedicada a Nossa Senhora da Purificação) e a entrada da aldeia onde fica a Casa do Careto (aproveitamento da antiga escola primária).

De chocalhos à cintura e vara na mão, os Caretos parecem ter o diabo no corpo. Correm, saltam, dançam, gritam, perseguem as mulheres e assustam os visitantes. Sempre que avistam uma mulher desprevenida, rapidamente poem-se ao lado dela e chocalham-na nas nádegas.

A festa termina com a queima do entrudo, um enorme Careto colocado em frente à Casa do Careto, à entrada da aldeia.



Entrudo de Lazarim

Lazarim é uma pequena vila serrana pertencente ao concelho de Lamego. Tem pouco mais de 500 habitantes e a sua igreja matriz, dedicada ao Arcanjo São Miguel, possui um fantástico e muito valioso tecto pintado, onde se representam anjos e arcanjos, entre outras figuras sacras. A vila apresenta ainda um novo e moderno Centro Interpretativo da Máscara Ibérica, no remodelado solar dos Viscondes de Lazarim, onde se investiga e divulga a máscara na sua vertente mais tradicional da celebração do Entrudo.

O Entrudo de Lazarim é conhecido essencialmente por ser um dos mais genuínos de Portugal e pelas suas máscaras esculpidas em madeira de amieiro. Aqui as máscaras são trabalhadas à mão por artistas locais – actualmente existem cerca de uma dúzia –, onde cada peça é única, cheia de originalidade e riquíssima em pormenores. Uma obra de arte! As máscaras de Lazarim também são candidatas a Património Imaterial da Humanidade da Unesco.

Diz a tradição que as máscaras têm que ser esculpidas à mão em troncos de amieiro. Existe todo um sortido de imagens fantásticas e misteriosas que vão de figuras de animais, reis, figuras mágicas ou demónios, quase sempre com grandes cornos.

As máscaras de Lazarim sendo de uma simplicidade quase grosseira, têm uma riqueza de pormenores e uma beleza própria que, certamente, estão ao nível do que de melhor se faz no nosso país em matéria de artesanato. Antigamente as máscaras eram coloridas, mas optou-se por manter a cor natural da madeira – uma maneira de manter as peças mais próximas das suas raízes.



No Entrudo de Lazarim, existe um desfile e um concurso de máscaras. Aqui, toda a gente, homem ou mulher, residente ou de fora, pode envergar uma máscara de madeira. A única exigência é que seja esculpida por um artista local. A máscara deve ser acompanhada por um fato condizente e quanto mais extravagante melhor. Podemos observar fatos feitos com materiais da terra que passam pela palha, barbas de milho, folhas de árvores, ramos de mimosas e adereços de moda como cabaças, cajados, enxadas e outras ferramentas agrícolas.

Mas este Entrudo não se fica por aqui. Outro ponto alto da festa, na terça-feira de Carnaval, é a leitura do Testamento do Compadre e da Comadre – versos de escarnio e mal dizer trocados entre jovens solteiros (rapazes e raparigas) da vila e arredores. Eles e elas redigirem os Testamentos onde nos contam todos os defeitos dos seus conterrâneos do sexo oposto, por vezes recorrendo ao sarcasmo e ao palavrão. Os versos são depois divulgados na praça central da vila.

No fim há um desfile de Caretos e são queimados os bonecos do Compadre e da Comadre e, numa das praças da vila, oferece-se feijoada e caldo de farinha aos visitantes, tudo cozinhado em panelas de três pernas em ferro fundido.

Dois exemplos de Carnaval popular, de cariz mais tradicional e que prometem encher as ruas das duas localidades de foliões carnavalescos.


0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Comments


bottom of page